Não faz qualquer sentido comparar a inédita variante Citycarver do Audi A1 com as propostas tecnologicamente avançadíssimas allroad que a marca alemã comercializa dos modelos A4 e A6. Isto porque as diferenças entre esta versão mais aventureira do citadino, face à proposta normal, resumem-se a 40 mm a mais na altura ao solo, uma solução que garante, segundo Audi, melhor acessibilidade e visibilidade, e a outros argumentos para arriscar caminhos menos académicos do que aqueles habitualmente percorridos, em condições normais, pelos citadinos. A Audi fala em «reforçar as capacidades offroad» – achamos excessivo, mas não levamos a mal: é o marketing a falar.
Ora, o referido aumento da altura ao solo é conseguido com a ajuda da suspensão (35 mm) e das rodas de maior diâmetro (mais 5 mm), sendo que os outros elementos que transformam o A1 num (pseudo) crossover da marca dos anéis são a grelha singleframe octogonal de grandes dimensões com padrão em favos e acabamento em preto mate, a curta distância das rodas às extremidades do automóvel, as vias mais largas, as jantes de 18 polegadas (custam 1735 €) e ainda a proteção inferior dianteira com acabamento em aço inoxidável, as entradas de ar sob o capot e as proteções nas cavas das rodas e nas embaladeiras.
De resto, é um A1 como outro qualquer, com capacidade para transportar cinco pessoas (atrás, o lugar central é desconfortável) e bagageira com 335 litros de capacidade, que pode crescer até 1090 litros com o rebatimento dos encostos dos bancos traseiros.
De referir que, no Citycarver, o painel de instrumentos de série é digital e tem 10,25’’, mas a unidade que testámos tinha opcional Audi virtual cockpit (180 €), que acrescenta a possibilidade de alterar os ambientes de exibição da informação. O sistema MMI, de série, é exibido em ecrã tátil de 8,8’’ posicionado na consola central e é bastante simples de utilizar, apesar de o seu posicionamento ser demasiado em baixo, fazendo com que o condutor tenha que desviar demasiado o olhar da estrada.
Negativa consideramos ainda a escolha dos plásticos que compõem o interior, solução que diminui em muito o impacto premium que se espera de um automóvel com o emblema dos quatro anéis na grelha. A construção, por outro lado, é rigorosa. Não podemos deixar de referir, ainda, a pobreza do equipamento de série, sendo pagos alguns elementos que são já obrigatórios.
Por baixo do capot deste A1 Citycarver 30 TFSI encontramos motor de 3 cilindros de 1 litro e 116 cv, acoplado, nesta unidade, à transmissão S Tronic de dupla embraiagem e sete velocidades. O casamento entre motor e caixa funciona bastante bem e permite condução fluida e sem esforço e com ruído bastante moderado. O carro que guiámos contava com o sistema Audi drive select (integrado no pacote Dynamic), que permite personalização dos modos de condução (são quatro, Efficiency, Auto, Dynamic e Individual) e dispunha, ainda, de atuador de som para sonoridade mais purista e suspensão com controlo eletrónico do amortecimento. No modo Efficiency, o mais económico, conseguem-se obter consumos particularmente comedidos, mas por outro lado nota-se alguma falta de alma na mecânica. Gostámos particularmente do modo Auto, que oferece um bom compromisso entre prestações e consumos. No final do nosso teste, apurámos média de 6 litros a cada 100 quilómetros, um valor razoável tendo em conta a boa disponibilidade deste 3 cilindros a gasolina.
Bastante elogiável é a condução desenvolta e leve do A1 Citycarver. O chassis é equilibrado e a direção, apesar de muito leve, revela-se precisa a ritmos mais fortes em zonas sinuosas. Não temos reservas em afirmar que se trata de automóvel divertido de conduzir, puxando-se bem pelos 116 cv do 1.0 TFSI. Por outro lado, a afinação algo firme da suspensão (e as jantes de 18’’) torna o citadino aventureiro demasiado sensível em mau piso (incluindo não asfaltado), prejudicando o conforto.
É mais imagem do que outra coisa qualquer. Mas essa abordagem é só uma consequência natural dos tempos que vivemos, em que a substância é desvalorizada. Contudo, há que elogiar o bom resultado estético do banho aventureiro aplicado ao A1, automóvel que convence pela condução fácil e divertida e, no caso particular da unidade testada, pela mecânica disponível e poupada, e ainda muito bem trabalhada pela caixa S Tronic. Nota final: preço muito elevado