No momento atual do setor automóvel, incontrolável febre dos SUV, que contagiou quase todas as categorias do mercado. O surto teve origem, há uns anitos, quando a Nissan democra tizou o conceito com a 1.ª geração de uma doença chamada Qashqai, direta ao coração do importantíssimo segmento-médio inferior (C). Daí à miniaturização do formato foi um passo. E o facto de passarem a existir mais compactos, e ainda mais, à medida da utilização urbana e das carteiras, facilitou mais o acesso à categoria.
A Lexus é a estreia mais recente entre os crossovers compactos, com o UX, apontando baterias para outros semelhantes da raça premium, caso do BMW X2, o rival de ocasião neste duelo, que também confronta motorizações de tipo diferente.
Diesel ou híbrido a gasolina?
No BMW, motor a gasóleo de méritos provados, tanto em performances puras, com elasticidade e consistência desde os regimes inferiores e em quase toda a faixa do seu funcionamento – refletidas nos cerca de 9 segundos de 0-100 km/h e 207 km/h de velocidade máxima –, como em eficiência no consumo de combustível. Nesta versão com tração apenas dianteira (sem o lastro do sistema xDrive), o SUV da BMW é um automóvel rápido na medida em que o rácio peso/potência lhe permite. Mais, é bastante poupado: apurámos 6 l/100 km durante a realização do nosso teste, um valor muito interessante para tudo o que este X2 é capaz em matéria de performances. Apesar de ter variante mais modesta do 2 litros a gasóleo da BMW, com 150 cv…
Do outro lado da barricada, equipando o UX 250h, a variante otimizada do 2.0 Hybrid da geração nova do Toyota Corolla. O sistema associa 2.0 a gasolina (152 cv) a motor elétrico (109 cv) e caixa automática de variação contínua, com funcionamento muito melhorado – perdeu- se, finalmente, a sensação de falta de relação entre o regime de rotação do motor e a velocidade do automóvel, que não só originava desconforto, como irritava os condutores. Complementarmente, em patilhas no volante ou deslocando o seletor para a esquerda, para a posição «S», possibilidade de atuar, diretamente, na capacidade de retenção do motor, para uma sensação de passagem de caixa semelhante à de uma transmissão manual.
O rendimento total do sistema é de 184 cv, mas a eficiência impressiona mais do que as performances, que não representam o nível de potência.
Ainda assim, no duelo particular com o BMW, vantagem do Lexus nas acelerações, que vence, e com vantagem significativa, todos os parâmetros analisados. Contudo, nas retomas, o X2 sDrive 18d parece fazer mais pela vida, mostrando- se automóvel especialmente despachado em dois dos registos (40-80 km/h e 60-100 km/h). A secundar a mecânica Diesel do BMW está caixa manual de seis velocidades, associação que está bem conseguida (e bem escalonada), sendo um bom dispositivo, mas já nada substitui uma caixa automática, sobretudo se essa caixa for a ótima transmissão automática de 8 velocidades da marca da Baviera. O modelo alemão leva a melhor na avaliação à velocidade máxima, com 207 km/h contra 177 km/h do Toyota.
O módulo híbrido do UX está pensado para proteção máxima da carga nas baterias, que possibilitam que se role com alguma à vontade apenas e só em modo elétrico (até 115 km/h, desde que haja carga nas baterias), o que, acima de tudo, permite manter o motor a combustão desligado durante bastante tempo, com este a calar-se assim que se retira o pé do acelerador. Assim, consumos bastante frugais, como o prova a média de 5,6 litros a cada 100 quilómetros que apurámos.
Comercialmente, UX na base da gama de SUV da Lexus, abaixo do NX e do RX. O compacto com 4,49 m, 5 portas e 5 lugares privilegia mais do que o normal a dinâmica na condução, aproximando-se do comportamento das berlinas e distanciando- se q.b. do comportamento tão típico do formato, sobretudo em curva, por não apresentar quaisquer fragilidades importantes nas transferências de massa – logo, sem rolamentos da carroçaria penalizadores para a agilidade e a segurança! – e dispor de direção suficientemente direta, precisa e rápida, além de centro de gravidade (muito!) mais baixo do que o normal. Arriscamos mesmo dizer que é dos modelos mais dinâmicos e agradáveis de conduzir da Lexus, só não conseguimos arrancar-lhe atitudes desportivas, como as experimentadas ao volante do modelo da BMW.
O carro bávaro destaca-se ao fazer jus aos pergaminhos dinâmicos da marca alemã, com base técnica de competência validada e suspensões independentes que asseguram uma relação bastante equilibrada entre dinamismo e conforto, mesmo com afinação mola- -amortecedor desportiva, mais firme, privilegiando a eficácia em curva através da restrição dos movimentos da carroçaria. Se a isto justarmos direção com mais peso e com melhor feeling, não é complicado perceber que o desempenho dinâmico é claramente mais assertivo do que o do UX. E mais motor houvesse...
Os cerca de 10 cm que tem a mais em comprimento não fazem do Lexus automóvel claramente mais matulão. Desde logo, porque as linhas bem musculadas do BMW enchem mais o olho. E, depois, porque no automóvel bávaro há melhor aproveitamento das cotas interiores: atrás existem mais 3 cm livres para as pernas dos passageiros (70 cm contra 67). E no banco traseiro do Lexus é mais evidente que a lotação ideal é para apenas dois ocupantes, não pela intromissão de túnel central no chão (quase ausente), mas pela reduzida largura do habitáculo, com não mais que 1,31 m entre portas (137 cm no BMW X2). Acanhado é também o compartimento de carga do modelo japonês, com 320 litros de volumetria útil, menos 150 litros (!) do que no BMW, que é diferença enorme se colocados em primeiro plano os requisitos familiares. Sob o piso do UX existe alçapão e com o rebatimento das costas do banco traseiro (em tradicionais 60/40) obtém-se piso plano.
Por outro lado, o posicionamento premium explica a qualidade acima da média, que o BMW também tem...
Dinamicamente, a suspensão do BMW X2 oferece elogiável compromisso entre eficácia e conforto, mas são os muitos momentos de condução possíveis em modo EV que tornam a experiência ao volante do Lexus num exercício mais requintado e confortável. E também é o módulo híbrido do UX250h que garante prestações de melhor nível. Porém, contas feitas, vence... o Diesel, não pelas credenciais excecionais da mecânica com 2 litros que o carro alemão tem sob o capot, mas pelo maior equilíbrio geral: é mais espaçoso e tem mala maior, dinamicamente mais envolvente e desportivo, somando vantagem no preço.