Posicionado entre o Stonic e o Sportage, o XCeed é a proposta da Kia com o formato da moda no disputadíssimo segmento médio-inferior, constituindo importante reforço da gama Ceed, que fica a contar, assim, com quatro variantes: berlina de 5 portas, carrinha (SW), shooting brake (ProCeed) e SUV/CUV (XCeed). Pelo grande volume de vendas que se espera que represente no mercado europeu, o XCeed é modelo considerado como importantíssimo pela marca asiática, estando a versão de entrada equipada com motor 3 cilindros a gasolina de 120 cv (1.0 T-GDi), acoplado a caixa manual de seis velocidades.
Conhecemos sobejamente este motor, pelo que não fomos surpreendidos pelo seu bom desempenho. O 3 cilindros permite condução fluida e é muito bem gerido por caixa manual de 6 velocidades com escalonamento correto e cujo seletor agrada pela precisão. Elogios merece, ainda, o reduzido ruído de funcionamento deste tricilíndrico, o que, em conjunto com a muito boa insonorização do habitáculo do XCeed, proporciona viagens silenciosas, mesmo quando há necessidade de acelerar com maior vigor. Ouve-se o motor, claro, não há como não ouvir, mas não incomoda. A nota menos positiva desta unidade prende-se com o consumo. Durante o nosso teste apurámos média de 7 litros a cada 100 quilómetros, um valor que consideramos um pouco elevado, sobretudo quando o comparamos com o registo conseguido ao volante do rival de ocasião, o VW T-Roc equipado com unidade de 3 cilindros, 999 cc, 115 cv/200 Nm, igualmente acoplado a caixa manual de 6 velocidades.
Esta última é uma mecânica honesta que, não tornando o SUV da VW num foguete, confere virtudes essenciais neste tipo de automóveis: utilização fluida, silenciosa e sem necessidade de recorrer em demasia à caixa de velocidades e, muito importante, consumos contidos. Seguindo o habitual protocolo de aferição de consumos, apurámos a muito interessante média final de 6,2 l/100 km. E acreditamos que com maior cuidado é possível obter médias abaixo dos 6 litros. Vantagem do carro alemão face ao coreano neste aspeto, situação que se prolonga quando analisamos as prestações por nós aferidas. No mais utilizado registo de comparação de aceleração, o arranque 0-100 km/h, o VW impõe-se com 10,6 segundos, menos 0,5 s que o Kia, diferença que desce para 0,2 s à passagem aos 400 metros. Nas recuperações, o XCeed é mais rápido no registo 40-80 km/h em 3.ª (menos 0,2 s), mas perde em todos os outros parâmetros aferidos das retomas 60-100 km/h e 80-120 km/h. Nas velocidades máximas, quase um empate: 187 km/h para o VW, 186 km/h para o Kia.
O XCeed destaca-se pelo rolamento suave, mesmo em pisos irregulares, com amortecimento brando, mas consistente no contacto com o solo, a absorver com primor os ressaltos. Acelerando o ritmo e enfrentando percursos sinuosos, o carro coreano revela oscilações pronunciadas da carroçaria em curva, mostrando ser automóvel seguro e fácil de guiar, ainda que seja dinamicamente menos eficaz que o T-Roc, muito confortável, mas que não deixa de ser divertido de guiar, sem adorno excessivo da carroçaria em curva, além de contar com direção mais precisa e rápida.
O habitáculo do Kia é inspirado na família Ceed, com consola central mais inclinada para o lado do condutor, ecrã do sistema de infoentretenimento bem posicionado (neste nível de acabamento Tech, o mais completo, ecrã tátil de 10,25’’ e painel de instrumentação digital (12,3”) colocado à frente do volante. Os materiais utilizados são de qualidade mediana (há plásticos rijos menos bons) e os acabamentos agradam (não há flutuação nos pilares A, por exemplo, nem folgas na junção do tejadilho com o vidro dianteiro) e a construção é sólida.
No T-Roc, não gostámos do posicionamento do ecrã central na consola, que está demasiado em baixo, exigindo que se desvie o olhar da estrada para o visualizar e utilizar (embora sendo certo que não se deve fazê-lo durante a condução, mas que atire a primeira pedra quem nunca o fez) e de alguns plásticos rijos do tablier e dos painéis das portas. Contudo, a solidez da construção geral ameniza um pouco o menor cuidado na escolha de alguns plásticos, parecendo suficiente para impedir o aparecimento de ruídos parasitas com o avanço da idade. É um ponto a favor do SUV da VW, tal como o é a boa insonorização, fundamental no conforto acústico dos ocupantes.
Por referir os ocupantes, há que elogiar a oferta de espaço muito razoável em ambos os automóveis, quer à frente, quer atrás, onde cabem três adultos sem grandes apertos, sendo certo que o passageiro do meio viaja um pouco mais confortável no T-Roc, pois o carro alemão oferece mais 4 centímetros de espaço do que o coreano. Naturalmente que, em quaisquer dos dois, os ocupantes dos lugares laterais beneficiam de melhores índices de conforto, mercê da estrutura ergonómica do banco e do facto de não existir túnel da transmissão a dificultar a arrumação dos pés. Há que reforçar que XCeed e T-Roc são dois dos automóveis mais amplos da sua classe, posicionando-se neste aspeto entre o Renault Captur e o Nissan Qashqai, os campeões das respetivas categorias. O SUV da Kia oferece ainda 68 centímetros em comprimento para os ocupantes dos bancos traseiros arrumarem as pernas, mais um centímetro que o VW. Contas feitas, são números que deixam estes SUV bem posicionados numa análise mais racional/ familiar. E aí entram também as bagageiras: a do T-Roc é simplesmente uma das maiores da sua classe, com 445 litros na configuração convencional (com os cinco lugares de lotação disponíveis), sendo que o valor sobe para 1290 litros com o rebatimento dos encostos dos bancos posteriores. No Kia, o mesmo compartimento tem 426 litros (31 litros acima do Ceed, por exemplo) e 1378 litros com os bancos traseiros rebatidos.
A vitória apertada do Kia XCeed espelha o grande equilíbrio entre os automóveis a concurso, visualmente bastante diferentes, mas ambos bastante fortes em todas as vertentes analisadas, como facilmente se percebe pelos resultados parciais da tabela de pontuação. O VW tem mais bagageira e maior largura para os ocupantes dos bancos traseiros, mas a superior ergonomia do Kia e a fartura do seu nível de equipamento Tech equilibra a análise aos habitáculos. Depois, há muitas semelhanças nos desempenhos dinâmicos e nos níveis de conforto de rolamento, enquanto que no desempenho das mecânicas é o 1.0 TSI do VW que mais se destaca, tanto nas prestações, como nos consumos.