O interior é tão sofisticado que quase parece de uma nave espacial e, na verdade, depressa se entende que as prestações não devem estar nada longe das de um aparelho voador desse tipo. É essa a sensação logo que se entra no habitáculo, tendo em conta o tipo de materiais e forros e os inúmeros equipamentos premium, além da dimensão dos três painéis digitais (OLED) onde tudo se passa. É impossível ficar indiferente ao tamanho desses monitores, denominados Hyper Screen, com o central (12,8’’) a ocupar boa parte do tablier/consola, numa moldura que se prolonga depois para o lado do ecrã da instrumentação (12,3’’) e também para o que está à frente do passageiro, este com display individual para aceder às várias regulações de bordo e à multimédia, neste caso com sistema de som surround 3D da Burmester (opcional incluído no pack Premium, por 8350 €). No lado do passageiro, o ecrã só funciona se o lugar estiver ocupado.

Tudo foi pensado para que os ocupantes se possam sentir espaciais – perdão, especiais –, desde o conforto dos bancos (desportivos à frente, multicontorno, com massagens/ventilação) até à iluminação sofisticada e aos detalhes exclusivos da AMG. A lista dos equipamentos/conteúdos de série é completa, mas a unidade testada acrescenta alguns opcionais interessantes (ver ficha), como o tal Hyper Screen (por 8900 €), o que agrava ainda mais o preço final.
À velocidade da luz... em silêncio
A par da atmosfera de luxo, o lado dinâmico é igualmente singular, ou não se estivesse na presença de um automóvel com argumentos de peso: potência de 476 cv (350 kW) e binário máximo de 858 Nm, recorrendo a dois motores elétricos (um por cada eixo), alimentados por uma bateria de 90,6 kWh.

Já se vê o que é possível de esperar perante estes números. De facto, nas acelerações principais, o arremesso é brutal (cerca de 4 segundos até 100 km/h) e as recuperações de velocidade são executadas num autêntico sopro (1,6 segundos entre 40 e 80 km/h), existindo o modo Race Start (do tipo Launch Control) para arranques radicais.
O desafio à gravidade é de tal ordem que se poderá tornar viciante abusar do acelerador, ainda para mais no quase radical programa Sport+, ao mesmo tempo que se escuta o mais intenso dos três níveis de som criados pela AMG, como se se tratasse de uma nave espacial.

O desempenho é tão forte que quase se poderá esquecer o elevado peso, aí com os travões a terem um papel fundamental e os pneus Michelin Pilot Sport (295/30 atrás, 265/35 à frente) a suportarem os exageros. Nas curvas sinuosas não se elimina a sensação de se guiar um automóvel com uma estrutura acima das duas toneladas e meia (2525 kg), mas o EQE resolve bem as transferências de massas, não sendo difícil tatear os seus movimentos, apesar da tão grande rapidez, e controlar as travagens. A fundo, regista tão só 36,6 metros para se imobilizar totalmente a partir dos 100 km/h. E esse é um dado comparável a um desportivo.
Se as prestações são (mesmo) estonteantes, apesar da velocidade máxima limitada a 210 km/h, é depois fácil elogiar o extremo conforto, quer pela tal experiência sensorial no habitáculo, quer pela insonorização e baixo ruído. Esses aspetos são ampliados pela suspensão pneumática com função adaptativa, o que faz deste EQE elétrico uma espécie de... planador furtivo e silencioso.

Acresce o facto de se contar com rodas traseiras direcionais, o que facilita a estabilidade nas ditas correrias e nas viragens em locais apertados, tendo em conta que se está na presença de uma berlina com cinco metros de comprimento e distância entre eixos acima dos três metros. Estas medidas, já agora, também contribuem para o excelente espaço existente na 2.ª fila, inclusive na distância para as pernas até aos encostos da frente e na amplitude até ao teto.
Para se alargar a autonomia é possível recorrer às patilhas do volante, recuperando-se de forma mais intensa a energia das travagens/desacelerações, uma vez que o consumo é sensível, raramente abaixo dos 20 kWh/100 km, optando-se pelo programa Comfort, em vez dos Sport/Sport+. De forma moderada, a autonomia atingirá 450-480 km, abaixo do valor oficial, ainda assim sem gerar ansiedade. Mas tudo depende...

O interior deste novo EQE com a chancela da AMG é encantatório (o adjetivo é mesmo esse!), graças ao ambiente gráfico, ao enorme tamanho dos ecrãs táteis digitais e à verdadeira atmosfera de luxo. No centro do tablier, o hyper screen propõe uma interação sem paralelo (não há mesmo igual), contando-se com elevada resolução e inúmeras informações, complementado por um display adicional (em separado, OLED) no lado do passageiro, que também surpreende.
O ambiente de nave espacial é ainda dado pela iluminação e pelo som da propulsão, mais intenso à medida que se aumenta o frenesim da condução. E o desassossego das prestações faz-nos entrar num mundo à parte, quase mágico.
Preço (abril 2023)
Mercedes-AMG EQE 43 4Matic - 110.200 €