A Mercedes-Benz torna mais acessível a porta de entrada na gama do GLC Coupé com nova versão em patamar inferior de potência do motor Diesel de dois litros, com 163 cv, e sem tração integral (apenas traseira), baixando-lhe 3150 euros o preço (de base e sem opcionais), para 59.950 € contra 63.100 € com o sistema 4Matic. O fabricante alemão aplica a mesma fórmula na versão a gasolina 200, de 198 cv, e no GLC (carroçaria comum) igualmente no Diesel 220 d de 194 cv, e também com inerente favorecimento no preço.
No entanto, a unidade do GLC Coupé que aqui confrontamos com o DS 7 Crossback tem 4400 euros em extras, que lhe inflacionam o custo final até aos 64.350 euros, que projeta desde logo o custo do SUV médio da Mercedes-Benz para longíssimo do poder de compra da esmagadora maioria dos portugueses, remetendo-o a uma elite endinheirada que aprecia a estética fortemente estilizada, o status e o prestígio dos SUV de nova geração, que já abandonaram a vocação original para a evasão na natureza.
Um público tão ou mais ambicioso no culto da imagem é o alvo preferencial do DS 7 Crossback, modelo que cultiva a ostentação visual e é o exemplo da ambição estatutária da ainda jovem marca do Grupo PSA, de ser premium. O construtor francês tem sido esclarecedor sobre a sua capacidade de produzir bons automóveis e a pretensiosismo da DS foi assumido desde a sua criação, primeiro como submarca da Citroën, em 2009, e depois como emblema autónomo, em 2014. Mas a DS nasceu já envelhecida, passou quase uma década a definhar com uma gama de modelos da Citroën em fim de ciclo de vida sob maquilhagem vanguardista, e num último assomo rejuvenesceu. Ou melhor, renasceu, por arrasto da modernização técnica e tecnológica do consórcio industrial a que pertence. Novas plataformas e motorizações, novos estilos e conceções interiores, e todas as tecnologias mais avançadas da indústria automóvel em cada segmento têm dinamizado o Grupo PSA e, por consequência salvadora, proporcionaram à DS assumir, enfim, o seu sentido original: a jovialidade sofisticada.
O Mercedes-Benz GLC Coupé mede mais 17,2 cm de comprimento e baseia-se numa plataforma que dista mais 13,5 cm entre eixos do que a do DS 7 Crossback. Medidas exteriores acrescidas que revertem em cotas interiores condizentes – mas apenas na habitabilidade, em que o SUV alemão é significativamente melhor, reservando-se ao francês a bagageira mais ampla. Nos lugares posteriores, os mais sensíveis para os passageiros – uma vez que os dianteiros são quase sempre privilegiados –, o GLC Coupé tem mais centímetros livres em todas as direções mesuráveis, enquanto o 7 Crossback contrapõe com mais 55 litros de capacidade de carga na configuração normal da bagageira.
Ainda por dentro dos dois automóveis, outras dissemelhanças e uma… igualdade. Explicando: no interior, em que a qualidade de construção é equiparada – de facto, a DS pode comparar-se à prestigiada Mercedes –, há um mundo de diferenças. Desde logo, no design e na matriz conceptual do habitáculo, com o painel de bordo no epicentro. O Crossback usa e abusa dos elementos estéticos impactantes, o GLC restringe-os ao mínimo indispensável. Para acirrar a sua pretensão premium, o DS 7 carrega-se de equipamentos de conforto e cortesia, digitaliza-se integralmente, o Mercedes-Benz privilegia a sofisticação discreta, com o desenho de mão dada com a ergonomia. O SUV francês exagera e peca neste aspeto. Entre exemplos, destaca-se a qualidade superior de definição dos ecrãs do carro germânico e do software do sistema de infoentretenimento, permitindo melhor legibilidade e uma utilização mais intuitiva. Díspares também são as posições de condução: a do DS 7 é tipicamente de SUV, sobre-elevada, e a do GLC Coupé mais baixa, mais próxima à de uma berlina/carrinha, o que não quer dizer mais virtuosa, pelo contrário, atentando às preferências dos apreciadores de SUV, que gostam de guiar nas alturas.
Vamos para o volante, ligamos a ignição (nos dois em botões) e arrancamos para a estrada – asfaltada, porque estes SUV são assumidamente (e quase exclusivamente) urbanos e estradistas. Como a maioria dos seus congéneres modernos. As performances dos dois veículos não refletem o rendimento dos seus motores. Ou seja, o mais potente e leve, o DS 7 Crossback, tem prestações semelhantes às do GLC Coupé. Ou os 180 cv e 400 Nm retirados do bloco Diesel do Grupo PSA são insuficientes para os 163 cv e 360 Nm da mecânica da Daimler, e ambos com cilindrada idêntica: dois litros. E como se explica isso? Talvez na maior desmultiplicação da transmissão, de nove velocidades no Mercedes e de sete no DS. Ambas automáticas e de conversor de binário. As prestações de GLC Coupé 200 d e DS 7 Crossback 2.0 BlueHDi não são fator de diferenciação. Ambos são suficientemente enérgicas para agilizar os dois SUV em todos os ambientes rodoviários, respondendo com elasticidade desde baixos regimes, sempre amparados nas respetivas transmissões para lhes otimizar o débito a cada momento e solicitação do acelerador. Jogo muito igual, que o funcionamento dos motores (sonoridade e vibrações contidas) ou das referidas caixas desempata, embora a do modelo alemão seja mais eficiente pelo maior número de relações.
Todavia, o seu consumo, sim, faz diferenças. E neste caso, o carro mais pesado e menos potente é mais económico: o Mercedes, com 6,5 l/100 km médios aferidos neste teste, em ciclo misto, gasta menos 1,5 l/100 km (em redor de) do que o DS, o que não é depreciável.
Ainda na estrada observa-se a maior das diferenças, de todas – e não são poucas, como já as descrevemos –, entre os contendores em confronto: o comportamento dinâmico. O Mercedes GLC Coupé tem melhor estabilidade em curva e deve-a às qualidades superiores do chassis – a que a maior distância entre eixos não é escamoteável para essa valorização – à afinação mais correta do amortecimento das suspensões (nos dois automóveis independentes às quatro rodas), restringindo o natural adorno da carroçaria, a que também não é alheio o centro de gravidade inferior. Comparativamente, o DS 7 Crossback inclina-se mais perante os movimentos da direção – e quanto maior for a velocidade, acentua-se esta tendência -, motivando algumas descompensações em percursos mais sinuosos. Todavia, sem fazer perigar a estabilidade e a segurança.
De resto, o SUV francês nem sequer contrapõe com conforto superior ao do GLC Coupé, que junta a eficácia da dinâmica à filtragem das irregularidades do piso, embora nos ressaltos mais pronunciados (tipo bandas sonoras e afins) enferme de maior secura no amortecimento, gerando batidas inconvenientes.
A DS tem automóvel pretensioso no topo da gama, que aponta assumidamente ao segmento premium e nem por isso deve ser criticada por excesso de otimismo, ousadia ou de soberba. O DS 7 Crossback é um ótimo automóvel, quiçá demasiado impactante visualmente, recheado de equipamento de vanguarda e espaçoso e confortável q.b., e ainda com motor Diesel bastante enérgico. Todavia, o Mercedes-Benz GLC Coupé 200 d equipara-se na qualidade de construção, na dotação tecnológica, na habitabilidade e nas performances, e ainda se superioriza na dinâmica, no consumo e – imagine-se – no preço.