O Peugeot 208 beneficia da introdução de geração 100% nova, a segunda desde o seu lançamento, em 2012, quando arrancou para performance comercial interessantíssima, ultrapassando largamente a barreira do milhão de unidades na Europa, arrecadando parcela importante do mercado dos utilitários. É popular porque é, também, um dos mais competentes da sua categoria. E a marca do leão não quis facilitar o reforço de argumentos. A nova geração do 208 apresenta-se com estética muito modernizada, novos equipamentos e gama de motores mais eficientes. A plataforma também é nova, a versátil CMP, estreada no DS 3 Crossback, marca premium do fabricante francês.
O primo Corsa também conta com esta base. A integração da Opel na PSA, formalizada em 2017, atrasou o programa de desenvolvimento da nova geração do Corsa, a 6.ª desde 1982. E o novo plano incluiu mudança desde os alicerces, com adoção de arquitetura moderna, que permite a coabitação de mecânicas térmicas e motores elétricos.
O Corsa, lançado originalmente em 1982, é o best-seller da Opel, que já vendeu globalmente cerca de 13,6 milhões de unidades do seu utilitário. O ano passado, as vendas do subcompacto da marca do relâmpago abrandaram 6,8%, o que provocou derrapagem no ranking dos modelos mais populares no Velho Continente, para a 6.ª posição. Por tudo isto, não é complicado perceber porque é automóvel decisivo para a estratégia de crescimento da casa de Rüsselsheim, sendo que esta nova geração (F) será a que irá cortar o cordão umbilical com todas as outras. No novo Corsa, as dimensões exteriores mudam pouco, com o comprimento a aumentar de 4,021 para 4,060 metros. A alteração mais importante é a da altura, que diminui em 48 mm. E com esta, o utilitário ficou também mais apertado. Sob jugo da fita métrica, comparando-o com o modelo que sai de cena, o novo utilitário alemão tem mais 2 cm de largura à altura dos ombros para os ocupantes dos lugares dianteiros, mas atrás há menos 6 cm naquela medição. Medidas que só não são decalcadas a papel químico das do parente 208, porque os dois modelos diferem muitíssimo no design, mais conservador no carro alemão, mais arrojado e moderno o francês. A imagem impactante do pequeno leão confirma que o 208 nunca esteve tão bem preparado para competir pelo título de referência no segmento dos utilitários. O design do utilitário da marca do leão é definido pelo atrevimento, destacando-se as três garras como assinatura visual nas óticas com luzes de LED ou tampa da mala com uma faixa negra que une as óticas ao melhor estilo 911.
Também a anos luz do que fez a Opel em matéria de estilo, o habitáculo do Peugeot é inovador, a começar pela nova interpretação 3D do painel de instrumentos digital i-Cockpit – nos acabamentos de topo –, com diversos painéis informativos e cenários de visualização, cuja profundidade da projeção ajuda a cativar. Já no tablier, em posição horizontal, surge o monitor tátil do sistema multimédia, direcionado para os olhos do condutor, que pode ser de 5,7 ou 10’’, também consoante as versões e nível de equipamento. E existem teclas de atalho para os principais menus.
Conjunto de qualidade que se completa com o conhecido mini-volante com o volante estreado na geração nova do 3008, que tem a parte de cima plana, para deixar ver melhor o painel de instrumentos, corrigindo falha antiga. Na frente, como no Corsa, existe espaço mais do que suficiente. Mas, nos lugares posteriores, também. Não é a referência do segmento, reconheça-se, mas o compacto transporta quatro adultos sem problemas. E o mesmo se aplica ao compartimento da mala, com 309 litros de capacidade máxima. Empate técnico a toda a linha, embora a conceção de maior envolvência ao posto de condução no 208 possa permitir uma sensação de maior aperto naquela secção do automóvel. Sensação que a fita métrica não confirma...
A posição ao volante do Corsa beneficiou com a intervenção na altura do assento do condutor, que baixa 28 mm. E depois, com rigorosa dieta, reduziu-se o peso até 180 kg face ao antecessor, permitindo condução mais divertida. A ideia que se deixa levar com dois dedos é corroborada pela suavidade notável de todos os comandos essenciais à condução, sem que isso se traduza num feedback mais pobre. São notórias as diferentes reações do novo Corsa na estrada, exibindo um pisar muito mais tolerante e equilibrado no casamento com a perceção de segurança em curva. Agora, todo o conjunto parece trabalhar em sintonia total, com o eixo traseiro a surgir mais agarrado à estrada e mais obediente, o que muito ajuda à precisão da dianteira.
No 208, a Peugeot consegue oferecer tudo isso (ou não fossem muito, muito próximos), mas acrescenta-lhe uma superior capacidade informativa da direção e um notado aumento de agilidade e precisão em curva, pela afinação mais desportiva das ligações ao solo.
Se há parente pobre a apontar neste conjunto, apenas o (idêntico) Diesel que está debaixo dos capots, e tão-só pelo elevado ruído de funcionamento. Fora este, o motor 1.5 de 100 cv é económico, permitindo fazer mais de 700 km com 41 litros de gasóleo com que se atestam os depósitos, e cumpre bem na utilização citadina, mostrando apenas algumas limitações em autoestrada, pedindo-se superiores velocidades de cruzeiro para não ter de se engrenar a 5.ª velocidade nas subidas mais pronunciadas.
Se a imagem é argumento n.º1 nas vendas de automóveis, então a Peugeot parte em vantagem para este duelo entre primos. E não apenas pelo muito bem conseguido exercício de estilo (sempre subjetivo), em linha com os lançamentos recentes da marca. Face ao Opel Corsa, com que partilha plataforma, motor e quase tudo o resto, o utilitário francês também se destaca pela apresentação do habitáculo, que tem mais qualidade e tecnologias. Conjunto de argumentos que vale pontos (e vendas), e que a marca alemã faz por compensar com a oferta de melhor relação preço/equipamento. Mas porque o 208 oferece condução (sempre) mais envolvente, a vitória não escapa ao leão.