Na Fiat e na Mini, os sucessores dos icónicos clássicos de três portas, originalmente lançados nos idos anos 50, seguiram a ordem natural das coisas: tornaram-se elétricos. Porque os tempos são de mudança de paradigma no automóvel, baterias em vez de motores térmicos a gasolina e gasóleo para condução sem emissões de gases de escape.
Todas as marcas de primeiro plano na indústria automóvel participam, de forma muito ativa, na corrida à eletrificação (rápida) do automóvel. E a Fiat prometeu que não iria atrasar-se. Demorou a concluir a sua abordagem ao tema da mobilidade limpa, mas acertou em cheio, com automóvel entusiasmante, ágil em cidade e tão dinâmico que apetece conduzir para fora da malha urbana.

É verdade que o valor médio de autonomia, a rondar os 200 km, não permite que se estiquem demasiado os trajetos ou o ritmo da condução, mas o elétrico retro italiano é produto pensado com outro propósito: o de corresponder às exigências de clientela que procura no automóvel o derradeiro gadget tecnológico.
Testámos o Cabrio, que dispõe do mesmo motor elétrico com 118 cv das demais carroçarias e bateria de iões de lítio com 42 kWh de capacidade total. A versão ensaiada, La Prima, tem decoração exclusiva para a carroçaria e no habitáculo, com muito menos comandos físicos, mais compartimentos para arrumação de objetos e mão cheia de detalhes inovadores, vide os botões que servem para abrir e fechar as portas, em vez dos puxadores convencionais.

Filosofia ligeiramente diferente procurou seguir a Mini, mais preocupada em tentar assegurar que o mais urbano dos seus automóveis não degenera à herança do fabricante, criada quase exclusivamente a combustão, com a primazia ao feeling da condução, e na atitude ao volante. Apesar de todas as derivações da nova geração Mini, sob a égide do Grupo BMW, os Mini continuaram a ser, como em tempos idos do modelo original, dinâmicos e divertidos – sem referir o mérito na recriação do design.
Tirando o logo amarelo na grelha frontal (fechada e específica) e, talvez, as jantes de desenho exclusivo, o Mini elétrico é praticamente um decalque dos primos com motores térmicos, incluindo na forma como está arrumado o painel de bordo, com enorme profusão de comandos e pequenos botões. O carro britânico também puxa mais pela condução típica dos elétricos, que privilegia o aproveitamento da eficiência do veículo, o que está longe de ser um defeito num Mini. Mas paga-se na fatura da eletricidade. Literalmente…

Autonomia otimista
O ruído, obrigatório para peões, é criado artificialmente e também se estranha. Arrumada sob o piso está bateria de iões de lítio com capacidade aproveitável de 28,9 kWh (32,6 kWh no total) para uma autonomia anunciada de 234 km entre carregamentos, segundo o ciclo de medições de consumo WLTP. Cifra que não parecendo suficiente para um automóvel com qualquer tipo de pretensões estradistas, ainda é otimista…
Com o recurso à tecnologia afeta à motorização elétrica, nomeadamente aos modos mais ecológicos do programa de condução, Green e Green+, em que a recuperação de energia das travagens e desacelerações é superior, mas com o comprometimento de equipamentos de conforto, como o ar condicionado, no caso do segundo, podemos aspirar a realizar mais de 180 km com uma carga de bateria. Conduzindo-se nos modos Mid e Sport retira-se o melhor rendimento do motor de 184 cv e 270 Nm disponíveis desde o arranque. Ou seja, sendo automóvel elétrico, silencioso e não poluente, mantém a emotividade na condução que deu fama à marca britânica. E só o posicionamento de preço premium pode travar maiores ambições. O Mini elétrico está disponível no mercado nacional desde 34 mil euros, que é o valor pedido para a versão base.

Não são muito diferentes os preços do 500, que é também automóvel muito cativante em matéria de apresentação e de imagem. O equipamento multimédia tem ecrã de 10,25’’ e admite conectividade com Apple CarPlay e Android Auto. A climatização tem comandos independentes abaixo do ecrã digital no centro do painel de bordo e acima dos seletores dos programas de atuação da caixa de velocidades.

