Nova versão de acesso à gama do bem-sucedido Hyundai Kauai perde potência e capacidade da bateria (com 39 kWh, em vez de 64 kWh) para ganhar posicionamento de preço mais competitivo no segmento dos elétricos B-SUV. Primeira prova de fogo frente ao líder da categoria, o Peugeot e-2008.
A combinação da tração totalmente elétrica com o formato da moda (Sport Utility Vehicle) é determinante para o êxito da massificação da tecnologia que mais acelera a diminuição de consumos e emissões de escape, com a eliminação dos motores térmicos. Este movimento realizar-se-á de forma gradual, mas na Hyundai acontece a ritmo cada vez mais acelerado. E um dos grandes catalisadores da mudança do paradigma no seio do construtor coreano chama-se Kauai EV. Desde o seu lançamento, em 2018, o SUV elétrico superou todas as expectativas, com mais de 120 mil unidades vendidas em todo o mundo; mais de 53 mil na Europa.

Leão é concorrência feroz
Em Portugal, o Peugeot e-2008 é o B-SUV de emissões zero mais vendido (no acumulado do primeiro quadrimestre do ano, só Nissan Leaf e Tesla Model 3 fizeram mais novas matrículas), objetivo que o coreano tem, obviamente, também debaixo de olho, com a chegada de nova versão do Kauai EV, com menos bateria (39,2 kWh de capacidade, em vez de 64 kWh), para acionar motor que também diminui na potência, passando a debitar máximo de 136 cv, em vez de 204 cv, ficando mais acessível no preço. Alinhado com o crossover da Peugeot, com pack de baterias de 50 kWh, que também faz movimentar motor de 136 cv e que entrega a potência às rodas dianteiras, utilizável através de três modos de condução – Eco, Normal e Sport –, sendo que o fabricante anuncia autonomia máxima na ordem dos 320 km em ciclo WLTP, em modo Eco, com potência limitada a 82 cv.
Numa utilização mista, aproveitando as características do percurso para regenerar energia em andamento, em modo B (desaceleração de 1,2 m/s2; o modo normal desacelera 0,5 m/s2), percorremos 285 km antes de ser necessário colocar a bateria a carregar.

O Kauai EV vai um pouco mais longe, podendo percorrer redondos 300 km com uma só carga. E depois, carregar a sua bateria (mais pequena) de polímero de iões de lítio de 10 a 80 por cento demora apenas cerca de 47 minutos, usando um carregador rápido de Corrente Contínua (DC) de 100 kW. O modelo está equipado com carregador de bordo trifásico, permitindo tempos de carregamento significativamente mais curtos usando pontos de carregamento de Corrente Alternada (AC) trifásicos públicos, ou com uma Wall Box particular compatível em casa.
Na dinâmica, rápidas acelerações, desempenho despachado e suavidade ímpar durante a condução, quase sempre pautada pelo silêncio. As diferenças entre os dois modelos são aqui mais evidentes. Com aerodinâmica favorável (as linhas mais quadradonas da dianteira do Peugeot penalizam-no), o Kauai perde pontos no isolamento do habitáculo, sentindo-se muito o ruído de rolamento.

Nas prestações, jogo muito igual. O SUV coreano tem 395 Nm imediatamente disponíveis, mais 135 Nm do que o compacto da marca francesa. Suplemento energético que, sem ser exagerado, explica vantagem considerável nalgumas acelerações e retomas de velocidade no nosso protocolo de medições (e mais 5 km/h de velocidade máxima, limitada eletronicamente a 155 km/h). Mas, num e noutro elétrico, não vai faltar chispa.
Há, contudo, um problema, que está diretamente relacionado com esta energia imensa, que se torna altamente viciante: resistir ao chamamento de automóvel que acelera disparado como uma bala aos comandos do pedal da direita, ainda para mais sem prejuízo do meio ambiente… O Hyundai revela ainda algumas limitações em curva, sobretudo a velocidade mais elevada. Não que assuste, longe disso, mas não oferece aquele à-vontade que caracteriza habitualmente os compactos com tamanho poder de fogo. Mesmo se, para melhor disfarçar centro de gravidade que é bastante elevado, nesta versão, amortecedores e molas foram revistos para mais estabilidade, segurança e boa agilidade, sobretudo em trajetos urbanos, onde o SUV elétrico da Hyundai beneficia da direção de tato leve, com menos consistência informativa, mas ótimo diâmetro de viragem (10,6 metros).

O Peugeot e-2008, também não sendo um elétrico de raiz, parece-nos claramente automóvel mais equilibrado entre aquilo que promete e o que efetivamente consegue oferecer. Excluindo o ‘e’ na carroçaria, aparentemente nada distingue o EVdas demais propostas da gama do SUV, mas dispõe de elementos específicos nas ligações ao solo para lidar com o aumento considerável de peso do peso do conjunto (só na bateria: 365 kg), incluindo a adoção de uma barra Panhard no trem posterior.

E o mesmo no que toca à qualidade dos materiais utilizados, à qualidade de construção e ainda à ergonomia ou à facilidade de condução. Exatamente, como os primos a combustão, o elétrico da marca do leão move-se com agilidade em percursos urbanos e mantém rolamento contido da carroçaria em curva, demonstrando ainda amortecimento competente, com mais conforto e uma capacidade para processar as irregularidades do piso que o elétrico da Hyundai não tem.

Na primeira atualização relevante, o Kauai EV apresenta-se com uma nova grelha fechada, com um design mais homogéneo, mexidas que não alteram em quase nada as proporções do modelo, que é agora 25 milímetros mais longo. Há mais 5 cm em largura, medidos à altura dos ombros, no banco traseiro do carro coreano; o SUV francês oferece mais 2 cm no espaço para as pernas.
Nesta versão Premium, com preço de 36.500 € para clientes particulares (que fica em 33.000 € com recurso a solução de financiamento da marca; e os clientes empresariais somam os vários benefícios fiscais de aquisição de modelo 100% eletrificado) Hyundai com justa oferta de equipamentos, incluindo câmara traseira de ajuda ao estacionamento, rebatimento elétrico dos retrovisores, luzes de circulação diurna em LED, carregador indutivo para smartphone e navegação (some-se a garantia geral de 7 anos).

O Peugeot não acompanha a oferta de alarme e acesso mãos-livres; compensa com a oferta de Full LED e ótimos bancos, mais ergonómicos, e revestidos a pele e Alcantara.
O melhor elétrico não é o melhor carro. Ao percorrer 300 km com uma carga de bateria, o Kauai EV 39 KW fica, obviamente, melhor na fotografia do que o e-2008 (285 km), sempre mais gastador. Depois, não comprometendo na habitabilidade e na capacidade da bagageira, servindo também razoável compromisso entre conforto de rolamento e eficácia, com a oferta de programa de garantias referencial, o Hyundai consegue a vitória frente a rival que é... mais carro. O Peugeot, sempre mais divertido de conduzir, superior na dinâmica, na apresentação e na qualidade do seu interior.