Mantém-se fervorosa a febre pelos SUV, sejam pequenos, médios ou grandes. O formato não despega das preferências, levando algumas marcas a aproveitar a onda e a embarcar em aventuras elitistas (e financeiramente rentáveis), aproveitando a prata da casa (como as mecânicas potentes) para dar vida a modelos que, rapidamente, se tornaram especiais e (especialmente!) apetecíveis a clientes... não menos excêntricos – mesmo que SUV esteja longe de conseguir rimar com desportivo...
Na BMW, são já vários os SUV com a chancela M, tendo sido o X4 (tal como o X3) estética e tecnologicamente modernizado, mantendo a companhia do motor 6 cilindros biturbo de 3 litros de capacidade que também dá vida aos M3/M4, embora agora com um pouco mais de binário. Ao todo, são 510 cv e 600 Nm ligados à estrada por sistema de tração integral e caixa automática de 8 velocidades, não faltando um diferencial traseiro para melhor controlar os desvios de potência nesse eixo.

Face à escalada de procura pelos SUV da BMW M (e também pelos AMG da Mercedes), a Jaguar não resistiu em estender a chancela SVR ao muito competente F-Pace, versão que também herdou as melhorias e atualizações introduzidas na gama do SUV em 2021. Na base está muitíssimo nobre mecânica sobrealimentada de arquitetura V8, de vigorosos 550 cv e agora 700 Nm de binário, igualmente ligada a sistema de tração integral, caixa automática de 8 velocidades e diferencial traseiro ativo. Ou seja, as principais diferenças (mecânicas) entre BMW e Jaguar estão mesmo na arquitetura do motor – e já vamos ver o quanto esse pormenor faz toda a diferença.
BMW ao estilo ‘gaming’
Além das novas evidências estéticas, caso das entradas de ar verticais nas laterais dos novos para-choques, ou mesmo as óticas mais afiladas (em que as dianteiras podem recorrer à tecnologia laser de iluminação de longo alcance), o X4 viu a experiência e o ambiente interior amplamente modernizados com novos elementos digitais para o painel de instrumentos e multimédia, este último de maiores dimensões e de excelente qualidade gráfica. Para este M está ainda reservada uma vivência desportiva ao melhor estilo do gaming, assente numa quase total modelagem de afinações e preferências ligadas à condução.

Na nova e ergonomicamente melhor arrumada consola central do X4, além do novo comando para a caixa automática (que inclui botão para ajuste direto dos níveis de rapidez das engrenagens), o comando Setup abre portas à calibragem (em três níveis) da direção, amortecimento e da resposta do motor ao acelerador.
Para intensificar a experiência dinâmica, a BMW dá ainda hipótese ao condutor para brincar com o sistema de tração integral, com a função 4WD Sport a privilegiar o envio de força para o eixo traseiro, mas que apenas pode ser selecionada caso o DSC (controlo de estabilidade) esteja desligado ou no modo de atuação intermédio M Dynamic, que praticamente liberta a tração e mantém atenções apenas sobre o desequilíbrio da carroçaria.

Além de tudo isto, não poderiam faltar os já tradicionais botões M1 e M2 no volante, servindo de atalho direto a duas configurações totais e previamente definidas pelo condutor – ou seja, com preferências sobre a direção, o amortecimento, DSC, motor, caixa de velocidades e nota de escape. Há ainda o botão M Mode que dá acesso a três modos de condução previamente definidos pela BMW: Road, Sport e Track, sendo este último o mais radical e apontado só para condução em circuito.
São vários os ajustes permitidos, mas a BMW conseguiu integrá-los bem nos menus e enquanto parte da experiência de utilização do sistema multimédia, num excelente exemplo de atualização e sofisticação ergonómica, em particular em modelo que já não é propriamente recente.

Jaguar mais ‘descomplicado’
Da imagem exterior à interação enquanto desportivo, o Jaguar F-Pace SVR é todo ele menos espampanante – e apreciamos esse estilo mais singelo, como que deixando antever um lobo em pele de cordeiro! Com a última modernização, a Jaguar otimizou os canais de refrigeração para motor e sistema de travagem com novas e mais generosas grelhas, o que também contribui para uma ligeira melhoria da aerodinâmica geral do modelo. O logo SVR tem um novo visual, há novos acabamentos, equipamentos e elementos de personalização e de tecnologia.
A recente atualização da gama F-Pace muito contribuiu para a modernização do interior do SUV, em particular na adoção do sistema multimédia Pivi Pro, de excelente resolução gráfica, embora pecando ergonomicamente por estar numa posição demasiado abaixo da linha dos olhos e pelo monitor se ficar pelas 11,4’’. As aplicações em Alcantara e, muito em particular os bancos, são dos poucos elementos que realmente distinguem o SVR da restante gama, e todo o interior espelha elevados cuidados na seleção de materiais e na aplicação de uma montagem rigorosa, ao nível do rival.

