Se é verdade que muitos especialistas apontam os automóveis elétricos já como propostas viáveis em todas as realidades (urbana e para viagens de longo curso), outros há que consideram os híbridos a melhor solução nos tempos que correm. Concordamos com a segunda corrente de opinião, sobretudo quando em causa estão automóveis de preço já muito elevado, como é o caso de BMW 530e iPerformance e Volvo S90 T8 PHEV que aqui confrontamos.
No primeiro, encontramos solução que combina 4 cilindros a gasolina com 184 cv e unidade elétrica de 113 cv (252 cv e 420 Nm de binário no total), que garante prestações muito interessantes, como pode comprovar através das medições na ficha técnica. Sob o capot do BMW, há cérebro eletrónico, denominado eDrive, que gere (em conjunto com a transmissão automática Steptronic de 8 velocidades) a interação combinada entre os propulsores ou a intervenção separada de cada um deles, consoante as necessidades do momento de condução ou o desejo do condutor, que pode escolher entre moderar ou acelerar como se guiasse um verdadeiro desportivo. Sim, porque aceleração 0-100 km/h em 6,2 segundos não é cifra ao alcance de todas as berlinas desta envergadura. Mas atenção, o Volvo S90 faz melhor...
O automóvel sueco topo de gama cumpre o referido registo em 5,4 segundos, destacando-se ainda pelas recuperações muito rápidas (batendo de forma ainda mais clara o seu rival de ocasião). Estes registos devem, contudo, ser enquadrados com a explicação do sistema propulsor do Volvo, muito mais potente e com binário muito superior. Vejamos: o sistema híbrido plug-in do S90 articula 4 cilindros 2.0 Turbo a gasolina com 320 cv (e 400 Nm) a motor elétrico de 87 cv (240 Nm). A resposta do sistema depende sempre do programa de condução selecionado. São quatro: AWD (tração integral), Pure (100% elétrico), Hybrid (os motores trabalham em simultâneo ou separadamente dependendo das condições de condução, oferecendo a maior economia de funcionamento possível) e Power (os dois motores funcionam ao mesmo tempo, para melhores prestações). O S90 arranca por defeito no 3.º, garantindo maior eficácia e eficiência.
O 530e copia o Volvo no modo de arrancar, ou seja, fá-lo também em absoluto silêncio no modo Auto eDrive, que logo que se acelera um pouco mais otimiza o consumo com a gestão da carga existente nas referidas baterias de iões de lítio, sendo que a baixa velocidade e nas manobras de parque, a propulsão é quase sempre 100% elétrica e o motor térmico raramente é ativado, a não ser que não haja carga alguma das baterias ou se a pisadela no pedal do acelerador for exagerada, situação que também sucede no S90. Por outro lado, no BMW, é possível selecionar o modo MAX eDrive, forçando a condução zero emissões, ou seja, puramente elétrica.
De tudo isto resulta, em termos práticos, além das já referidas prestações, consumos médios simpáticos para tanto poder de fogo. O BMW ganha neste aspeto, com consumo final médio de 6,3 l/100 km, com o Volvo a registar 7,6. Mas atenção: as marcas reinvindicam autonomias em condução 100% elétrica muito otimistas, 50 km no 530e, 35 no S90. Na prática, e com algum tato no acelerador, BMW e Volvo ficam mais ou menos a par, ou seja, abaixo dos 30 km, sendo mais razoável apontar 25 como bitola para condução sem emissões. É pouco? Não nos parece, até porque as baterias vão recarregando com o andamento para, e pensamos que esta é a grande vantagem destes híbridos, dar uma ajuda ao motor térmico, quer nas prestações, quer nos consumos. Recordamos que se tratam de versões híbridas com possibilidade de recarga externa, uma opção demorada em ambos os casos, mais no Volvo (3 a 7 horas) do que no BMW (2h45 a 4 horas).
No S90, o conforto com prioridade sobre dinâmica, levando a melhor nesse particular em relação ao Série 5, mas isso não quer dizer que o automóvel sueco não seja dinamicamente competente, porque efetivamente é. E muito seguro também, não só porque o chassis tem qualidade elevada, e o sistema de tração integral dá uma ajuda acrescida em pisos traiçoeiros, mas também porque inclui de série diversos sistemas de apoio à condução, como o aviso de mudança de faixa, travagem automática, alerta de fadiga do condutor e Pilot Assist, sistema de condução semiautónoma que funciona a solo (pedindo por vezes intervenção do condutor) ou como auxiliar da condução.
O 530e tem tração traseira e nenhum dos sistemas de ajuda à condução que encontramos no Volvo, sendo preciso desembolsar 2950 € para pagar o pack Assistente de Condução Plus, que inclui os assistentes de ângulo morto e de faixa de rodagem e a travagem automática. Bom, mas nada disto belisca obviamente o desempenho dinâmico de excelência do Série 5, carro muito divertido de conduzir, com direção direta e comunicativa e chassis de reações honestas. E ainda por cima não é desconfortável. Sendo certo que não atinge o patamar de conforto do S90 – pensado para ser irrepreensível na filtragem de qualquer imperfeição do asfalto, o que consegue com jantes de 19” –, também é verdade que nunca acusa em demasia os buracos ou outras irregularidades com a transmissão de energia excessiva ao habitáculo. Gostámos da condução do Volvo, mas avaliámos o BMW com mais dois pontos na dinâmica porque sentimos o carro alemão mais fluido e leve nas transferências de peso em percursos sinuosos.
Não foi uma avaliação nada fácil. E nem se esperaria que fosse, obviamente, tendo em conta a enorme qualidade destes concorrentes do exclusivo segmento médio-superior, ambos servidos por bons sistemas híbridos plug-in, chassis muito competentes, habitáculos espaçosos e com qualidade muito acima da média. O Volvo S90 é o vencedor pela combinação de alguns fatores: bagageira maior, muito mais equipamento de segurança, conforto de rolamento superior e prestações inalcançáveis por parte do BMW 530e. A berlina alemã é, como se sabe, um produto de referência, que neste caso não acompanha as performances do S90 T8.