Para fechar a carreira da sétima geração do Golf (foi já desvendado o herdeiro Golf VIII), a VW pegou na já de si mítica sigla GTI e acrescentou-lhe TCR (alusiva ao campeonato de Touring Car Racing), inspirada na competição, para toada mais radical do conhecido desportivo. A potência do motor 2 litros turbo subiu até aos 290 cv, continuando entregue às rodas dianteiras (existe o Golf R, de 310 cv e tração integral, mas já fora da órbita GTI) por intermédio da caixa automática DSG de dupla embraiagem e 7 relações, incluindo autoblocante mecânico para apuro do controlo direcional, em aceleração. As opcionais jantes negras de 19’’ presentes na unidade testada são voz ativa no desempenho, ao incluírem os Michelin Sport Cup 2 (de elevadíssima aderência e progressividade quando à temperatura certa) e eixo traseiro de amortecimento mais firme. A linha de escape é igualmente específica, de assinatura sonora mais rouca, nada incomodativa, ganhando vida e eloquência quando selecionado o modo de condução mais desportivo. Bem visíveis são os autocolantes nas laterais da carroçaria, com a sigla TCR a ajudar ao carácter mais exclusivo desta versão, ao passo que o sistema de travagem, com discos perfurados à frente, foi devidamente reforçado.
A serenidade colocada na condução quotidiana é algo que a VW soube preservar mesmo neste mais radical Golf GTI TCR, quer seja pela fluidez das passagens da caixa DSG, quer pelo nível de conforto da suspensão de amortecimento variável – apenas as rodas/pneus são fonte de algum ruído, fruto da rigidez estrutural dos mesmos. Contudo, percebe-se que existiram cuidados com os amortecedores, pela forma como os movimentos da carroçaria surgem agora superiormente dominados, com o TCR a mostrar qualidades exímias em curvas largas feitas a velocidades elevadas, onde sobressai a aderência e estabilidade.
O motor tem na elevada disponibilidade e resposta pronta nos regimes intermédios um dos principais trunfos na definição dinâmica do TCR, atestada em rapidíssimas retomas de velocidade, mesmo que a caixa DSG (muito boa no geral) tenha já algumas dificuldades em acompanhar de forma mais incisiva as reduções mais bruscas. O sistema de travagem mostra consistência e potência, com pedal de tato mais firme e informativo do que nos restantes Golf GTI (o base com 235 cv e o Performance de 245 cv). A direção é suficientemente direta, mas sente-se ligeira demora na resposta do eixo dianteiro em traçados mais lentos e retorcidos. Nada de grave, apenas menos eloquente do que a do Civic Type R.
O desportivo compacto da Honda faz-nos transpirar adrenalina desde que a imagem dos proeminentes apêndices aerodinâmicos, a entrada de ar no capot e o pronunciado alargamento das vias levanta o véu que possa cobrir eventuais dúvidas sobre as performances. As jantes são de 20’’, os pneus de perfil híper baixo e os pormenores a vermelho, no exterior ou interior, onde se destacam as bacquets, por demais envolventes, embora a intrometerem-se no acesso, tal a altura do suporte lateral do assento. O interior do Civic é visualmente mais complicado, em particular o manusear das funções do computador ou a navegação no sistema de infoentretenimento (tátil), central. Mas a placa numerada e o punho da caixa de velocidades manual (e os bancos) contribuem para a excelência do ambiente desportivo. O equipamento de série é vasto, pecando apenas pela ausência de personalização.
A suspensão conta, igualmente, com sistema de amortecimento variável, que surpreende pela positiva no trato relativamente sereno com que se pode conduzir no dia-a-dia, o mesmo se passando com o manuseamento da alavanca da caixa e tato do acelerador – apenas o diâmetro de viragem é largo, não facilitando as manobras. Apurar as reações através dos diversos modos de condução vai desvendando um Civic mais visceral e reativo, quer pela forma como os 320 cv se mostram nas rotações mais elevadas, quer pelas reações quase diretas do chassis. A opção por eixo dianteiro de pivot independente ajuda a libertar as rodas da carga do acelerador, mantendo estas superior superfície de contacto com o alcatrão, permitindo aproveitar a potência à saída das curvas – embora neste particular, o autoblocante do Golf GTI TCR nos tenha parecido de atuação mais rápida na gestão.
O certo é que o Civic quase parece talhado para fazer todas as curvas em ângulo reto, com a dianteira sempre a farejar a zona interior das mesmas, tal a rapidez com que o eixo da frente responde, além de que a forma mais linear com que a potência chega às rodas nos regimes médios muito ajuda a perceber a trajetória, a dominar o volante e a saber esperar pela altura certa para, depois, acelerar a fundo e fazer explodir os 320 cv!
O preço (elevado) do Golf GTI TCR atesta bem o carácter de exclusividade que a VW quer colocar nesta muito especial edição do desportivo, afinada a preceito, capaz de performances que aquecem a alma e de causar sensações mais consistentes do que os restantes irmãos de gama. Tudo sem esquecer o caráter user friendly e o cuidado na ergonomia e conforto de utilização. Mas o Civic Type R está ainda nos píncaros emotivos deste segmento, com a explosão dos 320 cv a ser bem dominada por chassis por demais reativo. Sem esquecer os 7 anos de garantia.