O VW Passat é uma das principais referências do segmento D, tanto na variante berlina, como carrinha (Variant), contando já com oito gerações (mais de 45 anos desde o lançamento do modelo original) e mais de 30 milhões de unidades comercializadas por todo o mundo. Números que tornam o modelo alemão num dos mais relevantes da história do automóvel. O Passat foi agora atualizado, cabendo-nos avaliar a variante mais familiar, a carrinha, frente à cogénere da Peugeot, a nova geração do 508 SW.
A importante atualização de que foi alvo o Passat abrange diversas novidades na imagem exterior e interior e nos capítulos da segurança, ajudas à condução e conforto. É difícil de encontrar diferenças estéticas importantes face ao modelo anterior, mas a verdade é que existem: para-choques dianteiro e traseiro redesenhados, grelha dianteira alterada, faróis em LED com nova assinatura luminosa – que podem receber o opcional do sistema Matrix nos faróis dianteiros –, novas cores para a carroçaria e novas jantes de liga leve com diâmetros de 18 e 19 polegadas consoante o nível de equipamento.
No habitáculo, destaque para as novas cores e inserções decorativas, bem como para o novo desenho da consola central, para o novo volante e para o painel de instrumentos digital Active Info Display que já foi utilizado noutros modelos da marca alemã. Realce, ainda, para a atualização do sistema de infoentretenimento de conectividade com nova geração do sistema multimédia MIB3. Uma série de sistemas modulares de infoentretenimento com cartão SIM integrado que permite ao We Connect, serviços de conectividade e ligação em rede, diversas funcionalidades como streaming de música, rádio web, aplicações digitais ou controlo por voz, entre outras. Gostámos do novo sistema de infoentretenimento do Passat, quer pela facilidade de utilização, como pela possibilidade de aceder de forma simplificada a informações como o trânsito em tempo real e a outros serviços online. Mas atenção, reforçamos a importância de evitar a utilização de telemóveis e outros sistemas lúdicos do automóvel durante a condução, pois está mais do que provada a relação entre essa utilização e o aumento da sinistralidade rodoviária. A esse respeito, refira-se que o ecrã do Passat está colocado numa posição demasiado baixa na consola central, o que obriga o condutor a baixar demasiado o olhar para o visualizar. Sendo certo que muitas informações podem ser consultadas na instrumentação ou no head-up display (opcional, neste caso), o ecrã é sempre um foco de distração. Assim, a nota elevada global que o Passat nos merece em ergonomia é ligeiramente beliscada pelo ecrã.
Idêntica avaliação tem o Peugeot 508 SW, pois também no automóvel francês o ecrã central surge numa posição muito baixa na consola. Na restante apreciação ergonómica, contudo, a irreverente carrinha da marca do leão merece-nos nota alta, pois parece que nos encaixamos no habitáculo. Mérito do conceito do Peugeot i-Cockpit, que tem vindo a ser aperfeiçoado e neste 508 surge bastante convincente (mesmo que o volante pequeno ainda não seja consensual), fazendo sentir-nos bem encaixados no banco e perfeitamente enquadrados com volante e tudo o que está à nossa volta, nomeadamente com o enorme painel de instrumentos digital. É fácil encontrar a melhor posição em frente ao volante, que também encaixa bem nas mãos, quase dando a sensação de que se trata de um joystick de um videojogo. É verdade que a solução se estranha, mas depois entranha-se e torna-se agradável de utilizar.
Já no que toca aos materiais utilizados na conceção do habitáculo, são globalmente de boa qualidade, havendo, no entanto, alguns elementos em plástico rijo e acabamentos pontuais menos cuidados. O Passat Variant destaca-se pela positiva no que toca à qualidade de materiais e de acabamentos, apresentando-nos um habitáculo muito cuidado e globalmente de muito boa estirpe, ao nível do que de melhor se faz no segmento.
Outro argumento particularmente forte da carrinha alemã é a habitabilidade, não dando muitas hipóteses ao rival de ocasião. Vejamos, na largura à frente, o Passat oferece mais três centímetros, diferença que desce para dois nos lugares traseiros. Contudo, nessa posição, a carrinha alemã garante mais oito centímetros em comprimento para os ocupantes arrumarem as pernas; na altura, VW também melhor, com mais três centímetros.
Recuando mais um pouco até às bagageiras, apuramos diferença gigante, de 120 litros, a favor do Passat Variant, muitíssimo maior. Curiosamente, com o rebatimento dos bancos traseiros, a volumetria oferecida pelas duas carrinhas é igual... 1780 litros.
No que toca às mecânicas, o Peugeot utiliza motor 2.0 BlueHDI de 180 cv muito redondo e igualmente capaz de proporcionar condução sem hiatos, mesmo que a caixa de velocidades não seja particularmente rápida, o que se nota sobretudo nas recuperações mais exigentes. Já o Passat está equipado com estreante 2.0 TDI Evo, de 150 cv, que dispõe de novo sistema de tratamento de gases de escape e duplo circuito de gestão térmica, além de válvulas otimizadas, bomba de óleo de caudal variável e diversos outros aperfeiçoamentos técnicos para redução de atrito interno. A cambota também foi revista, beneficiando de rolamentos mais pequenos e há um novo conjunto de segmentos para os êmbolos. Acoplado a caixa automática DSG de 7 velocidades, o TDI oferece condução fluida e despachada na generalidade das situações, e isto sem aumentar demasiado os consumos, como prova a excelente média de 6,5 l/100 km que apurámos, apenas 1,1 l/100 km acima do valor oficial. O Peugeot é mais competente em aceleração, mas essa maior disponibilidade para acelerar acaba por pagar-se nos consumos, com média de 7,1 l/100 km. Curioso é o resultado das retomas, com o Passat, que tem menos 40 Nm de binário, a impor-se em duas das três recuperações medidas, tendo perdido a terceira por irrisórios 0,1 s.
Nota final para a excelência do comportamento dinâmico da carrinha 508, capaz de oferecer prazer de condução em estradas sinuosas. Não é rapidíssima nas curvas, mas a agilidade chega para divertir. Já o Passat, é só competente na dinâmica, mas é mais confortável que o Peugeot, cujas ligações ao solo são mais firmes, que se agrava por estar calçado com jantes de 19’’.
Embora muito diferentes, as carrinhas Peugeot 508 e VW Passat estão bastante equilibradas em termos de qualidade global. Olhando para o resultado final, vantagem para o Passat, poderá pensar que nos estamos a contradizer, mas uma carrinha e outra têm os seus pontos fortes e o desequilíbrio a favor do VW assenta em dois apontamentos: espaço (no habitáculo e na bagageira) e preço. Não temos dúvidas de que há público para ambos os produtos, um mais irreverente, o Peugeot, constituindo verdadeira revolução em termos de imagem no segmento D, e Passat mais tradicional, alinhando pela lógica elegante e discreta que pauta esta categoria.