Automóvel que extravasa o conceito de versatilidade, harmonizando as características de um espaçoso familiar com as prestações de um desportivo, o Octavia RS tem na capacidade de se transfigurar a sua principal virtude.
Ilusionista é aquele que por meio de habilidades e truques faz o espetador acreditar em algo que não corresponde à realidade. Se fosse um automóvel seria o Octavia RS, automóvel de imagem sóbria, conservadora até, e com quase tudo o que poderá agradar a chefes de família com filhos (talvez sem a parte dos consumos moderados e preço acessível…), mas que é afinal um velocista capaz de oferecer empolgantes momentos de condução desportiva.
Esta compatibilidade deve-se às generosas cotas de habitabilidade e bagageira ampla inatas do Octavia, um dos mais espaçosos concorrentes do segmento dos familiares compactos (C), a que se soma a boa dotação de equipamento de conforto e segurança que é tradição das versões de topo de gama do fabricante checo, com as performances elevadas proporcionadas por um potente motor a gasolina. Nada menos que o 2.0 TSI com 245 cv do VW Golf GTI, de que também herda o diferencial ativo no eixo dianteiro motriz com função preditiva.

A tração mantém-se só às rodas da frente, entregue via caixa automática DSG de sete velocidades que executa as trocas perto das 6500 rpm, ainda que o red-line surja um pouco mais acima. Em modo automático, as trocas são de uma rapidez e suavidade exemplar, mas as passagens podem ser feitas manualmente através das patilhas colocadas no volante, conferindo sempre sonoridade expressiva às reduções bruscas. Qualidades que, obviamente, não revertem a favor dos desejos de poupança...
Temperamento bipolar
Variando os modos de condução, o Octavia RS mostra-nos facetas distintas. No programa Eco, o ilusionista faz-se se passar por familiar preocupado com a economia, que mal se ouve acelerar e até obriga a esmagar o pedal da direita para ultrapassar com rapidez; a Skoda anuncia 6,8 l/100 km, mas os gastos estabelecem-se em torno dos 8 litros numa utilização em condições normais de utilização cidade/estrada e autoestrada. Depois, há neste RS a capacidade de se transfigurar através do programa Performance Mode Seletion (de série) em que se modifica o funcionamento de órgãos vitais ao desempenho do automóvel como a transmissão, a direção, o autoblocante eletrónico e o motor. O desenvolvimento da mecânica de 2 litros (por exemplo, na circulação dos gases de escape e no incremento da pressão de injeção da gasolina), não lhe acrescentou potência e binário, mas tornou-o mais redondo, com enorme vivacidade logo nos regimes mais baixos, para o que contribuem os 370 Nm logo a partir das 1600 rpm, atingindo grande fogosidade nas faixas médias de funcionamento – aquele binário máximo até às 4500 rpm –, e mantém-na até bem perto do auge da potência de 245 cv, que são mantidos entre as 5000 e as 6000 rpm, para permitir acelerações fulgurantes até ao corte. Provam-no os 6,9 segundos medidos de 0 a 100 km/h, e também as enérgicas recuperações de velocidade: menos de 3 segundos para cumprir 40-80 km/h ou 60-100 km/h. Claro, puxando pelos cavalos, o consumo dispara...

Cavalos de corrida
A acompanhar o desempenho do motor, que honra os pergaminhos da sigla desportiva RS, o rol de atributos continua no comportamento dinâmico, com méritos desde logo para o chassis e para o amortecimento com acrescida firmeza, corretamente ajustado para restringir, ao mínimo, os movimentos da carroçaria em curva. A suspensão desportiva de série com amortecedores passivos (sistema variável DCC com 15 posições é opcional), rebaixa a carroçaria em 15 mm em comparação com a restante gama Octavia, e dispõe de eixo dianteiro com estrutura McPherson com triângulos inferiores e braços modificados, e o traseiro multibraços desenvolvido para esta plataforma modular MQB Evo partilhada com VW Golf, Audi A3, entre outros.
A direção tem assistência competente que a torna precisa e comunicativa e a lista prossegue com a travagem forte e eficiente assegurada por conjunto com discos de maior diâmetro (340 mm à frente e 310 mm atrás), para imobilizações muito estáveis: de 100 a 0 km/h em 35,5 metros!
Dinamicamente, não é um GTI, com a diferença de peso e porte a sentir-se não só na direção, também nas trocas de apoios mais lentas, mas as reações, típicas de um tração à frente com tão grande potência, são sempre progressivas e, mais importante, controladas. Por exemplo, na comparação com o PHEV, o Octavia RS a octanas sobressai mesmo conduzido no limite, com precisão que parece cirúrgica face ao híbrido, que é automóvel com os mesmos 245 cv (não estão sempre disponíveis...), mas muito menos incisivo na abordagem à curva e rápido.

Nos equipamentos, destaque para o sistema de infoentretenimento avançado com recurso a ecrã tátil de 10”, em combinação com painel de instrumentos que também é digital, com 10.25”, e personalizável ao gosto do condutor, mais ou menos racing.
Mestre da ilusão e da versatilidade, o Octavia RS 2.0 TSI é a verdadeira proposta desportiva na gama do compacto da Skoda. Debaixo da máscara de berlina tradicional, competente e talhada para os afazeres familiares, com conforto e espaço a rodos no seu interior, está afinal máquina de condução capaz de prestações e desempenho desportivos, sem extremismos. Difícil encontrar compromisso mais equilibrado por preço até 50.000 euros, já com completa dotação de equipamentos de conforto e segurança.
Preço (fevereiro 2023):
Skoda Octavia RS 2.0 TSI DSG - 48.149 €