Ford Fiesta Active+ e Honda Jazz X-Road são utilitários que pouco ou nada têm de SUV, mas as respetivas marcas entenderam conferir-lhes imagens que remetem, ao de leve convenhamos, para o universo da moda. Não o afirmamos em tom de crítica, até porque o resultado é bem conseguido em qualquer dos casos, mas a verdade é que eventual semelhança com um SUV é pura coincidência. Vejamos o que os distinguem das versões normais.
No Fiesta Active+, mais 18 mm de altura livre ao solo face à berlina compacta de 5 portas, proteções inferiores negras tanto nos guarda-lamas como nos para-choques, sendo que existem, em opção, barras cromadas ou pretas no tejadilho (152 €). Quanto ao Jazz X-Road, encontramos aplicações em preto em volta das cavas das rodas e saias laterais e pintura cinzento metalizado na zona inferior dos para-choques dianteiro e traseiro, simulando placas de deslizamento ou proteções específicas dos órgãos mecânicos. Específicas desta versão são ainda as capas de espelho em preto e as jantes de liga leve de 16 polegadas.
Por dentro, num e noutro, nada de novo face às versões sem fantasia crossover, com o Fiesta a mostrar melhor qualidade geral, embora em ambos a nota dominante sejam os plásticos rijos e boa solidez de construção. Onde há diferença maior é na habitabilidade e na volumetria da bagageira, com vantagem para o utilitário japonês, que tem habitáculo espantosamente amplo para um carro com menos de quatro metros de comprimento. Vejamos: nos lugares traseiros, a distância para os encostos da frente atinge 77 centímetros, mais 11 do que o Fiesta. Depois, na largura à frente, 1,39 m contra 1,34 do Ford, diferença que aumenta para nove centímetros na largura nos bancos traseiros (1,33 contra 1,26). Há que referir, ainda, a grande versatilidade do interior do Honda, que permite várias configurações, uma vez que os bancos atrás rebatem totalmente (divisão 60:40, com o piso de carga a ficar inteiramente plano) e os assentos também podem ser fixados na vertical aos encostos, de modo a transportar objetos de maior altura. Por fim, o encosto do passageiro da frente também pode ser totalmente reclinado de forma a criar uma espécie de sofá-cama, sendo apenas necessário retirar o apoio de cabeça para o encaixar à base dos assentos traseiros. Quanto à bagageira, Jazz com compartimento de 354 litros úteis na configuração de cinco lugares, mais 43 litros do que a mala do Fiesta. Se optarmos por rebater os bancos traseiros, a volumetria da mala do carro japonês sobe para um máximo de 1314 litros, enquanto a do Ford se fica pelos 1093 litros.
Mais distinções encontramos nas soluções mecânicas propostas, com o Ford a equipar um 3 cilindros de 1 litro com injeção direta, turbocompressor e intercooler (100 cv e 170 Nm), enquanto no Honda encontramos 4 cilindros atmosférico, o conhecido bloco 1.3 i-VTEC com 102 cv e 123 Nm. O segundo mostra resposta tímida até às 3000 rpm e sonoridade muito expressiva em esforço. Já o 1.0 EcoBoost do Fiesta é mais espevitado a baixa rotação, embora se revele igualmente um pouco barulhento em esforço, sobretudo a frio, onde se notam também excesso vibrações ao ralenti. Mas no demais, fôlego e reação rápida aos movimentos no pedal do acelerador, o que origina condução despachada e prestações adequadas ao automóvel em questão. Nas nossas medições, as diferenças na aceleração entre Ford e Honda não são significativas, mas aumentam bastante quando analisamos as recuperações, com o 4 cilindros atmosférico a revelar maiores dificuldades a recuperar, notando-se a falta do turbo que a esmagadora maioria dos concorrentes a gasolina já utiliza, e o escalonamento longo da caixa de seis velocidades, pensada para beneficiar os consumos. E, nisso, cumpre, sendo fácil manter o consumo médio bastante abaixo dos 6 l/100 km. Já no Fiesta, consumos muito mais elevados, mesmo sem grandes exageros.
Por fim, na dinâmica, o Fiesta comprova os seus pergaminhos de utilitário mais dinâmico do mercado, movimentando-se de forma ágil e competente, oferecendo prazer de condução elevado. Confessamos que não notamos diferenças para a versão com menos 18 mm na altura (livre) da carroçaria ao solo, até porque a largura das vias aumentou 10 mm e as barras estabilizadoras e as molas do Active são novas e a direção com assistência elétrica tem regulação à medida. O Jazz, embora seguro, é menos vocacionado para avarias ao volante. A condução é segura e competente, mas não diverte tanto como o Fiesta.
O Ford Fiesta Active+ vence este confronto, de forma clara com o Honda Jazz X-Road. Afirma-se cristalino o triunfo, porque o automóvel da oval azul demonstra grande homogeneidade. Já o carro japonês, revela alguma fragilidade ao nível da mecânica atmosférica, sobretudo quando comparada com muito mais moderna unidade com turbocompressor. Na apreciação do habitáculo e da bagageira verifica-se que o Honda tem espaço e versatilidade inigualáveis.