Meia década pode ser muito anos na vida de uma geração de um automóvel. Manter um modelo atual, moderno e comercialmente competitivo todo esse tempo não é fácil e só está ao alcance dos melhores ou dos que nasceram à frente do seu… tempo. Em segmentos concorrenciais como o médio (D) premium, das tão desejáveis carrinhas, em que se alinham Audi A4 Avant, BMW Série 3 Touring, Mercedes-Benz Classe C Station e Volvo V60, entre principais protagonistas, todos os argumentos contam no processo de cativação do público, até porque a fidelidade à marca já não é como era... Nesta categoria, os consumidores dispõem-se a pagar bastante, mas para ter o melhor.
Este referido subsegmento apresta-se a mexer, e bem, com a geração nova do BMW Série 3 Touring (G21) e a atentar às qualidades da berlina análoga (já em comercialização) e às primeiras impressões da sua variante, antevê-se que a carrinha de Munique vá direta aos píncaros da classe, no que se refere aos atributos nesta mais valorizados.
Perante isso, os poderes instalados agitam-se, precavendo-se para a novidade. Entre estas, a geração atual do Mercedes-Benz Classe C Station já está há cinco anos no ativo com uma ligeira modernização há um ano. Em 2014, a carrinha da estrela chegou, viu e venceu, instalando-se no galarim, mas cinco anos volvidos, e apesar do restyling, será a sua antiguidade demasiada para enfrentar a eterna rival renovadíssima? Estará a carrinha de Estugarda entre os modelos predestinados, tão bem-nascidos que se mantêm modernos mais do que o seu tempo?
Mas a Station não está sozinha nesta ânsia. A Volvo V60, bem mais recente (2018) e na plenitude das virtudes de extraordinária passagem de geração, também não é imune à pressão da chegada de categorizada adversária. Esta que é um dos exemplos cabais da nova era (boa) da Volvo e a melhor carrinha Classe C de sempre confrontam-se para determinar qual estará mais apta a enfrentar as exigências da (re)entrada em cena da BMW Série 3 Touring.
Comecemos pelo interior dos veículos em compita e, desde logo, pela avaliação da qualidade de construção, dos materiais empregues nos componentes e nos revestimentos (tablier, consola, bancos, portas, nas zonas inferiores sempre menos cuidadas) e da solidez de montagem, sem que encontremos elementos mensuráveis para diferenciá-la. Apenas para nivelá-las e pelo topo do segmento. Em destaque em ambas, os painéis de instrumentos digitais (embora no Mercedes opcional pago) e os monitores centrais que permitem aceder a uma panóplia de funcionalidades, do infoentretenimento, navegação, climatização e do charme, à dinâmica do veículo, configurável pelo condutor. Os dois fabricantes fizeram-nos diferentes: a Mercedes com ecrã horizontal, a Volvo do tipo tablet, na vertical. No resto, realce para o zelo pelo pormenor em elementos altamente estilizados, como o touch-pad do Classe C ou o botão de ignição e controlo dos modos de condução do V60.
Todavia, ressalve-se que, à imagem do que é apanágio no segmento premium, para se ter esta elogiada sofisticação dos interiores nestas carrinhas, só investindo em versões ou pacotes de equipamentos topo de gama, a custos condizentes – Pack Premium (7250 €), Linha design AMG (4950 €), Estofos em pele Vermelho Cranberry/Preto, tablier em pele e acabamentos em madeira de carvalho (2550 €) ou o Pack de Assistência de Condução Plus (2600 €) no Mercedes; e a versão Inscription (quase mais 20.000 € do que a versão Momentum) no Volvo.
Mantendo-nos a bordo, descortinamos diferenças, agora sim mensuráveis, na habitabilidade e na capacidade da bagageira, com vantagem nas duas avaliações para a V60, ainda que ligeiras, nos lugares posteriores, com maior distância para o banco da frente; e na mala, que acondiciona mais 39 litros na configuração convencional. Todavia, mais versátil, aspeto importante nas carrinhas, a C Station acolhe mais 69 litros com o rebatimento completo dos bancos.
Passando ao volante, antes de ligar os motores, deparamo-nos com a posição de condição, em ambas correta, igualmente cómodas e sustendo o corpo do ocupante com semelhante eficácia, e os principais comandos (volante, caixa e pedais) gozando da mesma ergonomia correta, mas na Mercedes a revelar desde já os trejeitos intrínsecos do automóvel, mais direcionado para a dinâmica e a proporcionar superior experiência de condução.
Perceção comprovada depois de os Diesel entrarem em pleno funcionamento. Ambos de quatro cilindros e dois litros, e potência e binário quase similares – em tudo há só 4 cv a fazer a diferença no 220 d da Mercedes. Mas as performances das duas carrinhas refletem dissemelhanças maiores, embora ainda e sempre pequenas (na ordem de décimas de segundo a pouco mais de 1 segundo), ainda e sempre favoráveis à Classe C Station. Apesar de escassas, sublinhe-se, não deixam de ser mensuráveis, tanto mais que contribuem para a facilidade e o agrado da condução superiores do automóvel alemão, a que não é alheio a maior leveza do seu peso total (85 kg) e as transmissões, ambas automáticas, mas de nove velocidades na Mercedes e de oito na Volvo. Estes fatores conspiram para outra vantagem da C 220 d Station: o consumo, em média inferior 0,5 litros, em condução dita real.
A dinâmica também separa as duas candidatas ao primeiro confronto com a nova BMW Série 3 Touring, sendo o desempenho da Classe C Station caracterizado por maior agilidade e desembaraço, em suma, resumindo-se numa maior leveza na condução. Para esta, a par da afinação mais firme do amortecimento das suspensões da carrinha da Mercedes, contribui igualmente a mais correta assistência da sua direção, conferindo maior precisão e feedback. Em contrapartida, registe-se uma (mais ténue) penalização do conforto de rolamento comparativamente ao da V60, mais filtrado e suave, mas também mais propiciador de movimentos da carroçaria em curva.
O Mercedes-Benz Classe C Station, na versão mais comercial 220 d com 194 cv, é o modelo melhor colocado para defrontar o novíssimo BMW Série 3 Touring, também com a motorização de bandeira 320 d de 190 cv, que se apresta a chegar ao mercado. A carrinha da marca da estrela já está há cinco anos no ativo e continua quase tão moderna como no seu primeiro dia, beneficiando de uma atualização/revisão a meio de 2018. Nessa data, a Volvo lançava nova geração do V60, com méritos logo reconhecidos como ao nível dos das referências alemãs. Pouco mais de um ano depois, a carrinha sueca, na versão D4 de 190 cv, mantém-se nesse patamar.