Cada qual com o seu jeito, ambos do tipo coupé, mesmo que até sejam direcionados para a família. É óbvio que o espaço existente nos lugares traseiros é mais limitado do que noutros casos, mas ainda assim o formato descendente dos tejadilhos não é claustrofóbico para quem ocupa esses locais. Um nadinha melhor no 508 do que no CLA, é certo, embora as medidas sejam quase idênticas: 88 e 86 cm na altura medida atrás, respetivamente, além de 72 e 73 cm (invertendo-se aí a posição...) no que se refere ao comprimento para as pernas até aos encostos dianteiros. Pouquíssima diferença!
Na largura entre portas (com janelas sem molduras), a fita métrica também regista dados equivalentes: 140 cm no CLA e 138 cm no 508, à frente, além dos 136 cm atrás no Mercedes-Benz e 134 cm no Peugeot. Já a volumetria da mala é superior no automóvel francês, o qual tem a vantagem de recorrer à abertura automática do portão, tendo acesso mais prático e área ampla, pelo menos à vista desarmada, uma vez que os valores anunciados não estão distantes, apenas com 27 litros a favor do Peugeot. A própria conceção de 5 portas do 508 também lhe confere vantagem, por contraponto à carroçaria 4 portas do CLA, com a mala em separado e... isolada do habitáculo! Essa é, talvez, a única grande diferença, uma vez que as coincidências ressaltam para lá dos formatos e das dimensões exteriores, ambos com mecânicas Diesel de baixa/média cilindrada e equipamentos muito sofisticados. Neste último aspeto, o CLA sobressai pelo tipo de materiais/forros (linha AMG incluída, por exemplo) e pela personalização permitida, à semelhança de toda a gama Classe A, quase sem igual no interface e na configuração digital a bordo (ecrã central e painel de instrumentação), além de contar com o sofisticado sistema MBUX («Olá, Mercedes»!) com instruções por voz.
A qualidade dos revestimentos do 508 também é elevada, ainda para mais na versão GT Line em teste, tendo um interior igualmente configurável e onde sobressai o grande painel digital à frente do condutor (de ótima resolução gráfica), no qual é possível selecionar várias funções e assistências à condução, inclusive o sistema de Visão Noturna (Night Vision) com reconhecimento de peões, tecnologia pouco usual nesta categoria. Tanto num caso como noutro, através da generosa dotação de equipamentos, há a tentativa de esticar o lado premium de cada modelo, algo que acaba por castigar o preço final das versões em disputa, quase sem se suspeitar do que está por debaixo do... capot.
De facto, a natureza das mecânicas é outro ponto em comum, embora o 1.5 BlueHDi da Peugeot (16 válvulas, duas árvores de cames) tenha mais potência (130 cv) do que o propulsor de 1461 cc do CLA (116 cv, de 8 válvulas) de origem Renault (antes com 109 cv). Essa diferença é projetada nas sensações de condução, embora as medições principais confirmem valores bastante próximos e, nalguns casos, favoráveis ao modelo da Mercedes-Benz, este mais rápido nas acelerações (9,8 s até 100 km/h, menos 1 s do que o anunciado) e em certas reprises. Isso acontece por culpa da transmissão automática 7G-DCT de dupla embraiagem, a qual se ajusta de forma adequada ao ímpeto do motor a baixo regime, fazendo-o progredir de modo eficaz e sem grandes hiatos. É claro que é possível pressentir a limitação da potência, mesmo no programa Sport (pouco diferenciador...), sem que as prestações obtidas possam ofender a imagem da 2.ª geração do CLA Coupé. Só é pena que o ruído Diesel não seja inferior, inclusive ao ralenti, a frio e nas acelerações mais fortes, aí com a caixa 7G-DCT a colaborar menos. Nada de mais!
O consumo médio alcançado é muito meritório, quase ao nível do bloco 1.5 BlueHDI do adversário, este com caixa manual de 6 relações, sendo possível registar valores entre 5,8 e 6,3 l/100 km, sem quaisquer cuidados acrescidos ou truques de poupança, embora também seja permitido aceder ao modo ECO, estrategicamente mais eficiente.
E estes resultados quase surgem por oposição à atmosfera da linha AMG, que acrescenta detalhes especiais, tais como grelha, escape duplo, faróis LED e jantes em liga leve de 18’’, além dos bancos tipo bacquet (em pele/Alcantara), assim como teto interior e pilares a preto.
Outro dado importante diz respeito à competência dinâmica assegurada (plataforma MFA II, 4.ª geração do Classe A), mesmo que os pneus Pirelli Cinturato P7 não evitem reações firmes (e mais secas) nos asfaltos irregulares. As vias são agora mais largas e as barras estabilizadoras foram revistas, a par do software do ESP. No caso do Peugeot, a capacidade dinâmica é igualmente competente e o tato do (pequeno) volante bastante agradável, assim como a envolvência do posto de comando, ligeiramente diferente da do CLA, até porque o recurso à caixa manual a isso obriga, com o seletor bem... à mão! Note-se que também é possível optar por uma transmissão automática de 8 velocidades, cujo custo acresce 2200 €.
O trabalho da mecânica Peugeot não é tão áspero e o escalonamento da caixa manual é correto, o que permite um desempenho justo e equilibrado, atestando a validade e a conceção da plataforma e das suspensões, assim como o emagrecimento estrutural e os cuidados aerodinâmicos levados a cabo pelo novo modelo, sem se excluir a firmeza e o maior ruído dos Pilot Sport4 235/45 ZR18.
Os consumos são bastante regrados (5,7 a 6 l/100 km) e a resposta do motor pode variar um bocadinho consoante os modos de condução selecionados (Sport incluído), mesmo que as diferenças não sejam muito evidentes. A direção é mais comunicativa do que no caso da do adversário, embora a precisão se possa equiparar, especialmente nos troços sinuosos, e isto apesar do inferior centro de gravidade do 508. Em curva, as atitudes são eficazes e com tendências subviradoras, algo que é normal nos tração à frente.
Registe-se ainda a excelente capacidade de travagem do Peugeot (34,7 metros desde 100 km/h) e, no CLA, a intervenção brusca da travagem ativa à eventual transposição da faixa de rodagem.
À boa maneira dos coupés, ambos têm posições baixas de condução, incluindo ótimos bancos. Por fim, com tanto equipamento e tanta opção, os preços finais são exagerados. No mínimo!
A envolvência da posição de condução (i-Cockpit) e o (pequeno) volante transmitem a abordagem quase desportiva que a Peugeot quis projetar para o novíssimo 508, acrescentando-lhe, neste caso, a exclusividade do nível GT Line, mesmo numa versão 1.5 turbodiesel. Antes assim! Na versão em teste do CLA Coupé (2.ª geração), é promovida uma estratégia muito semelhante, esticando-se a imagem (e o próprio estatuto) de um automóvel (4 portas) com mecânica de 1461 cc Diesel originária da Renault, devidamente afinada, é certo, com caixa automática 7G-DCT. A apreciação final é muito meritória para ambos, mas há critérios objetivos que favorecem o 508...