A Ferrari não renuncia a conceito que estreou em 1977, no 308 GTS: descapotável com motor V8 instalado em posição central-traseira. Este Spider baseado na ‘berlinetta’ F8 Tributo é a adaptação moderna da ‘receita’ antiga. Em exame, superdescapotável de dois lugares com mecânica de 720 cv e tração às rodas posteriores.

A Ferrari, em 2019, apresentou gama nova de desportivos com motores de 8 cilindros, com o F8 Tributo a substituir o 488. Desenhado no Centro Stile da marca de Maranello sob a direção de Flavio Manzoni, este cavallino rampante perpetua a configuração do(s) antecessor(es), com motor central-traseiro e tração às rodas posteriores, e associa-a à imagem… picante, precisamente a palavra que associamos ao molho de tomate para massas comum na culinária italiana.

Poucos meses depois do lançamento do coupé, apresentou-se este descapotável que tem a particularidade de encontrar-se ainda mais bem preparado para uma condução muito desportiva, devido a otimização do chassis que aumentou a facilidade de controlo de automóvel potente e veloz! Finalmente, os ita- lianos transportaram-se até Portugal para teste! Esta unidade tem muitos opcionais que valorizam tanto a dinâmica como a imagem (exterior e interior), dos acabamentos e componentes em fibra de carbono aos pespontos em cor contrastante nos revestimentos do habi- táculo (painel de bordo, portas, bancos, etc.). Bem-vinda!

Veloz, velocíssimo!

O Spider tem o mesmo cuore do F8 Tributo: V8 3.9 sobrealimentado por dois turbos. A mecânica, moderna, sobressai tanto pela potência específica de 185 cv/litro como pela facilidade de funcionamento a alto regime, com o máximo de 720 cv disponível às 8000 rpm e 770 Nm de binário ativos às 3250 rpm. A caixa automática de embraiagem dupla tem 7 velocidades e função manual comandada de forma sequencial em patilhas na coluna da direção, muito próximas do volante, que valorizam sobremaneira a experiência de condução, por torná-la mais entusiasmante… Não existem muitas máquinas com 700 cv e tração só às rodas traseiras, mas a Ferrari, marca de elite, não renuncia a fórmula tão diferenciadora. Os Lamborghini têm quatro rodas motrizes...

Os números do F8 Spider impressionam quase tanto como a imagem empolgante da carroçaria ou a apresentação excitante do cockpit, que tem apenas dois lugares: a marca reivindica aceleração 0 a 100 km/h em 2,9 s e velocidade máxima de 340 km/h. Confirmámos a primeira… A experiência de condução do Ferrari surpreende ainda mais que a ficha técnica, não pela rapidez do descapotável, estonteante, mas pela facilidade de condução, maior do que antecipávamos, sobretudo pelo conforto de rola- mento inesperado em pisos irregulares. Explica-a quer o desempenho formidável da suspensão, quer o desenho do banco (construção em fibra de carbono, apoios formidáveis). Ma avanti!

O motor reage (quase, quase) instantaneamente a movimentos no acelerador (não há turbo lag, pelo menos de forma óbvia!), a caixa de velocidades pro- cessa as trocas de relações velozmente e… 0-200 km/h em 7,8 s e 0-1000 m em 18,3. Que adrenalina! Neste F8 Spider, que conduzimos depressa e sem dificuldades, a condução torna-se apaixonante. A direção direta e rápida assegura a facilidade de controlo de carro ágil, estável e preciso, qualidades que sobressaem muito mais numa estrada sinuosa do que numa autoestrada, por notarmos todos os benefícios da atuação do E-Diff3, o diferencial eletrónico que otimiza a repartição do binário entre as rodas. Em qualquer dos ambientes rodoviários, a sonoridade do V8 é inebriante, mas nenhuma mecânica turbo consegue aproximar-se do impacto acústico de um motor atmosférico…

O F8, como é habitual em todos os Ferrari, tem diversas soluções técnicas derivadas da competição automóvel, mais-valia de anos e anos de experiência quer na resistência, quer na velocidade, vide os radiadores inclinados e as tomadas de ar nos extremos da asa traseira que melhoram a refrigeração do motor ou a conduta que redireciona os fluxos de ar da zona anterior para a posterior para mais carga aerodinâmica vertical, a alta velocidade. Para otimização do arrefecimento do sistema de travagem com discos carbocerâmicos superpotentes e resistentes à fadiga, combina-se a ação das tomadas de ar sobre os faróis (luzes LED) e no para-choques. No 100-0 km/h, Spider poderosíssimo: apenas 32,7 metros!

Complementarmente, geração nova da tecnologia Side Slip Angle Control, assistência eletrónica que monitoriza os movimentos laterais do F8 e, depois de compará-los com os ideais, automática e autonomamente, regula a distribuição do binário entre as rodas. Esta intervenção, sublinha-se, nunca é demasiado intrusiva e aumenta a velocidade de condução em curva sem nunca penalizar a estabilidade ou a sensação do controlo, por isso promovendo uma experiência ainda mais desportiva.

No Spider, como no Coupé, seletor de modos de condução no volante, à direito (no Manettino, ativam-se Wet, Sport e Race, desativam-se controlos de tração e estabilidade). E soma-se a versão mais recente do Ferrari Dynamic Enhancer (FDE+). Combinando-a com o programa Race, este superdesportivo com 1,94 kg/cv torna-se ainda mais fácil de controlar, previsível e seguro até nos limites da aderência. O temperamento do cavallino rampante muda em função da configuração, mas nunca é demasiado dócil. Logo, recomendação: como a eletrónica não é intrusiva e assegura liberdade de condução mais do que suficiente, assistências eletrónicas omnipresentes. Afinal, trata-se de um descapotável all’arrabbiata!

Capota rígida retrátil

O Spider diferencia-se do F8 Tributo por contar com uma capota rígida retrátil. A estrutura metálica comandada eletricamente tem apenas duas peças. O Ferrari torna-se descapotável ou coupé em 14 segundos e qualquer das operações pode realizar-se com o automóvel em movimento, à velocidade máxima de 45 km/h. O defletor é em vidro, encontra-se atrás dos apoios de cabeça, entre os arcos de segurança, e também tem controlo elétrico. O comando situa-se no topo da consola em fibra de carbono, ao lado do botão que aciona o tejadilho. A qualidade da construção percebe-se pela excelência da insonorização do cockpit – ou pela proteção de que desfrutamos sempre que optámos pela configuração aberta…

No F8, de série, jantes de 20’’ e pneus 245/35 no eixo dianteiro e 305/30 no traseiro. A aderência sobre piso seco é excecional, o que promove a capacidade de tração e a dinâmica desportiva de automóvel muito potente, maiores do que os talentos do condutor comum. O banco muito baixo tem desenho desportivo e o painel de instrumentos concentra todas as informações importantes, nomeadamente pressões e temperaturas. Finalmente, no volante, no topo, faixa de LED acende-se sempre que o motor V8 atinge o limite da rotação – utilizando-se o programa manual da caixa, indica-nos o momento ideal para trocarmos de relação.

Não existem cavallinos rampantes dóceis. Apenas irascíveis ou muito irascíveis. Este F8 Spider inscreve-se entre os segundos, mas comporta-se muito mais como os primeiros, se utilizado com a moderação que recomendamos! O motor V8 com 720 cv e 770 Nm, a caixa automática de 7 velocidades e a tração traseira anunciam o potencial desportivo excecional de automóvel com chassis incrível. A facilidade de condução e utilização impressionaram-nos quase tanto como a agilidade e a precisão de um automóvel de sonho com superperformances!