Não são assim tantos os agregados familiares de sete elementos em Portugal e talvez menos ainda os que têm necessidade de partilhar diariamente no mesmo automóvel. Serão muitas mais as famílias a que, por vezes, fazem falta dois lugares suplementares para levar os avós, os sogros, os tios ou os amigos dos filhos. Nestas situações em que a lotação do veículo vai esgotada são as crianças que se remetem (quase sempre por vontade própria) para a terceira fila de bancos, de dois lugares bastante menos espaçosos e de acesso mais difícil.
Peugeot 5008 e Seat Tarraco não são exceção à regra. Todavia, no segmento dos SUV médios são dos mais amplos, permitindo aceder-se à última fila sem exigir dotes de contorcionismo e conseguem até instalar dois adultos até 1,80 metros de altura, em condições de conforto mínimas e para deslocações breves. Dito assim, poderá parecer um suplício ocuparmos os lugares mais recuados de 5008 e Tarraco, embora não seja, de todo, essa a ideia que pretendemos passar. Mas sim, a de que não foi para adultos que estes lugares extra foram pensados. Ou só em ocasiões excecionais.
Vamos a medidas: no Peugeot, a distância para arrumar as pernas varia entre 53 e 68 centímetros, enquanto no Seat esse espaço tem entre 54 e 72 cm. Esta variação tem a ver com a movimentação dos bancos da 2.ª fila, que correm sobre calhas. Na largura, a 3.ª fila do 5008 oferece 112 cm, menos 10 que o Tarraco, enquanto na altura, o carro francês ganha com 88 mm contra 83 do espanhol. E já que de habitabilidade falamos, passemos à 2.ª fila de bancos, onde Peugeot e Seat se equivalem no comprimento (variável, como vimos), assim como na largura (142 cm para o primeiro, 141 para o segundo).
Nos bancos da frente há desafogo em qualquer dos veículos, iguais na largura: 144 cm. Contudo, não vamos da mesma maneira, num e noutro, quando nos instalamos ao volante. Muito melhor o Seat nesse aspeto, oferecendo uma posição de condução cómoda e bem enquadrada com volante e demais elementos relativos à condução. Já no 5008, e sem críticas diretas ao famigerado iCockpit da Peugeot, não nos acomodamos tão bem, ainda que se permita ajustar o volante de forma a sentarmo-nos corretamente e conseguirmos ver na totalidade a instrumentação. Quando ao acesso aos elementos dispostos na consola e visualização do ecrã central, não há reparos negativos ao 5008, assim como à qualidade da maioria dos materiais e ao cuidado nos acabamentos. Avaliação semelhante nos aspetos referidos merece o Tarraco, que se destaca pela facilidade de utilização do sistema multimédia e a gestão das funções de bordo, e ainda pela solidez da estrutura, claramente elaborada para durar sem ruídos parasitas.
Por baixo do capot do Peugeot, encontramos Diesel de 1,5 litros com 130 cv e 300 Nm, mecânica evoluída com acústica pouco típica de motor a gasóleo, o que é uma virtude, e start-stop nada brusco a intervir. Este motor está acoplado a caixa manual de 6 velocidades, sendo o engrenamento suave e o escalonamento ajustado ao que se pretende: consumos baixos. Assim, ainda que a resposta do propulsor não seja tímida a baixo regime, o que explica a boa aceleração, e a progressão aconteça sem esforço, a verdade é que as retomas deixam um pouco a desejar. Mas nada que motores de maior cilindrada e binário também não sofram, como é o caso do 2.0 Diesel do Tarraco, com 150 cv e 340 Nm, cujas acelerações e recuperações deixam muito a desejar, como pode comprovar nas medições que publicamos. Peugeot e Seat praticamente empatam nas acelerações e verifica-se ligeira vantagem do 5008 nas retomas, o que pode ser explicado em parte pelo peso bastante superior do Tarraco (mais 230 kg), mas não só...
Por outro lado, é o Seat o mais valioso no compromisso conforto/dinâmica (estabilidade e agilidade), pisando de forma suave e doseando bem as oscilações da carroçaria nos percursos com mais viragens - incluindo em terrenos irregulares sem o asfalto das estradas. Por seu turno, o Peugeot pareceu-nos um pouco menos confortável (ou melhor, menos consistente no amortecimento e filtragem das vibrações e ressaltos) e também ligeiramente menos expedito a curvar do que o Seat, adornando um pouco mais e mostrando maior dificuldade em sair de forma lesta das viragens (vem aqui ao de cima alguma falta de binário do motor de 1,5 litros Diesel francês).
Em contraponto, o 5008 merece, contudo, maiores elogios pelo inteligente sistema Grip Control, cujas regulações eletrónicas garantem boa aderência em neve, lama ou areia.
Dois excelentes SUV em análise, pelo que qualquer um podia ser o vencedor deste confronto, ainda que detalhe muito importante condicione, logo à partida, o desenlace: o preço do Seat Tarraco é muito superior ao do Peugeot 5008 (quase sete mil euros!), que desde logo deixa o SUV espanhol em desvantagem que nem a potência e binário superiores do 2.0 litros Diesel conseguiram amenizar, pois o 1.5 a gasóleo do Peugeot (com menos 20 cv e 40 Nm) revelou-se perfeitamente à altura do desafio, conseguindo a proeza de ser ainda mais económico. De resto, o equilíbrio é a nota dominante entre estes SUV de 7 lugares.