A tentativa da Tesla de democratizar o automóvel elétrico de longa autonomia nos grandes mercados mundiais chama-se Model 3 e é uma berlina de segmento médio, de 4,7 metros redondos de comprimento, posicionada abaixo do Model S e do Model X, os outros dois modelos de volume do fabricante norte-americano liderado por Elon Musk, medindo menos 28 cm do que o primeiro, igualmente uma berlina de quatro portas, e 36 cm do que o SUV.
Todavia, como a competitividade comercial não se mede em centímetros, mas em euros, comparado aos seus congéneres da Tesla, o Model 3 tem no preço o seu superlativo de inferioridade, e o que é mais relevante, aproximando-o dos valores de aquisição dos modelos nas respetivas versões mais populares da categoria (não concorrentes diretos, porque ainda não os há exclusivamente elétricos) de marcas premium, como Audi A4, BMW Série 3 e Mercedes-Benz Classe C. O Tesla mais acessível custa cerca de 70.000 euros, acrescentando-se a pintura que é sempre paga à parte, e prescindindo da mordomia (por enquanto, dispensável) da condução autónoma (Autopilot) que chega a encarecer o veículo quase 10.000 €. Considerando a superior economia de utilização decorrente da energia consumida (elétrica vs. combustíveis fósseis), a rentabilidade do Model 3 já leva a fazer contas.
Mas isso se os elementos de ponderação entre o americano e os alemães – enquanto o sueco Volvo S60 não der as caras no Velho Continente – forem tão somente os financeiros, porque implicando-se o quase sempre prevalente fator emocional, a história já é outra – e nem se ouse pensar que seria imediatamente desfavorável ao Tesla. Quiçá, o contrário. Pelo menos a atentar pelos primeiros indicadores de recetividade do Model 3 na Europa Ocidental. Em fevereiro, no mês de estreia, o elétrico entrou diretamente para a liderança do segmento, não apenas dos EV, como também para o das berlinas médias (todas as motorizações), batendo os supracitados germânicos e estarrecendo os analistas de mercado. Segundo estes, a um modelo novo são necessários geralmente quatro a cinco meses para chegar ao topo da classe.
Por certo, não terá sido a rentabilidade (pelo menos, só) a seduzir mais consumidores do que os ditos poderes instalados, a maioria com coração térmico. E excluindo desde logo o fator estético e a imagem de marca (nunca negligenciáveis, sempre valorizáveis), são sedutores e abundantes os demais fatores que pesaram para o lado do Model 3. De chofre, a natureza da motorização. Diz-se natureza, porque a eletrificação do automóvel também tem muito de conceptual, de uma certa maneira de estar na vida. Mas são, acima de tudo, o rendimento e as performances esmagadores dos motores (porque são dois, um por cada eixo, num total de 480 cv) e a autonomia que a bateria de elevada capacidade (com capacidade máxima de 75 kWh percorrem-se pouco menos de 400 km, confirmados!) que mais apaixonam. Por último, mas não menos importante, também agrada a disponibilidade pelo fabricante de uma rede exclusiva de supercarregadores (em Portugal, para já apenas cinco, num total de 44 postos) que são bastante inferiores aos tempos médios de abastecimento de EV atuais: 30 minutos para carregar 270 km de autonomia.
As prestações do Model 3 são, reforce-se, esmagadoras, corando de vergonha muitos superdesportivos com aceleração 0-100 km/h em 3,5 segundos (3,7 segundos medidos). Mas não só: pressionar a fundo o pedal da direita leva a berlina a disparar de 40 a 80 km/h em vertiginosos 1,4 segundos. Num ápice, bastando tão-só 1,7 segundos para, numa via mais rápida, passar de 80 a 120 km/h e abreviar a duração de uma ultrapassagem. E deixa-se à imaginação as sensações de percorrer 1000 metros, a fundo, após o arranque deste autêntico relâmpago.
Contudo, não serão apenas estes os argumentos que têm movido consumidores para a frente dos seus computadores e ao sítio onde se vendem Tesla – na Internet. Precisamente a procura da sofisticação, da modernidade tecnológica, de que transborda o Model 3 (e os demais modelos da marca). Este, por ser o mais compacto, não irradia a mesma luminosidade no interior que se vivencia no Model S e principalmente do Model X, o SUV. Mas é de todos o mais minimalista, reduzindo todos os comandos físicos (botões e afins) à ínfima expressão. No tablier e consola não existem e apenas as portas os dispõem – um dos quais suprime os manípulos; o outro é o ainda insubstituível comando dos vidros. A lógica de supressão vai ao ponto de eliminar os reguladores convencionais dos retrovisores e do volante, forçando a fazê-lo primeiro com toque no ecrã gigante de 15 polegadas que centraliza tudo (tudo!) em prol da digitalização e depois o ajuste nos dois únicos botões no volante. Nem sempre, como neste exemplo, que não é isolado, o culto do vanguardismo e do design favorece a ergonomia. Exceção (também exemplar) é supressão (mais uma) das grelhas de ventilação (limpando as superfícies do painel de bordo), escondendo as saídas numa reentrância do tablier e remetendo o controlo do fluxo de ar para comando tátil no ecrã central.
No resto, o ambiente é harmonioso, respirando-se sofisticação – como deverá sê-lo para marcar a diferença num automóvel que pretende (e promove ao seu proprietário a pretensão de) ser diferente –, mas em que se critica a qualidade medíocre de alguns materiais, montagem e acabamento, que deslustram a imagem de produto premium. Encontram-se, como é comum, em áreas fora do campo visual (e tátil), mas, por mais que o patrão Elon Musk queira, não se conseguem escamotear.
Num plano mais condizente com as exigências do segmento (e neste domínio, ainda mais pressionado pelo rigor dos modelos alemães), está a habitabilidade e o conforto, beneficiando do amplo espaço para as pernas e de altura nos bancos posteriores (nos dianteiros, idem), apenas encontra constrangimentos na largura ao nível dos ombros.