À direita do pequeno comando da caixa de velocidades fica o botão rotativo e elevatório que dá acesso aos modos de condução (Eco, Comfort, Rain-Ice-Snow e Dynamic), e em que apenas o mais desportivo abre portas à personalização do estado de alma de motor, suspensão, direção e caixa de velocidades, e apenas em dois níveis (Conforto e Dinâmico). Há ainda teclas dedicadas à modulação vocal do escape e à atuação do controlo de estabilidade – neste caso, achámos demasiado discreta a informação no painel de instrumentos sobre o estado do ESP, apenas na forma de uma pequena luz amarela, quando o BMW faz questão de emitir grandes sinais de aviso (visuais e acústicas) sobre a opção do condutor.
Os bancos do Jaguar, mais arraçados de baquets face aos aparentemente mais confortáveis bancos desportivos da BMW, acabam por resultar melhor nos apoios e no enquadramento da posição do corpo com os pedais e o volante. E tirando os bancos, tudo no interior do Jaguar F-Pace parece menos desportivo... até se despertar o motor.

V8 Jaguar ‘vs.’ 6 em linha BMW
Não haverá nada tão importante num desportivo do que a personalidade conferida pela mecânica. E o V8 5 litros sobrealimentado da Jaguar (paralelamente aos V8 da Mercedes-AMG) é exímio tanto na sonoridade (e nas emoções que a mesma provoca), tanto na espontaneidade da resposta ao acelerador: capaz de manter apreciável dose de serenidade no dia-a-dia, eleva-se, depois, aos pináculos emotivos nas trocas de caixa e nas acelerações!
O troar do V8 alimenta-nos o ego e, por si só, contribuiu para uma experiência de condução a que temos a veleidade de apelidar de especial, com uma constante e imediata ligação entre os movimentos do acelerador e a resposta do motor. Segundo os dados técnicos, e relativamente ao BMW, o binário máximo até chega um pouco depois na escala de rotações (está relacionado com a tecnologia de sobrealimentação por compressor, enquanto o X4 M recorre a dois turbos), mas ao condutor chega uma sensação de superior imediatismo e de poder instantâneo.

Depois, mesmo na afinação mais radical da suspensão, o F-Pace SVR mantém-se mais confortável no trato quotidiano face aos ajustes Comfort do BMW, este sempre mais rígido nas ligações ao solo, daí resultando superior controlo dos movimentos da carroçaria e um inferior adornar em curva. Mesmo com as quase infinitas regulações eletrónicas, o BMW tem tato mais digital com a estrada relativamente a uma superior (e inesperada) pureza mecânica da direção do F-Pace SVR.
O eixo dianteiro do Jaguar adorna mais à entrada de curvas lentas, mas depois toda a carroçaria agiliza-se de forma mais harmoniosa à espera da carga no acelerador que faz a traseira deslizar ainda mais cedo que no BMW, mas de forma muito certeira e facilmente controlada, identificando-se, assim, uma muito bem conseguida afinação na distribuição de potência pelos eixos por parte do sistema de tração integral.

Ao BMW também não falta esta atitude vincadamente dinâmica, mas de menor precisão e deixando passar ao condutor uma superior sensação de peso total do conjunto – logo, resulta menos ágil – e num menos fluido rodar do eixo traseiro, devido à menor eloquência e entrega por parte do mais pequeno motor de 6 cilindros. Mesmo não deixando transparecer (porque as emoções contam...), as performances puras estão ao nível do Jaguar, o mesmo se passando com a eficácia do sistema de travagem, potentes e suficientemente resistentes em ambos para lidar com os nada desportivos lastros de SUV.
Embora de visual menos exuberante, o certo é que o Jaguar F-Pace SVR é o mais excêntrico destes SUV desportivos! O_motor V8 de maior capacidade (5 litros vs 3 litros) e de resposta imediata é fulcral quando se pedem sensações ao volante, acompanhado por uma das mais exuberantes e eloquentes notas vocais do sistema de escape desportivo. Peca por ser o modelo mais caro e de superiores custos de utilização, mas não é preciso pagar (como no X4 M) para se chegar aos 286 km/h de velocidade de ponta! O X4 M Competition é SUV_mais digital, tecnologicamente mais rico e visualmente mais carismática. Os 510 cv fazem jogo igual com os 550 cv do Jaguar, apenas perdendo na exuberância das sensações. E, dinamicamente, nem sempre ser o mais firme resulta enquanto melhor virtude para controlar um SUV desportivo.