A origem da expressão popular «meter uma lança em África», sinónimo de vencer uma grande dificuldade, encontra-se em frase atribuída a D. Nuno Álvares Pereira, de 1425, quando os portugueses protegiam Ceuta dos ataques dos mouros, então empenhadíssimos na reconquista da cidade que perderam em 1415. Adaptando-a ao mercado automóvel, o segmento médio (D) é território tradicional das marcas alemãs com posicionamento premium. Todavia, tratando-se de categoria que vale vendas (e dinheiro!), regularmente, é atacada por outros fabricantes… A Volvo tenta-o outra vez com a geração nova do S60, que analisámos na versão de topo T5, equipada com motor de 4 cilindros e 2 litros a gasolina, com 250 cv.
O S60, na 3.ª geração, assenta na Scalable Product Architecture (SPA), plataforma estreada em 2014, no XC90. A berlina de 4 portas com 4,76 m de comprimento e 2,782 m entre eixos concorre com Audi A4, BMW Série 3 e Mercedes Classe C, três referências premium obrigatórias. Teoricamente, é automóvel mais capaz de rivalizar com os alemães do que Alfa Romeo Giulia, Peugeot 508 e Renault Talisman, mas é preciso dissecá-la para confirmarmos se possui as qualidades reivindicadas pelos suecos.
Primeira nota: na versão R-Design, chassis desportivo. Traduzindo: a suspensão tem molas e amortecedores mais firmes e não reguláveis (existe só com a tecnologia Four-C, indisponível na modelo novo da Volvo).
Comparada com a berlina que substitui, apresentada em 2010 e atualizada em 2013, o S60 III é (muito) mais automóvel. O crescimento das dimensões exteriores percebe-se no interior, no progresso das cotas de habitabilidade, sobretudo nos bancos de trás, com aumento importante da liberdade de movimentos em comprimento e largura. E a capacidade da bagageira também progrediu, de 380 litros para 442. A apresentação enche o olho. Globalmente, acabamentos e ergonomia excecionais, embora a concentração de funções em ecrã vertical no centro do painel de bordo possa originar distração, se pretendermos selecionar programa do menu principal. O condutor instala-se de forma confortável no comando da ação, sentado em banco com desenho desportivo, apoios de qualidade e regulações elétricas.
Mas, também no S60, reverso da medalha. Contrastando com a atenção ao detalhe na construção, fora do alcance da nossa vista, na metade inferior do painel de bordo, por exemplo, encontramos materiais de qualidade mediana ou sofrível, mal que este Volvo partilha com outros modelos, incluindo os três elementos da família 90 da marca escandinava e os três alvos alemães! Em contrapartida, no equipamento, berlina no topo da categoria, principalmente no capítulo dos apoios eletrónicos à condução. De série, manutenção na faixa de rodagem e alerta de colisão frontal com reconhecimento de ciclistas, peões e animais de grande porte – o sistema inclui função de travagem de emergência. Entre os extras, IntelliSafe Pro (1796 €) com adaptação/regulação ativa da velocidade e controlo dos ângulos mortos dos retrovisores exteriores.
Dinamicamente, Volvo S60 competente, mas pouco excitante. A suspensão desportiva integrada no pacote R Design, combinada com as jantes de 19’’ e os pneus 235/40, de baixo perfil (584 €), penaliza (muito) mais o conforto de rolamento do que beneficia o comportamento, circulando-se sobre estradas com superfícies irregulares, devido à falta de capacidade do amortecimento na filtragem do piso. Compensa-o a precisão na condução, mesmo se a direção da berlina com tração dianteira é muito menos comunicativa do que esperávamos.
No T5, mecânica de 4 cilindros e 2 litros com injeção direta e sobrealimentação a cargo de turbocompressor… O motor é mais progressivo do que reativo ao pedal do acelerador, devido ao escalonamento da caixa automática de 8 velocidades, que privilegia a moderação no consumo – durante este teste, média de 9,3 l/100 km. Estranhamente, apresentando-se com pacote desportivo R Design, a marca sueca remete as patilhas no volante para o comando sequencial da função manual para a tabela de extras (135 €).
O funcionamento da caixa e do motor combina com o chassis. O S60 conduz-se melhor de forma relaxada que depressa (até no modo de ação mais desportivo, Dynamic, ativado no Drive Mode, comando instalado na consola entre os bancos dianteiros). Para acelerar o ritmo na condução, kick-down obrigatório. Engrenando-se a relação correta, o Volvo ganha velocidade mais rapidamente.
A imagem do S60, mais desportiva com o acabamento R Design, engana(-nos)! Esta berlina é confortável e rápida, mas não rivaliza com as referências da categoria, todas alemãs. Privilegiando-se uma condução relaxada, Volvo competente… Procurando-se dinâmica e reações desportivas, existem automóveis mais entusiasmantes. No R Design, conforto de rolamento penalizado sem benefício( s) direto(s) no comportamento.