O nome dita as aspirações. Para quem não saiba, Ariya é sinónimo de ‘raio de esperança’, o alento com que o fabricante nipónico pretende desbravar caminho com este novo SUV elétrico de 4,6 metros de comprimento, que pretende imiscuir-se entre Tesla Model Y ou VW ID.4. Mas, mais do que um mero SUV, o Ariya tem ainda aspirações de topo de gama para a marca, o que o ajuda a diferenciar-se da referida concorrência. Vejamos como.
A imagem é impactante, com volumosa carroçaria de estilo meio coupé repleta de pormenores que espelham modernidade concetual, caso dos vincos, dos efeitos criados pelas óticas LED, zonas em preto brilhante e um perfil maciço projetado pelas generosas e vincadas cavas de roda, com grandes pneus em jantes de 19’’. Assim revestido, o Ariya consegue aliar um certo formalismo e modernidade, que contribuem para fazer crer que vale mais do que custa – mesmo que os 50 mil euros não sejam propriamente uma pechincha...

Mas será abrindo portas que se respira mais dessa atmosfera nitidamente premium, com a Nissan a comprovar que é possível aliar minimalismo a bom gosto e a materiais de qualidade. Nem anteriores topos de gama (como Maxima QX ou Murano) conseguiram no seu tempo o distanciamento qualitativo e a afirmação de identidade que o Ariya hoje transporta para a gama Nissan e para este segmento. Mesmo nesta versão de acesso à gama (Advance) o tablier mistura faixa em madeira (onde estão embutidos os comandos hápticos da climatização) com zona superior em pele com costuras contraste e apontamentos acobreados, quer na lâmina transversal que passa sobre as saídas da climatização, quer nos apontamentos na zona do apoio de braços central. Aí fica instalado o comando satélite da caixa de velocidades e mais funções hápticas (ou seja, zonas de pressão que não têm perfil de botão saliente) para alterar os modos de condução (Eco, Standard e Sport), quer para ativar a função e-Pedal, que permite uma condução quase sem tocar no pedal de travão, tal o elevado nível de travagem regenerativa gerado.
A simplificação ergonómica não atrapalha as interações, até porque a Nissan soube deixar um botão físico rotativo bem no meio do tablier para que condutor ou passageiro possam ajustar o volume do sistema áudio, ladeado pelos botões dos piscas de emergência e de alteração do posto de rádio ou faixa de música. Simples! Já o computador de bordo e todas as funções ligadas à condução e ajudas eletrónicas são regulados pelos botões no volante, menos práticos...

Mesmo rebaixando o assento do condutor (ajustes elétricos de série para os cómodos bancos em tecido e pele), a posição de condução resulta sempre elevada, e o volante mais inclinado do que seria desejado. Mas as sensações de desafogo e bem-estar interior são uma constante, seja à frente ou atrás, sem incómodo de túnel central no piso. Em habitáculo de tão generosas cotas, sobrou pouco para a bagageira: os 468 litros são suficientes para uso familiar, mas ficam aquém da concorrência direta. O portão traseiro tem acionamento elétrico e o sistema ‘chave mãos-livres’ é muito prático, trancando ou destrancando por aproximação.
Condução refinada
Com vidros duplos, cavas das rodas bem isoladas, motor elétrico inaudível e suspensão de corretíssima taragem para deslizar no alcatrão, o Ariya desloca-se com a souplesse premium e os propósitos de um topo de gama. A direção é aveludada e precisa e o acelerador está bem calibrado para garantir a esperada fluidez na utilização quotidiana, sem descargas abruptas de binário elétrico ao eixo dianteiro motriz. No entanto, em piso molhado, vêm ao cimo evidentes perdas de aderência (na aceleração e na travagem), mas que também estarão relacionadas com a escolha de pneus (Bridgestone Allenza).

As rodas grandes e as massas bem distribuídas pelos eixos (52-48%) contribuem para a ótima estabilidade e para um bom equilíbrio dinâmico em curva, com movimentos decididos e precisos de toda a estrutura, tendo em conta as elevadas altura da carroçaria e distância ao solo, ao melhor estilo SUV.
Com esta bateria de 63 kWh, o Ariya dificilmente fará mais de 330 km com uma carga completa, em particular em autoestrada, em que os consumos se aproximam dos 20 kWh/100 km, pelo que só numa convivência quase totalmente urbana poderá almejar-se os 400 km anunciados com uma só carga.

As informações sobre o funcionamento da parte elétrica são vastas e úteis, embora falte a possibilidade de definir uma percentagem máxima de carregamento (por exemplo, para que quando ligado a um posto de 130 kW não se deixe ultrapassar a ideal faixa de 80% de carga, atingida em 35 minutos). O sistema multimédia, em monitor tátil de 12,3’’ em faixa contígua ao painel de instrumentos, permite compatibilidade com Amazon Alexa Auto e Google Assistant – mas ligações sem fios apenas para Apple CarPlay.
O Nissan Ariya dá nas vistas e fixa olhares por onde passa. E quem vai lá dentro sente que está a conduzir um SUV elétrico de características mais refinadas face à maioria da concorrência: combina ergonomia simplificada com ambiente cuidado e moderno, satisfatória experiência sensorial e o necessário envolvimento tecnológico e digital. A que se soma condução serena e a mordomia de farta lista de equipamentos de série e muitas ajudas à condução. Nesta versão base de gama, se o desempenho do motor elétrico de 218 cv é mais do que suficiente, o elevado peso e o volume dificilmente deixam percorrer mais de 330 km com uma carga completa.
Preço (abril 2023):
Nissan Ariya 63 kWh Evolve - 56.700 €