Um Sherpa na cidade
Na consola entre os bancos dianteiros do citadino transalpino, à direita, elegem-se os três programas de condução: Normal, Range e Sherpa. Os modos de ação diferenciam-se pela capacidade de retenção do motor elétrico, maior no Range ou no Sherpa. No Normal, esta função encontra-se indisponível, com o 500 a movimentar-se só pela inércia a partir do momento em que o condutor retira o pé do acelerador. No segundo, conduz-se, muito facilmente, sem recurso ao travão. No terceiro, otimiza-se a autonomia, quer limitando a velocidade máxima apenas a 80 km/h, quer parando a atuação da climatização e do aquecimento dos bancos ou diminuindo a reatividade do acelerador. Dispondo apenas de 24 km de carga na bateria de iões de lítio, automaticamente, ativa-se outro programa, o Tortuga, que limita a potência e bloqueia o consumo elétrico de todos os componentes não essenciais do automóvel.
No Fiat 500, as baterias estão arrumadas debaixo do piso do habitáculo, posicionamento que baixa o centro de gravidade e beneficia a repartição do peso entre os eixos, características com impacto muito positivo no desempenho de citadino que acelera de 0 a 100 km/h em 9 segundos e convence pelo comportamento equilibrado e preciso. Dinamicamente, o 500 não está ao nível do Mini Cooper SE. Mas tem um trunfo chamado autonomia.

No Fiat, obviamente, a mesma lógica: a autonomia estica ou encolhe de acordo com o tipo de percurso e o estilo de condução. E se o carro italiano seduz ao servir condução com bons níveis de conforto, com as suas dimensões de palmo e meio e o diâmetro de viragem que o tornam peixe na água em cidade, além de um viciante silvo que acompanha o funcionamento do motor em aceleração, perceba-se que o pé demasiado pesado sobre o pedal da direita faz com que a autonomia estimada se esfume. A marca anuncia 430 km de autonomia para o elétrico em ciclo urbana, distância que nunca conseguimos alcançar.
Guiámos muitas horas em cidade, com o computador de bordo a marca um consumo de 12,3 kWh/100 km, o que permite pensar numa autonomia real a rondar os 300 km, com os devidos cuidados. É_muito mais do que conseguimos percorrer com uma só carga de bateria no Mini e mais do triplo do que a maioria das pessoas faz por dia.

Tudo somado, a experiência com o novo Fiat 500 mostrou-nos um elétrico entusiasmante, com credenciais dinâmicas bem à altura dos pergaminhos de um fabricante que tem no seu portefólio citadinos de culto. Isso não quer dizer, contudo, que nos convenceu tudo o que vimos ou experimentámos. Como são as pouco funcionais medidas do compartimento da mala, por exemplo, que complica no dia-a-dia, sem que se ganhe muito na habitabilidade traseira, pois os ocupantes dos dois (únicos) lugares posteriores também não dispõem de fartura de centímetros em nenhuma das direções.
Mas o Mini Cooper SE não faz melhor. Como espaço é algo que não abunda na carroçaria 3 Portas do Mini (a única escolhida para a eletrificação), a bateria está alojada sob o habitáculo, em forma de T, não beliscando o já de si curto espaço para passageiros no banco traseiro ou mala. Esta, com 211 litros, aloja os cabos de carregamento sob o alçapão. A característica mais diferenciadora da carroçaria do elétrico será a elevação em 18 mm da altura ao solo, de forma a melhor preservar o berço da bateria.

Nos dois modelos, o carregamento numa tomada doméstica é muito demorado (no Fiat, o ritmo é de 14 km de autonomia por hora...). Todavia, a sua bateria também admite carregamentos na rede pública, de corrente contínua, à potência máxima de 85 kW. Assim, 100% da energia em 35 minutos – o Mini admite um máximo de 50 kW.
Na corrida à democratização do automóvel do futuro, conectado e elétrico, a Fiat tenta agora chegar-se à linha da frente com a versão elétrica do citadino ícone da marca. Também a marca inglesa merece elogio no cumprimento da promessa da conversão dos seus automóveis, mantendo viva a herança desportiva do fabricante. Mais prático, funcional e utilizável na lufa-lufa de todos os dias nas grandes urbes o 500; mais reativo e divertido de levar por estradas com muitas curvas o Cooper SE.