Os automóveis Diesel estão em verdadeira contraposição ao mercado, mas mesmo depois de as políticas ambientais terem ‘diabolizado’ os seus motores, ainda tão eficientes. Apesar dessa tendência, juntámos dois modelos a gasóleo que ainda resistem à transição para a gasolina e elétrico.

As notícias não são animadoras para os Diesel na Europa, até porque o horizonte de 2035 já se encontra próximo. É já ali...! Aliás, a partir desse ano, a venda de automóveis novos com motor a combustão será interdita no Velho Continente, mesmo que essa medida não se aplique a todos os mercados mundiais. Até lá, os Diesel percorrerão, certamente, um trajeto bastante penoso, mesmo que ainda possam ser modelos bastante válidos sob inúmeros aspetos.
Esse é o terrível paradoxo que se pressente nas gamas do DS 4 e do Audi A3, ambas com motorizações Diesel modernas e pouco poluentes, mas cujo estigma é preciso ultrapassar. Se se esquecer a narrativa que preside à diabolização destas mecânicas, a análise per si desvenda alguns trunfos que são difíceis de igualar por outras propostas, nomeadamente em matéria de consumos e de economia e, já agora, em termos de autonomia, um dado tão em foco na atual agenda dos automóveis.

A reconhecida sigla TDI volta à ribalta no Audi A3, neste caso numa versão de acesso à gama (30 TDI) com uma potência anunciada de 116 cv, numa espécie de atualização do bloco 2.0 TDI que também equipa outras versões. Para atenuar o lado das emissões (NOx), o A3 Sportback recorre à solução AdBlue, exatamente como sucede no bloco 1.5 BlueHDi da Stellantis (antes PSA), que equipa o modelo da parisiense DS. Esta última é uma marca com posicionamento diferenciado e de pretenso luxo, e isto apesar do segmento em causa, pelo que o contraponto com a atual geração do A3 (substitui a de 2016), referência na classe, surge de forma natural.

À primeira vista, por fora e por dentro, a estética do DS 4 é mais marcante, sendo um modelo mil vezes mais desenhado, além de ter outros pormaiores diferentes, como a maior dimensão da grelha (preto brilhante) e a verticalidade dos grupos óticos LED e em formato de asa, além de frisos e contornos especiais, assim como falsas saídas de escape cromadas. Sem esquecer os puxadores de portas embutidos na carroçaria (à face) e de abertura automática.

No habitáculo, o DS é ainda mais sofisticado do que o A3, como se vê na iluminação háptica (basta deslizar o dedo junto às luzes de cortesia) e através de alguns forros, tecidos e revestimentos. A própria dimensão, formato e contorno dos bancos (com apoios laterais mais pronunciados) também sugere uma melhor perceção ao nível do conforto, o que se verifica na prática, além de uma superior ergonomia e interação do condutor com as funções de bordo. No A3, a introdução de infotainment mais avançado (ecrã central de 10,1’’) é mais-valia a ter em conta, decalcando o ambiente gráfico e funcional dos topos de gama da Audi, embora a versão em causa (Base) não usufrua de grandes mordomias, tendo apenas o essencial, sem prejuízo do que é standard ao nível dos equipamentos de segurança.

No caso do DS 4, a versão Performance Line é mais luxuosa do que a base de gama (Bastille+), acrescentando bancos em Alcantara (de série), câmara à retaguarda, sensores acústicos de ajuda ao estacionamento à frente e atrás, jantes em liga leve de 19’’ e volante em couro com inserções em carbono, entre outros itens. Está uns furos acima da do Audi nesse domínio, mas isso reflete-se no preço, quase 8 mil euros acima. Note-se que o A3, como é usual na Audi, também poderá configurar-se com vários opcionais, consoante as preferências (e a versão), mas aí o preço tornar-se-á bem diferente. Há opções avançadas que não são comuns no segmento, como por exemplo os faróis LED Matrix, head-up display ou o amortecimento adaptativo/variável, entre outros, os quais também existem na gama DS 4.
Prestações equivalentes
Apesar da maior potência do 1.5 BlueHDI do DS 4 (de 130 cv), o A3 equipara-se ao nível das prestações e, nalguns casos, é um nadinha superior (acelerações), por culpa do igual binário do bloco de 1968 cc (300 Nm) e do ajuste sincronizado da caixa manual, cujo engrenamento é suave. Aliás, toda a condução do Audi, que utiliza a base do VW Golf (MQB II), é confortável e levezinha q.b., inclusive com boas reações por parte da suspensão e da direção, embora o ruído de estrada pudesse ser inferior, numa culpa que também é repartida com os pneus Nexen 205/55 R16. A dinâmica é equilibrada, mas a travagem alonga-se mais um pouco do que a do adversário: 38,8 metros a partir de 100 km/h contra 37,8 m do DS 4.

O conjunto carroçaria/chassis do A3 adorna pouco, mesmo que, neste caso, não se exija muito esforço em curva, inclusive se se selecionar o modo Dynamic mais desportivo, o qual nem sequer altera de forma significativa a resposta da mecânica. A acústica do bloco Diesel foi atenuada face ao antecessor e os consumos são baixos, sendo fácil atingir valores próximos dos 5 litros/100 km (às vezes menos...), embora o intervalo mais usual se coloque entre 5,3 e 6,2 l/100 km. Já o registo médio do DS4 inicia-se nos 5,8 litros/100 km, sendo mais difícil baixar esse valor, inclusive no modo ECO, detetando-se aí maior arrastamento nas passagens da caixa EAT8 automática (8 velocidades), algo que é menos notado no Normal e Desportivo, este último sem alterar muito a resposta do motor Diesel, da direção (um bocadinho mais firme) e da caixa.
Apesar disso, a matriz da condução assenta numa grande suavidade, a par de excelente equilíbrio, inclusive a curvar. É imediata a perceção do bom isolamento do habitáculo (vidros acústicos) e do conforto da suspensão, sem prejuízo da firmeza dos Michelin e-Primacy (205/55 R19), a qual é anulada nos asfaltos normais. Por fim, em ambos, resta elogiar as tão resistentes autonomias: de 780 a 855 km, em média. Pois!

Pode um Audi perder discussão com um DS? Porque não? O prestígio da marca alemã não é beliscado face ao DS 4 1.5 BlueHDI de 130 cv com transmissão automática, apesar de a derrota se ficar a dever, por um lado, à qualidade geral superior do modelo francês, a que se acrescenta a modernidade dos detalhes e equipamentos da versão Performance Line. A condução, o conforto e o desempenho do BlueHDi/EAT8 são outros trunfos do DS 4, num escrutínio que deixa o A3 algo distante, mas nem por isso menos bem... visto.