Os tempos estão a mudar depressa e a indústria está a acelerar a transição para a mobilidade elétrica. De facto, essa transformação parece ser irreversível e a própria Tesla também terá culpas no cartório, logo seguida pelas marcas tradicionais e, certamente, pelas mais prósperas. Menos previsível (ou não) é talvez a frenética aposta em automóveis tão luxuosos, tão grandes e tão extravagantes, a que se juntam mecânicas de exceção, neste caso com valores de potência de fazer corar alguns superdesportivos.
É óbvio que a aristocracia premium exige diferenciação, mas, nestes casos, quase se ultrapassam limites sensatos, tendo em conta os valores das potências e a vertigem das acelerações, assim como os das recuperações e dos resultados dinâmicos. Quase... metafísico! Essa perceção é entendida na condução do Model X Plaid (1020 cv) e também na do iX M60 (619 cv), os quais se podem tornar nuns autênticos foguetões, tendo em conta as acelerações admitidas, quase desafiantes das leis da Física, surpreendendo até os mais céticos.

No Model X Plaid quando se ativa o modo Drag Strip (tipo Launch-Control, em que a frente afunda e se prepara a posição de chita), o arranque é tão brutal que é mesmo difícil não retirar de imediato (ou aliviar) o pé do acelerador, não sem antes experimentar o arremesso violentíssimo do corpo, das mãos, dos braços e até da mente para diante, com o painel de instrumentação (à frente do volante Yoke, tipo manche) a projetar efeitos de luzes psicadélicas, como se se estivesse noutra dimensão.
A experiência é de tal ordem que dá vontade de repetir, só para confirmar as sensações, voltando a acontecer o inevitável, ou seja, sendo muito difícil prosseguir sem afrouxar ou abrandar. É mesmo de outra galáxia! Os números são objetivos: 2,7 segundos até 100 km/h e, ainda mais especial, todas as recuperações principais abaixo dos 2 s (ver ficha).

Essa proeza é admitida a partir do recurso a três motores independentes: um deles na dianteira (na transversal, de 427 cv) e outros dois na traseira (420 cv cada), alimentados por um pack de baterias de 100 kW, estas instaladas ao longo do piso. Para o mais potente SUV alguma vez construído, a Tesla otimizou a aerodinâmica (0,24 Cd), equipando-o com suspensão pneumática, vetorização do binário, travões carbocerâmicos e pastilhas com maior capacidade térmica. A versão Plaid em teste acrescenta ainda as especiais jantes Turbine de 22’’ com pneus Continental Sport Contact 6 (285/35 atrás, 265/35 à frente), opção por 5950 €. Os requisitos técnicos estão de acordo com as exigências e, mesmo no modo chita (o felino mais rápido do mundo...), não há sustos na dinâmica, com atitudes previsíveis e seguras, inclusive nas travagens, apesar das reações tão rápidas. O volante Yoke acentua o vanguardismo do cockpit – e a sensação de se estar a voar... –, mas não é prático nas manobras de estacionamento e nas viragens nas rotundas e cruzamentos. Se o hábito faz o monge, este não é um dos casos!
Todos os controlos são feitos no tablet de bordo (17’’), mesmo os mais simples, e há muita informação de bordo e do veículo, incluindo acesso a jogos, a filmes e a entretenimento variado. Sim, a emissão de puns com vários sons ainda lá está na caixa das brincadeiras. Coisas da Tesla!

A suspensão pneumática pode ser alterada (Conforto, Auto, Desportivo e Avançado), assim como a aceleração (Relaxado, Desportivo, Xadrez) e o modo da direção (Conforto, Normal e Desportivo), adaptando-se a condução à medida do que se deseja. O consumo é variável, sendo possível apontar médias entre 20,7 e 24,8 kWh/100 km, ainda assim inferiores às das do BMW, este com valores a partir de 22,7 kWh/100 km, por vezes com registos usuais entre 26 e 30 kWh/100 km.
As autonomias não diferem muito – cerca de 460 km no BMW e 490 km no Tesla –, com a regeneração de energia mais favorável no SUV de 1020 cv, admitindo este recargas superiores até 250 kW, enquanto no iX o limite é de 195 kW. Apesar do maior peso (quase 2,7 toneladas) deste último (e só as baterias de 111 kW atingem cerca de 600 kg), esse lastro não se perceciona na condução, o que é incrível. O SUV da divisão M garante prestações excecionais e acelerações ímpares (com Launch-control), conjugando isso com um notável conforto e maior suavidade em estrada (Pirelli PZero 275/40 R22), aspetos com avaliação acima da do oponente.

A eficácia do chassis é elevada, assim como a precisão de movimentos (e da direção), ainda para mais num automóvel desse tamanho, recorrendo a rodas traseiras direcionais (maior estabilidade e mais facilidade a manobrar) e a suspensão pneumática (autonivelante), sendo elogiável a agilidade e a travagem.
Nos dois casos, a ação dos propulsores é silenciosa, mas o ruído de estrada é mais notado no Model X, em especial no mau piso, com o casulo do iX mais isolado/insonorizado e a ser menos dado a vibrações estruturais, aí sim com o Tesla uns furos abaixo.

A imagem diferenciada, os equipamentos (série/opção), o interior de luxo e alguns aspetos mais funcionais são outras qualidades do SUV alemão, apesar do Model X elevar a reputação através desta versão Plaid tão especial, a qual mantém as portas traseiras Falcon Wings. Como se isso lhe desse asas para outros voos neste eletrizante mundo novo.
Venha o diabo e escolha! É mesmo assim. A tão proclamada excelência tecnológica dos tempos modernos transborda, por inteiro, nestes SUV eletrizantes, ambos encaixados numa espécie de nova aristocracia ligada à corrente, contando com muito conforto, luxo e enormes prestações. O Model X Plaid é, inclusive, o SUV mais potente (1020 cv) e rápido da atualidade, estatuto que lhe dá um grau de maior exclusividade, a par da fortíssima dinâmica. No entanto, a mais-valia do iX M60 noutros domínios coloca-o uns pozinhos à frente do oponente na avaliação global.