Desde há muito que Skoda e Hyundai têm vindo a derrubar preconceitos e a evoluir como marcas generalistas, quer pela imagem, quer pela própria qualidade dos seus automóveis. Essa perceção é visível em vários segmentos, inclusive nalguns nichos em que nunca estiveram presentes, sendo a categoria dos B-SUV compactos preenchida pelos recentes Kamiq e Kauai, respetivamente.

Os nomes são invulgares: Kauai é relativo a ilha no Havai e Kamiq tem origem no dialeto do povo esquimó Inuit (norte do Canadá e Gronelândia), significando algo que se encaixa na perfeição. Vejamos se é assim.

Ambos têm dimensões exteriores parecidas e formato «crossover», pelo que não se estranha a equivalência das cotas internas, mesmo que o Kamiq seja um nadinha mais amplo em todas as direções e tenha mais centímetros nalguns pontos essenciais, como na altura ao teto, inclusive na 2.ª fila, e na distância atrás até aos encostos da frente. A área de bagagens também é maior (400 litros contra 374 litros) e prática de utilizar, mesmo que não haja abertura automática do portão na versão testada, opcional a ter em conta (355 €) devido ao inerente peso. Já agora, valerá a pena.

O Skoda destaca-se pelo interior moderno e de aparência cuidada (forros e materiais), por contraponto ao rival, este mais minimalista e simples, embora o «restyling» operado este ano (nova grelha e outras óticas, por exemplo) também tenha inscrito vários melhoramentos, agregando até alguns equipamentos especiais, mesmo que a versão em causa (Premium MY21) não se aproxime sequer da bem equipada Style do oponente.

As diferenças são flagrantes, embora isso também se reflita nos preços: desde 22.780 € no caso do Kauai (transmissão manual) e a partir de 29.054 € para o Kamiq Style com caixa DSG. Feitas as contas: menos 6274 € para o modelo sul-coreano (talvez dê para ir ao Havai…), e isto apesar do equipamento completo: direção com assistência elétrica, ar condicionado, sistema de som Krell (oito altifalantes), chave inteligente (mãos-livres/botão de ignição), faróis dianteiros e traseiros LED, banco do condutor com ajuste elétrico do apoio lombar (restantes manuais), luzes de circulação diurna LED, carroçaria a dois tons, retrovisores com regulação elétrica, cruise-control, vidros elétricos, barras no tejadilho e jantes em liga leve de 18’’, estas associadas a pneus Continental Premium Contact6. O único opcional é a pintura metalizada: 430 €.

O painel digital de instrumentos é novidade, assim como o ecrã tátil de 10,25’’ (SuperVision Cluster), a cores, no topo do tablier, onde se controlam as funções de bordo e da navegação, esta última de série. Os bancos são em tecido (rebatimento assimétrico atrás, tal como no adversário, ambos 60:40), mas o volante e o punho do seletor são forrados a pele.

Nas assistências destacam-se o aviso de transposição de faixa de rodagem (correção incluída) e o alerta de fadiga do condutor, além do controlo do arranque em subida e a travagem ativa de urgência. Ainda na segurança: câmara de parque atrás, sensores acústicos à frente e atrás, além de aviso do arranque do veículo que está à nossa frente, após o semáforo passar a verde, por exemplo. Invulgar no segmento é o alerta da presença ou não de passageiros nos bancos traseiros – no exato momento em que se retira a chave da ignição –, evitando-se assim os esquecimentos que se veem nos noticiários…

A lista do equipamento do Kamiq é mais alargada, com destaque para vários elementos exclusivos, tais como o tejadilho panorâmico em vidro (por 930 €, com cortina automática) e o «pack» opcional Dynamic (380 €), que acrescenta bancos desportivos (tecido Suedia), pedais em alumínio e volante multifunções, além de inserções decorativas Silver Haptic.

No conteúdo «standard» está incluído o ar condicionado Climatronic (com filtro Air Care), Cockpit virtual (ecrã de 10,25’’ com vários «layouts»), navegação Amundsen (ecrã de 9,2''), faróis Full-LED, sistema Keyless Go (mãos-livres), barras no tejadilho, vidros laterais e traseiro escurecidos e jantes em liga leve de 17’’. Na segurança engloba-se a assistência de manutenção na faixa de rodagem, Hill-Hold, controlo automático de máximos, câmara traseira, cruise-control, travagem ativa de emergência e sensores de parque. 

