As carrinhas francesas que aqui confrontamos aproximam-se em diversos detalhes e afastam-se de forma importante em outros. Comecemos pelos últimos, mais concretamente por aquele em que mais divergem: a estética.
A carrinha da marca do leão é, e perdoem-nos a apreciação pessoal, uma estampa, cativando ao primeiro olhar, independentemente do ângulo de visão. O rival de ocasião, o Renault Talisman Sport Tourer, exibe uma imagem menos irreverente, mas não deixa de ter um desenho bonito e cativante. Apreciações estéticas que, como se sabe, não valem pontos na nossa classificação, pelo que a sua relevância prática é nula. Na escolha de futuros clientes, contudo, é seguramente um dos fatores mais importantes…
Nos habitáculos encontramos mais diferenças entre as duas carrinhas, e estas com verdadeira relevância pontual, como a habitabilidade: o Peugeot tem maior largura à frente (4 cm), apresentando também melhor posição de condução. Ainda que a solução volante pequeno ainda não seja consensual, a verdade é que o conceito do Peugeot i-Cockpit tem vindo a ser aperfeiçoado e neste 508 sentimo-nos agora bem encaixados no banco e perfeitamente enquadrados com volante e tudo o que está à nossa volta, nomeadamente com o enorme painel de instrumentos digital. É fácil encontrar a melhor posição em frente ao volante, que também encaixa bem nas mãos, quase dando a sensação de que se trata de um joystick de um videojogo. É verdade que a solução se estranha, mas depois entranha-se e torna-se agradável de utilizar.
Também não vamos nada mal sentados no Talisman, cujos bancos dianteiros forrados a couro da versão Initiale Paris são autênticas poltronas, confortando o corpo em viagens longas e segurando-o nas viragens mais fortes. De criticar, apenas, a posição um pouco desenquadrada do banco face ao volante, e daí resulta a penalização face ao 508 na posição de condução. Já no que toca aos materiais utilizados, são globalmente de boa qualidade, havendo, no entanto, alguns elementos em plástico rijo e acabamentos pontuais menos cuidados. Maleita de que também padece o Peugeot, cujo habitáculo também é servido por matérias de boa estirpe intercaladas com elementos mais pobres. Tudo normal. No que toca à ergonomia, nota elevada para os dois modelos, que empatam nesse item, mas interessa fazer uma análise mais pormenorizada a elemento que pode ser (e é-o recorrentemente!) fator de distração nos automóveis modernos: os ecrãs centrais dos sistemas de infoentretenimento (ambos bastante completos, refira-se). Tanto num, como noutro, a posição dos ecrãs não é a mais correta, sendo mais baixa do que o ideal, o que leva a que o condutor tenha que desviar os olhos da estrada para os gerir ou visualizar. Esta é uma situação comum a praticamente todos os fabricantes, pelo que nunca é demais fazer o alerta, até porque parece ser problema que preocupa pouco.
Voltando à habitabilidade, agora dos lugares traseiros, temos situação diversa, sendo o Renault que oferece mais espaço para pernas em comprimento (74 cm contra 71 do Peugeot) e também em largura (140 cm contra 135). A vantagem do Talisman prolonga-se à bagageira, onde a vantagem é de 42 litros.
No que toca às mecânicas, o Renault utiliza o novo 2 litros Blue dCi 200, motor que oferece condução fluida e despachada na generalidade das situações, e isto sem aumentar demasiado os consumos, como prova a média de 6,4 l/100 km que apurámos, apenas 0,6 l/100 km acima do valor oficial. No Peugeot, motor 2.0 BlueHDI de 180 cv muito redondo e igualmente capaz de proporcionar condução sem hiatos, mesmo que a caixa de velocidades não seja particularmente rápida, o que se nota sobretudo nas recuperações mais exigentes. Ora, isso acaba por expressar-se no resultado das medições, em que o Talisman se revela mais eficaz nas retomas, ao passo que o 508 SW se impõe nos arranques. A mecânica do Peugeot mostrou-se também ligeiramente mais gastadora do que a do rival, apresentando média final de 7,1 l/100 km.
Nota final para a excelência do comportamento dinâmico da carrinha 508, modelo capaz de oferecer verdadeiro prazer de condução em estradas sinuosas. Ok, não é rapidíssimo nas transições entre curvas, mas a agilidade que apresenta chega para divertir. E isso é uma grande virtude num familiar.
Nenhuma destas carrinhas de segmento D tem algo de negativamente criticável, apresentando ambas interiores espaçosos, bagageiras com boa volumetria, mecânicas/caixas competentes, condução envolvente e confortável (atenção ao tamanho de pneus/jantes…). Os habitáculos destacam-se pela apresentação elegante (mais irreverente a do Peugeot), riqueza dos detalhes, construção cuidada e materiais globalmente de boa qualidade. Nestas versões topo de gama, GT no 508, Initial Paris no Talisman, o equipamento é farto e bom, o que faz inflacionar ainda mais preços de base puxadotes. Nesta conjuntura, venceu o Peugeot, mas como diz o chavão futebolês, o empate seria o resultado mais justo.