No início de 2019, o Renault Kadjar apresentou-se com estética refrescada, mais moderna e dinâmica, e com mais e melhores argumentos técnicos e económicos para lugar por um lugar de destaque no segmento C, só o segundo mais importante do mercado. Até acontecer esta atualização, o SUV francês disputava o mercado numa única versão, com um só motor e apenas um nível de equipamento, o que naturalmente condiciona qualquer estratégia de competitividade.
Mas as emendas aconteceram e o Kadjar já dispõe de uma gama completa, com vários motores a gasolina e a gasóleo (passa de um para quatro!) e, muito importante, preços mais competitivos. Mais: graças à alteração do critério das Classes 1 e 2 das portagens nacionais, já não é sequer necessário o recurso aplicável no anterior modelo (eixo Multilink atrás) para que o Kadjar cumpra a lei em vigor (altura até 1,30 m no eixo dianteiro) e seja agora tributado como Classe 1, isto desde que munido do dispositivo de pagamento automática da Via Verde. Ora, um dos reforços mais importantes que o Kadjar recebeu foi a mecânica 1.7 BluedCi, novo motor a gasóleo que substitui o antigo 1.6 dCi e que apresenta evidentes vantagens nas emissões e consumos.
O 1.7 BluedCi, conhecido internamente como R9N, tem 1698 cc de cilindrada e potências de 120, 150 e 160 cv. Além de tecnologia melhorada face às unidades anteriores e de novos componentes de otimização de rendimento e eficiência, o novo Diesel conta com catalisador SCR seletivo e depósito de AdBlue (que reduz as emissões de NOx), tornando-se a primeira motorização no mercado a superar o futuro padrão de emissões Euro 7, que entrará em vigor de 2020 a 2021. Segundo a Renault, essa legislação poderá reduzir para metade os limites da produção de NOx para 40 miligramas por quilómetro. No caso da gama Kadjar, a unidade disponível é a de 150 cv, precisamente a mesma que a Nissan utiliza no Qashqai, mantendo atualizado com a mais recente tecnologia o modelo que é há muito o líder incontestado da categoria.
Para este confronto entre gémeos falsos, trouxemos as muito bem equipadas versões Black Edition no Kadjar (a única disponível com esta motorização) e Tekna no Qashqai, onde encontramos interiores muito bem apetrechados no que toca a itens de conforto (bancos em pele, ar condicionado automático, sistema de navegação, entre outros) e de segurança, como os faróis LED, assistentes de faixa de rodagem, entre outros. É pois algo de muito prazenteiro estar no interior destes automóveis, fortes também no capítulo da insonorização, pelo que são de esperar viagens tranquilas. O que já não garantimos (de forma alguma!) é que não sinta com grande intensidade toda e qualquer imperfeição do asfalto, pois qualquer dos dois SUV está equipado com rodas de 19’’ com aparato estético espalhafatoso, no bom sentido, mas muito pouco amigas do corpo dos ocupantes, que sofre com pancadas violentas na transição de buracos e lombas sonoras. Felizmente que as posições de condução são corretas e que os bancos sustentam bem o corpo, o que de certa forma ameniza o tratamento de choque. É melhor não imaginar o que seria com bancos de pior qualidade...
No reverso da medalha estão os desempenhos dinâmicos convincentes. Parece cada vez mais importante, mesmo em SUV, oferecer um comportamento menos bamboleante e que permita brincar um bocadinho. Qashqai e Kadjar permitem-no graças ao acerto dinâmico a atirar para o rijinho. O equilíbrio em curva é assinalável, isto apesar do centro de gravidade elevado, e ainda que haja algum exagero, há muito vigilantes dispositivos tecnológicos para zelar pela segurança.
Bom, mas o dado mais relevante neste confronto é analisar o que valem Kadjar e Qashqai equipados com o mesmíssimo novo motor Diesel de 1,7 litros e 150 cv, acoplado a caixa manual de 6 velocidades. Os dois fabricantes apresentam valores dissemelhantes para velocidade máxima, aceleração, consumos e emissões, o que é normal, pois cada um dos carros têm as suas especificidades, apesar de partilharem a plataforma. Interessa referir que, empiricamente, o motor sente-se igual num e noutro SUV, mostrando disponibilidade na entrega da potência, aceleração linear e permitindo condução fluida, mérito também dos 340 Nm de binário disponíveis logo às 1750 rpm. A caixa manual de 6 velocidades tem escalonamento longo que contribui para a obtenção de bons consumos, mas impede uma condução mais espevitada. É pena, confessamos, porque esperávamos um pouco de mais patanisca dos 150 cv.
Nas nossas medições, o Kadjar acabou por mostrar-se mais rápido no 0-100 km/h (curiosamente, o valor oficial é favorável ao Qashqai, ligeiramente mais leve), enquanto nas recuperações apurámos vantagens repartidas, pelo que não há grandes ilações a retirar daí.
Já no que toca os consumos, aquele que pretende ser o ponto mais forte desta mecânica, diferença mínima: 6,3 l/100 km para o Nissan, 6,4 l/100 km para o Renault.
Após a atualização, o Renault Kadjar apresenta-se mais forte que nunca, mostrando ser uma alternativa interessante ao Nissan Qashqai, ainda grande referência da categoria. Por outro lado, o bom desempenho do novo motor Blue dCi 1.7 de 150 cv que encontramos no SUV da Renault (entre outros modelos da marca francesa) e no Qashqai confirmam a excelente aposta que constituem as modernas mecânicas Diesel cumpridoras das mais recentes normas antipoluição. Um facto que chega a suscitar-nos vontade de gracejar, pois há quem ainda teime em apregoar que apostar em veículos a gasóleo não é uma boa ideia. Só pode ser (mau) marketing.