Hyundai Tucson 1.6 HEV vs Nissan Qashqai 1.5 e-Power

No eletrificar é que está o ganho

CONFRONTO

Por Paulo Sérgio Cardoso 15-07-2023 07:00

Fotos: Gonçalo Martins

Há anos que a tecnologia e-Power é já utilizada pela Nissan em modelos do mercado doméstico, mas só agora a marca nipónica a estreia na Europa, abrindo caminho a uma nova espécie de eletrificação (na verdade, preferimos apelidar de hibridização), fugindo à maioria dos padrões técnicos atualmente conhecidos e utilizados.

Na prática, no Qashqai e-Power (tal como no X-Trail) as rodas giram apenas com o impulso criado pelo motor elétrico, daí a Nissan o chamar de um... elétrico. Mas um elétrico que prescinde de (cara e pesada) bateria de grande capacidade/dimensões e dos carregamentos à tomada, havendo um motor 1.5 turbo de três cilindros sob o capot a funcionar meramente enquanto gerador – e a precisar de ser alimentado a gasolina. Não havendo ligação física do motor térmico às rodas, o trabalho do 1.5 turbo é convertido em eletricidade, diretamente canalizada para alimentar o motor elétrico, e uma parte que será acumulada numa pequena bateria de 2,1 kWh (qual híbrido auto recarregável), servindo para criar uma curta autonomia elétrica que dispensa o funcionamento do motor a gasolina em situações de arranque ou na realização de manobras a baixa velocidade, por exemplo.

Se alheado das tecnologias em questão, o condutor poucas diferenças práticas irá notar entre a condução do Qashqai e-Power e a de um híbrido convencional auto recarregável como o Hyundai Tucson HEV(ou seja, também sem ligações externas à rede elétrica), em que ambos arrancam quase sempre em modo puramente elétrico, seguindo-se, metros depois, o acionar do motor a combustão e o auto carregamento da bateria através do aproveitamento da energia libertada nas desacelerações e travagens. Mas enquanto no Nissan a potência máxima (190 cv) diz respeito apenas ao motor elétrico, os 230 cv anunciados pela Hyundai resultam da combinação do trabalho da unidade elétrica com o motor 1.6 turbo a gasolina, ambos motrizes, atuando a só ou combinados.

Ainda assim existem diferenças práticas, com o Qashqai e-Power a apresentar uma superior ligeireza rolante e uma quase total ausência de vibrações na direção, experiência de condução realmente mais próxima à de um 100% elétrico, mas sem aquela resposta impulsiva e imediata ao acelerador. O motor 1.5 a gasolina, embora apenas gerador, sobe de regime de forma bastante linear face à pressão exercida no acelerador e o seu ruído é discreto, mesmo em autoestrada. Outra vantagem da tecnologia e-Power (mas não demasiado evidente face ao Tucson HEV): o consumo médio de gasolina poderá ficar a baixo da barreira dos 6 l/100 km.

O interior do Qashqai e-Power apresenta algumas diferenças face à restante gama a gasolina, caso da alavanca da caixa de velocidades e a presença dos botões EV e e-Pedal: enquanto o primeiro permite forçar o andamento sem ligar o motor/gerador a gasolina (assim haja reserva de energia na pequena bateria), o segundo eleva os níveis de travagem regenerativa, permitindo uma condução quase sem recurso ao pedal de travão – mas será sempre necessário travar para uma imobilização total do veículo, abaixo dos 10 km/h.

A Hyundai não somou tais funções práticas ao seu Tucson híbrido e o comando da caixa através de botões nem sempre é o mais funcional, também por existirem hiatos após a seleção. Por outro lado, o Hyundai acrescenta patilhas no volante para comando sequencial da transmissão automática de 6 velocidades, o que permite criar uma superior interação e maior controlo da viatura em algumas situações. Mais potente, resultado da junção da força do motor elétrico e térmico, não espanta que o Tucson rubrique maior capacidade de aceleração, quando necessário, sabendo manter os consumos regrados, particularmente em percursos urbanos, onde o motor 1.6 turbo a gasolina passa muito tempo desligado. Em semelhantes condições de utilização, o SUV coreano rubricou médias de 6,5 l/100 km, ou seja, cerca de 0,5 litros acima do esquema e-Power do Qashqai – esperávamos que o Nissan pudesse ser um pouco mais poupado.

Existindo diferenças na condução, existem muitas mais ainda entre Qashqai e Tucson enquanto SUV! Ligeiramente maior por fora, o Hyundai reverte essa vantagem para a liberdade de movimentos permitida no habitáculo, mais largo e comprido, e também com a bagageira maior, onde sob o piso principal existe alçapão com diversas zonas compartimentadas, acrescido da possibilidade do rebatimento tripartido das costas do banco traseiro – no Nissan, a mala é um pouco mais pequena face às versões ‘não e-Power’, mas a capacidade continua a cumprir com o esperado.  Ainda no Nissan, os bancos estão colocados num plano inferior, o que facilita as entradas e saídas do habitáculo, à frente ou atrás. O Hyundai Tucson marca pontos na versatilidade e no bem-estar, proporcionando a regulação do ângulo das costas, atrás.

A imagem exterior do Tucson, em particular os efeitos criados pelos elementos de iluminação, é bem mais impactante do que a do interior. Embora de construção muito robusta, a ergonomia não atinge o grau de modernidade e o sentido prático do Qashqai, caso do quadrante digital do painel de instrumentos (os elementos mais pequenos tornam mais difícil realizar uma rápida consulta informativa) e o monitor tátil do sistema multimédia surge numa posição mais baixa, obrigando a desviar mais o olhar da estrada face ao Nissan. O japonês soma ainda ecrã com grafismo de excelente qualidade, em particular quando apresenta as múltiplas vistas da câmara de 360º, não esquecendo a presença de um sempre prático botão rotativo para ajustar o som.

