Não tardará muito para que os modelos 100% elétricos invadam todo o território (ou quase) da paisagem automóvel na Europa. Mégane E-Tech e Cupra Born são propostas-pioneiras desse novo mundo, que se pretende mais ecológico, eficiente e silencioso...
Nesta fase de transição, Mégane E-Tech e Cupra Born antecipam a verdadeira revolução que se aproxima a passos muito rápidos. Valerá a pena pensar nisto: daqui a oito anos, na Europa, só será possível comprar um novo modelo da Renault exclusivamente elétrico. Nem mais! Uma marca generalista, tão popular, apenas proporá veículos dessa matriz, estando previsto o lançamento de dez novos EV num curto prazo de três anos.
A Cupra, por sua vez, até por se tratar de uma marca recente, seguirá também esse itinerário e as novas gerações de modelos passarão a ser totalmente eletrificadas. Não há volta atrás e a lógica dos construtores e dos grandes investimentos está a ser projetada para esse único objetivo: invasão elétrica. Não é estranho, por isso, que a geração nova do Mégane – 15 cm mais curto do que o anterior, mas com mais 3 cm entre eixos, além de um centro de gravidade mais baixo: 90 mm –, só surja com motorizações elétricas, usufruindo do recurso à plataforma CMF-EV (partilhada pela Aliança Renault/Nissan/Mitsubishi).
A unidade testada (EV60) recorre à bateria de 60 kWh (há outra de 40 kWh) e à derivação, para já, mais potente (220 cv), sendo possível atingir uma autonomia efetiva próxima dos 400-420 km, neste caso pouco diferente do valor anunciado (de 427 a 454 km), ligeiramente superior à da do adversário, embora o Born também tenha uma bateria equivalente, com uma capacidade útil de 58 kW, conjugada com um motor de potência pouco inferior: 204 cv (menos 16 cv). Os resultados não são muito desiguais, é verdade, embora haja outras vantagens do Mégane, tratando-se de um hatchbach de 5 portas melhor posicionado no segmento dos familiares-médios (C), existindo até a perceção de que o Born, por analogia, seja mais Ibiza do que Leon (da Seat), apesar da base comum à da do ID.3 da VW, também este mais Polo do que Golf. É o que parece!

Sensações à parte, a métrica dos números confirma que o tamanho do Renault não é maior por fora, mesmo que se torne mais versátil lá dentro, devido a alguns fatores (fundo plano, teto elevado e centro de gravidade baixo), apesar do Cupra conseguir alguns centímetros a mais na largura da 2.ª fila, esta com assentos elevados. No resto, as medidas são quase iguais, apesar da sensação de maior amplitude do Renault, cujo piso atrás também está num plano elevado, prejudicial para encaixar melhor os pés. Em ambos, a distância até aos encostos da frente é bem razoável para os joelhos.
O habitáculo do Born integra detalhes elegantes, visíveis no design, no ambiente da iluminação e nos monitores digitais, por exemplo, assim como nos materiais, tecidos e cores escolhidas, tendo mais equipamentos do que no caso do adversário. E isso pode contar, ao mesmo tempo que também dispõe de mordomias tecnológicas pouco vulgares para o segmento, embora isso também suceda no rival.
No Cupra é possível destacar o Head-up Display com projeção do tipo 3D (aumentada) de vários dados no vidro do para-brisas, inclusive das próprias assistências à condução, tais como a advertência de saída de faixa (aviso com tracejado amarelo) e do cruise-control ativo, este com ajuste da distância até ao carro da frente, abrandando ou retomando a velocidade programada (ativa no volante). No opositor destaca-se o pack opcional advanced Driving Assist (por 1250 €), que acumula o cruise-control adaptativo, sensores de parque à frente e atrás, alerta de ângulo morto e aviso de saída de faixa com intervenção corretiva automática.

A atmosfera interna do Mégane também é original, apesar de alguns plásticos e forros de menor qualidade aparente, sobressaindo o monitor vertical (12’’) no tablier/consola, o qual opera todas as funções essenciais, numa versão que está bem equipada (techno), mas que se encontra uns furos abaixo da do Born. E isso reflete-se nos preços finais, existindo uma diferença de 6082 € a favor do Renault, a qual também se deve ao valor das opções (8285 €) presentes no Cupra: baquets Dinamica, teto panorâmico (vidro) e jantes especiais de 20’’, por exemplo.
Dinâmica e prestações
Com imagem mais desportiva, o Born permite uma condução ágil e muito limpa, sem sobressaltos, tendo ótimas prestações, equivalentes às do mais potente Mégane (ver ficha), mesmo que nenhum deles seja um verdadeiro GTI, ambos com a mesma velocidade máxima anunciada: 160 km/h – na verdade, um bocadinho mais ao nível do que é projetado no velocímetro. As reações do Mégane são mais intensas no modo Sport, aí com acelerações e reprises fortes, sentindo-se de imediato o débito da energia e um ímpeto que o Born não atinge, mesmo no similar modo Performance, também este a propor maior sensibilidade do acelerador e uma condução mais apressada.

Os valores de binário são semelhantes (310 e 300 Nm) e essa entrega é feita sem atrasos, como é comum nos elétricos, sem que haja dificuldade ao nível dos eixos de tração e das ligações ao solo – pneus 215/45 R20, Goodyear no Mégane e Continental no Born.
Tanto num caso como noutro, os amortecimentos são firmes – sem ajustes –, inclusive com reações secas nos maus pisos, mas isso não afeta o conforto em termos gerais, graças à boa capacidade e à arquitetura das suspensões (multibraços atrás).
As propulsões são silenciosas e, por isso, escutam-se melhor outros ruídos, mas dever-se-ão elogiar o conforto/isolamento acústico e o baixo ruído de rolamento de ambos.
No Renault, a tração à frente é mais castigada nas acelerações à bruta e no modo Sport, com previsíveis tendências de subviragem, normalizadas pelo ESP. Pena que a direção não ganhe aí maior precisão. No Cupra, os efeitos da tração atrás são (mais) neutrais e a resposta da assistência da direção é progressiva.
Ambos têm modos ECO, mas a maior capacidade de regeneração do Mégane permite-lhe obter consumos inferiores – e mais autonomia –, com médias a partir de 13 kWh/100 km em condições favoráveis. Para recarregar (AC e/ou DC), tempos de espera quase iguais.
Born e Mégane E-Tech prefiguram o pioneirismo do conceito puramente elétrico associado ao automóvel, atingindo ambos os objetivos delineados, mesmo que os preços (ainda) sejam exagerados. Ótimas soluções para o dia-a-dia e não só, tendo em conta as autonomias, prestações/condução e conforto. Entre prós e contras, mais pontos para o Mégane.