Há ainda outros opcionais na unidade testada: faróis LED Matrix (950 €), volante com patilhas da caixa DSG (220 €), jantes Propus Aero de 17’’ (205 €, escurecidas), pintura metalizada (515 €), reconhecimento dos sinais de trânsito (45 €), carregamento de smartphone por indução (305 €) e sistema Drive Mode Select (110 €). Feitas as contas, somatório total de 32.390 €, um valor muito difícil de se comparar com o preço proposto pelo Hyundai.

Motores de três cilindros

O Kauai foi lançado em 2017 (renovação em 2021), enquanto o Kamiq surgiu no mercado em 2019, recorrendo à mesma base dos VW T-Cross e Seat Arona. Essa diferença faz… diferença, até porque a gama Skoda é mais diversificada do que a da concorrência, inclusive nas motorizações.

No Kamiq, o conhecido bloco 1.0 TSI de três cilindros de 110 cv está encaixado com a transmissão DSG (dupla embraiagem) de sete velocidades e, só por aí, a diferença face ao Hyundai é substancial, este último com unidade de três cilindros de injeção direta, de maior potência (120 cv), é certo, mas com binário inferior e caixa manual de seis velocidades.

As prestações são favoráveis ao Kamiq em toda a linha, atingindo melhores acelerações e recuperações mais fortes do que o adversário, também por causa da gestão da caixa DSG, mesmo que esta tenha certas hesitações a baixa rotação, operando depois com rapidez nas transições a partir dos regimes médios. É possível aceder a comando sequencial da DSG através das patilhas no volante ou no seletor, conjugando-se essa ação com vários modos de condução (Drive Mode Select: Eco, Normal, Sport e Individual), num contexto mais avançado face ao Hyundai.

A baixa rotação, a resposta do pequeno 1.0 T-GDI do Kauai não surpreende, faltando-lhe até uma certa vivacidade, mas à medida que se apura o regime a atitude é mais despachada, tendo a transmissão um escalonamento longo nas últimas relações para favorecer o consumo. A média mais habitual é de 6,4 litros por cada 100 km, curiosamente um valor igual ao que é obtido no Kamiq, embora este possa ter registos alternativos consoante o modo de condução escolhido: de 5,9 a 7,3 l/100 km, por exemplo. Ambos têm autonomias muito alargadas: de 700 a 800 quilómetros, tendo em conta a capacidade dos depósitos (50 litros).

Dinâmicas à prova

A condução do Skoda deve ser elogiada, numa ligação eficaz à estrada, mesmo que o modo Sport não seja assim tão… desportivo, influenciando a assistência da direção, é verdade, mas sem autorizar uma maior precisão. E é pena que seja assim, reduzindo o ímpeto voluntarioso do motor TSI.

O conjunto chassis/suspensão não está sequer afinado para grandes correrias, antes para uma dinâmica estável, sem contratempos. Se se entrar depressa nas curvas apertadas, a carroçaria adorna com facilidade e os controlos de tração/estabilidade aparecem de imediato. O amortecimento brando e os pneus Goodyear Efficient Grip Performance (205/55 R17) são mais tolerantes na avaliação do conforto, um parâmetro com nota acima da do adversário. Os bancos desportivos têm ainda uma melhor sustentação com apoios laterais pronunciados (encostos de cabeça integrados), o que também constitui uma diferença assinalável face ao opositor.

Resta dizer que o Kauai se conduz com agrado, tendo reações estáveis e… confortáveis, sem evasivas, embora a suspensão seja firme e determine reações secas nos asfaltos irregulares. Com pneus Continental Premium Contact6 (medidas 235/45 R18), as rodas de maior dimensão contribuem para essa eficácia dinâmica e a altura ao solo é menos notada em curva do que no caso do adversário, embora o ruído de rolamento também seja superior. A posição de condução não é tão elevada, mas está bem centrada, apesar da reduzida amplitude dos ajustes do banco e do volante.

Prós e contras

É inegável que o Kamiq sugere outra envolvência e tem outros trunfos, tratando-se de um automóvel mais moderno, mais confortável e com outras mordomias, embora o custo final seja completamente diferente do adversário. E é nesse contexto – entre inimigos tão naturais –, que se poderá fazer a escolha mais acertada ou a mais… seletiva, sem esquecer que o Hyundai é apoiado por uma garantia geral de sete anos sem limite de quilómetros. Entre prós e contras, a decisão nem sempre é fácil, apesar das flagrantes evidências.