Nas versões em análise, o Nissan leva enorme vantagem no equipamento de série, reforçado pela presença de tejadilho panorâmico, revestimentos em pele de acabamento e efeito exclusivo, jantes de 20’’ (que estão ligadas à presença de eixo traseiro multibraços nesta versão Tekna+, ao invés do eixo de torção que liga as rodas traseiras nas restantes versões), volante aquecido, grande e prático head up display e sistema de som Bose (pelo que esperávamos melhor qualidade sonora). Não se pode dizer que falte algo de essencial ao Tucson Vanguard, apenas que não atinge o nível de requinte do Qashqai Tekna+, que ainda propõe maior número de ajudas eletrónicas à condução.

O Hyundai perpetua a superior robustez da construção com ligações ao solo igualmente mais sólidas e reações mais consistentes (de direção e suspensão), com contidos movimentos laterais da carroçaria, em curva. O Qashqai resulta um pouco mais confortável e fácil de conduzir, com direção leve, muitas ajudas à condução e sistema multimédia mais atual e funcional.

Fruto da propulsão ficar apenas a cargo do motor elétrico (porque o motor a gasolina atua só como gerador) a tecnologia e-Power da Nissan permite sensações de condução mais aproximadas à suavidade e ao silêncio experimentados em veículos puramente elétricos. Mas são poucas as vantagens em termos de consumo face a modelos com tecnologia híbrida convencional, como o Hyundai Tucson HEV, que é até mais potente e expedito a acelerar. Mesmo não sendo tão ricamente equipado (mas justamente dotado), o Hyundai Tucson é mais barato, destaca-se pelo interior mais amplo e versátil e ainda pela alargada garantia geral.

Preços (julho 2023):

Hyundai Tucson HEV Vanguard - 45.150 €

Nissan Qashqasi e-Power Tekna+ - 50.150 €

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Ficha Técnica

Características

HYUNDAI TUCSON

1.6 HEV

NISSAN QASHQAI

1.5 e-Power

Motor térmico
Arquitetura 4 cilindros em linha 3 cilindros em linha (gerador)
Capacidade 1598 cc 1498 cc
Alimentação Injeção direta, Turbo, Intercooler Inj. direta, Turbo, Intercooler
Distribuição 2 a.c.c./16V 2 a.c.c./12V
Potência 180 cv/5500 rpm 154 cv
Binário 265 Nm/1500-4500 rpm -
Motor elétrico
Tipo - -
Potência 230 cv 190 cv
Binário 264 Nm 330 Nm
Bateria Iões de lítio Iões de lítio
Capacidade da bateria 1,5 kWh 2,1 kWh
Módulo Híbrido
Potência 230 cv Dianteira
Binário 350 Nm Automática de variação contínua
Transmissão
Tração Dianteira Dianteira
Caixa de velocidades Automática de 6 vel. Automática de variação contínua
Chassis
Suspensão F Ind. McPherson Ind. McPherson
Suspensão T Ind. Multibraços Ind. multibraços
Travões F/T Discos ventilados/Discos Discos ventilados/Discos
Direção/Diâmetro de viragem Elétrica/10,9 m Elétrica/11,1 m
Dimensões e Capacidades
Compr./Largura/Altura 4,500/1,865/1,650 m 4,425/1,848/1,625 m
Distância entre eixos 2,68 m 2,665 m
Mala 616-1795 litros 479 litros
Depósito de combustível 52 litros 55 litros
Pneus F 7.5jx19-235/50 R19 7jx20-235/45 R20
Pneus T 7.5jx19-235/50 R19 7jx20-235/45 R20
Peso 1564 kg 1687 kg
Relação peso/potência 6,8 kg/cv 8,9 kg/cv
Prestações e consumos oficiais
Vel. máxima 193 km/h 170 km/h
Acel. 0-100 km/h 8 s 7,9 s
Consumo médio 5,7 l/100 km 5,4 l/100 km
Emissões de CO2 130 g/km 122 g/km
Garantias/Manutenção
Mecânica 7 anos sem limite de km 3 anos sem limite de km
Pintura/Corrosão 3/12 anos 3/12 anos
Intervalos entre revisões 20000 km 30000 km
Imposto de circulação (IUC) 144,05 € 144,05 €

Medições

HYUNDAI

Acelerações
0-50 km/h 3 s
0-100 / 130 km/h 7,5 / 11,7 s
0-400 / 0-1000 m 15,4 / 27,9 s s
Recuperações
40-80 km/h (D) 3,2 s
60-100 km/h (D) 3,9 s
80-120 km/h (D) 4,7 s
Travagem
100-0/50-0km/h 34,5/8,8 m
Consumos
Consumo médio 6,5 l/100km
Autonomia 800 km

Medições

NISSAN

Acelerações
0-50 km/h 3,7 s
0-100 / 130 km/h 8,2 / 12,8 s
0-400 / 0-1000 m 16,2 / 29,2 s
Recuperações
40-80 km/h (D) 3,5 s
60-100 km/h (D) 3,9 s
80-120 km/h (D) 5,1 s
Travagem
100-0/50-0km/h 36,7/9,2 m
Consumos
Consumo médio 5,9 l/100km
Autonomia 932 km