Talvez não haja hipótese de retrocesso no atual declínio das vendas dos modelos Diesel. E é bastante provável que o mercado só possa reagir (ou não!) de forma contrária daqui a alguns anos. De momento, o ciclo é adverso face à diabolização do Diesel e ao empurrão dado pela indústria a outros tipos de propulsores (gasolina, híbridos plug-in e elétricos, por exemplo), embora as mecânicas Diesel convencionais não sejam colocadas de parte para certas categorias. O segmento médio-familiar é exemplo disso, não se tratando de uma simples teimosia tecnológica, mas antes de uma aposta tática em motores que dispõem de vários trunfos, inclusive de baixas emissões. Ou seja, face à eficiência demonstrada e mediante as prestações mensuráveis, não há como dizer... não! Ou, pelo menos, é impossível não valorizar esses aspetos, apesar do contexto menos favorável.
Os modelos em análise encaixam-se nessa perspetiva, ambos com mecânicas Diesel evoluídas e de potência igual (120 cv), tendo binários máximos equivalentes (300 Nm), algo que se percebe ao nível do desempenho, essencialmente nas acelerações e nas principais retomas de velocidade. Em suma, a condução é despachada e operada sem esforço, a par de resposta progressiva desde baixo regime, numa matriz que é sublinhada pelo recurso a injeção direta common-rail e a turbos de geometria variável. Num caso como noutro é possível aceder a diferentes programas de condução; no Civic, por exemplo, ao desativar-se o efeito ECO (por tecla na consola), o modo Normal tem uma resposta mais apressada, enquanto no Focus se poderá optar por três patamares: Normal, ECO ou Sport, neste último caso mais expedito, embora sem atitudes exageradas. Nota-se melhor a força do bloco 1.5 TDCi, é certo, mas o ruído de funcionamento também é superior ao i-DTEC da Honda, tanto mais que a insonorização do Civic parece estar uns furos acima, graças à solidez da estrutura e à construção exemplar, algo que é habitual nos automóveis da marca. Essa avaliação não menoriza o modelo da Ford, já que este também assegura uma qualidade referencial, inclusive na montagem, forros e revestimentos aplicados. A este nível, análise quase equivalente, apesar da vantagem do Honda nalguns pormenores melhor finalizados, embora a decoração interior do Focus até seja mais moderna e menos austera.
O equipamento standard alinha pela mesma bitola, aqui e ali com diferenças, sendo a mais evidente a que diz respeito ao forro em pele (de série) dos bancos do Civic na versão Executive, item opcional no rival. No entanto, a lista de opções do Focus destaca-se por ter pack acessíveis e dispositivos de segurança e de conforto avançados, além de detalhes exclusivos da versão ST-Line. Outro dado a que é impossível escapar diz respeito à promoção em vigor de 4200 €, desconto feito à cabeça, que coloca o preço do Focus entre os mais competitivos da categoria, se não mesmo entre os mais baixos da classe. Face a isso, a gama Civic contrapõe com a garantia mecânica de 5 anos sem limite de quilómetros (em vez dos normais 2 anos) e a imagem de fiabilidade que sempre lhe é apontada...
Na condução, entretanto, este Civic também não permite quaisquer falhas: é seguro, bastante neutro e confortável, mesmo se se contar com a maior dureza dos Michelin Primacy 3 (235/45 ZR 17) e a regulação firme (por tecla na consola) do amortecimento. Sem exagero! O chassis é sólido e guiá-lo inspira confiança, tendo uma direção precisa q.b., embora pudesse ser mais rápida. Em suma, faz tudo bem e é eficaz, algo que se impõe num familiar em que não há falta de espaço (por dentro é maior do que o Focus, quer à frente, quer atrás) e cuja área de bagagens é ampla. Tudo certo! Ou quase: a dimensão do volante é demasiado grande, o design interior (mais digital) não é muito atrativo e os menús/ícones do computador de bordo são encrencados. No Focus, a informação do sistema SYNC 3 (ecrã de 8’’) é, por vezes, mais lenta do que o desejável, enquanto o grafismo da instrumentação não é perfeito devido a ícones pequenos e atalhos difíceis.
Maiores virtudes da dinâmica do Focus, apesar da suspensão seca e da firmeza em piso irregular (Michelin Pilot Sport3 235/40 ZR18), tendo uma grandíssima condução e uma eficácia em toda a linha. A direção é precisa e melhor do que a do Civic e o seletor da caixa exibe outra rapidez. Ágil, direto e de controlo fácil! Nota-se o empurrão do modo Sport, mas aí os consumos progridem, acima dos do Civic, este com médias mais ponderadas entre 4,8/5,4 l/100 km. Há ir e voltar...
É provável que não seja possível remar contra a maré, mas as propostas a jogo têm méritos bastante credíveis, tais como o baixo consumo e as reduzidas emissões de C02. Para que conste! Em ambas, a vibração inerente à natureza Diesel está atenuada e o funcionamento não é nada ruidoso. Depois, as prestações também convencem, tratando-se de familiares agradáveis de conduzir, seguros e confortáveis. No fim, o Civic ultrapassa o Focus por pouco...