A tendência para os automóveis híbridos tem vindo a crescer, tendo em conta até a narrativa ecológica que está em cima da mesa e a transição energética que se prevê. Em certas marcas, como a Toyota, essa perspetiva não é novidade e as propostas concretas (leia-se modelos!) já têm alguns anos. Agora, com a 5.ª geração do RAV4 (a 1.ª remonta a 1994, tendo até inaugurado o auspicioso segmento dos SUV), o construtor japonês evidencia a importância desse tipo de propulsão e fez progredir o modelo em toda a linha, quer na adoção da nova plataforma TNGA-K (mais 3 cm entre eixos do que antes e com baterias colocadas sob o banco traseiro, sem retirar espaço à mala), quer com o recurso a outras suspensões mais evoluídas e à mecânica derivada do recente Prius. Tudo devidamente calculado!
A estética também parece ter melhorado, à semelhança doutros Toyota contemporâneos (como o C-HR, por exemplo) e regressando às origens do formato de 1994, sendo também possível aceder a variantes 4x4 com motor elétrico adicional no eixo posterior (nesse caso com a potência total de 222 cv).
No RAV4 em exame (versão Square), a conceção recorre apenas a unidade elétrica montada à frente (88 kW) e ao motor de 2.5 litros a gasolina com 178 cv. O resultado combinado atinge 218 cv, acima do valor que é anunciado para o adversário CR-V Hybrid, razão pela qual as performances também são melhores. Já lá iremos!
Antes disso, importa referir que na Honda é mesmo a 1.ª vez que a marca propõe um modelo SUV com este género de motorização na Europa, estreia que pertence então por inteiro à sexta geração do CR-V, associando motores elétricos a bloco 2.0 i-VTEC de 145 cv, logrando alcançar a potência agregada de 184 cv (34 cv a menos do que no Toyota).
Ambas as conceções são parecidas e há alguns aspetos muito equivalentes, num mimetismo que se estende também aos vários parâmetros principais, como sejam as acelerações e as retomas de velocidade, além das emissões (C02) e consumo médio.
Se nas prestações, o RAV4 consegue superiorizar-se, o CR-V até reclama uma eficiência mais acentuada (vários graus de regeneração accionados pelas teclas no volante...) através do sistema Multi Mode Drive (i-MMD), sendo possível apontar média de consumo por volta de 5 a 5,2 l/100 km, sem preocupações, enquanto no Toyota esse registo se coloca num intervalo com valores de 5,4 a 5,7 l/100 km. Pouca diferença!
Em qualquer dos casos, graças aos modos de condução ECO e EV (este último puramente elétrico; mais extenso até no CR-V, e no máximo até 2 km), também é possível obter resultados inferiores, entre 4,4 e 4,8 l/100 km, o que chega a ser (muito) surpreendente tendo em conta os formatos e os pesos em causa. O baixo ruído dos agregados mecânicos (melhor no CR-V) e a tranquilidade com que estes SUV se movem são atributos a reportar, em especial nas manobras de parque e a baixa velocidade, embora as caixas e-CVT (tipo variação contínua) não contribuam assim tanto para esse desígnio, nomeadamente quando é pedida outra rapidez. O funcionamento da do Toyota até exibe menos esforço (mais suave do que noutros automóveis da marca...) e é mais agradável de utilizar, uma vez que a do Honda exibe mais ruído e reações bruscas nas acelerações repentinas. É mesmo preciso contar com isso para não defraudar as expetativas, mas também é possível aprender a gerir esse feitio através de uma condução por antecipação..., mais calculista, sem prejuízo das capacidades mecânicas, e sem interromper a suavidade e o silêncio que persistem nas velocidades estabilizadas. A insonorização do CR-V parece ser menos beliscada, elogiando-se o ótimo isolamento acústico, e isto apesar da grande dimensão do habitáculo, mais amplo até do que no caso do adversário, em especial na distância atrás para as pernas dos passageiros, a que se junta uma funcionalidade elevada. Familiar, sem dúvida!
Maior estranheza para a existência de um zumbido (fluxo de ar) que se escuta a partir da saída de ventilação encaixada no encosto traseiro à direita, que serve para arrefecer o módulo/pack das baterias, que se encontra debaixo dos bancos e da carroçaria.
Grande conforto, dinâmica eficaz
Talvez se pudessem levantar suspeitas acerca da capacidade dinâmica dos SUV em teste, tendo em conta o tipo de estrutura, dimensões e pesos. Mas, de facto, a avaliação é positiva para ambos, apesar da velocidade máxima estar restringida aos 180 km/h. Quase normativo nos automóveis híbridos!
Com pneus Bridgestone Dueler (medidas 235/60 R18), o conforto projetado pelo amortecimento do CR-V está um bocadinho acima do que acontece no adversário da Toyota (recurso a Dunlop Grand Trek 225/60 R18), em especial nos pavimentos irregulares, ao mesmo tempo que os ruídos aerodinâmicos e de estrada do RAV4 também não são tão atenuados (Cx de 0,32).
No que se refere ao comportamento, o chassis/plataforma do RAV4 impõe outra atitude, que se percebe nas reações mais precisas a curvar, desdobrando-se a condução pelos modos ECO, Normal e Sport, este último mais assertivo, sendo igualmente permitido trocas sequenciais/manuais das relações no seletor da caixa. Já no CR-V, não existe essa hipótese e apenas se selecionam os modos Drive (D), marcha-atrás (R), N (neutro) e P (Park) através de teclas diretas. A resposta da mecânica e da e-CVT também é modificada pelos programas ECON, Sport e EV, embora sem demasiada diferença por parte do modo desportivo.
Em qualquer dos casos, a qualidade da condução progrediu face às anteriores gerações, embora a envolvência suscitada pelo RAV4 esteja num patamar acima, algo que se entende na menor oscilação da carroçaria em curva e nas reações neutrais nas travagens bruscas. Mesmo que a distância aferida a partir de 100 km/h até a imobilização total seja superior (39,3 m contra 38,4 m do CR-V), a frente afunda menos nessas circunstâncias, sem se refletir tanto a altura e o peso, num maior equilíbrio de massas e centro de gravidade inferior.
Em matéria de equipamentos há uma vantagem ligeira da versão Square da Toyota face à Lifestyle da Honda, mas ambas estão bem equipadas, sendo possível destacar a qualidade geral dos forros e o rigor das montagens. Quanto às garantias, a Honda propõe agora 7 anos com quilometragem ilimitada.
Este despique híbrido é resolvido em pequenos pormenores e a pontuação final acaba por ficar muito próxima. Há alguns parâmetros que são favoráveis ao novo CR-V, tais como a habitabilidade, em especial atrás, além da melhor insonorização a bordo e o conforto da suspensão, logrando atingir ainda um consumo médio inferior, embora a diferença seja muito curta. Por sua vez, o RAV4 tem melhor dinâmica e prestações mais rápidas (34 cv adicionais), ao mesmo tempo que a caixa e-CVT não exibe reações tão bruscas. Feitas as contas, a vitória sorri ao Toyota...