Serão as alterações introduzidas suficientes para que o peculiar ‘retro SUV’ coreano alcance agora os prometidos 500 km de autonomia?
Lançado em 2021, o Ioniq 5 é modelo que ainda hoje continua a virar cabeças. A conceção cubista não deixará ninguém indiferente, com a Hyundai a conseguir alicerçar a diferença da submarca elétrica Ioniq, numa estratégia que estendeu já a um também diferente de tudo e de todos Ioniq 6, brevemente em Portugal.
Da angulosa e volumosa carroçaria com 4,64 m de comprimento, 1,89 m de largura e 1,6 m de altura, sobressaem ainda as rodas de grandes dimensões (pneus Michelin Pilot Primacy 4 na medida 235/55 R19), a assinatura luminosa dianteira e os pontos de luz ‘quadrados’ que surgem na faixa negra a toda a largura da traseira.
Assente em plataforma própria do grupo Hyundai dedicada a veículos totalmente elétricos, os 3 metros de distância entre eixos contribuem para que o Ioniq 5 se alargue no habitáculo e na facilidade dos acessos, seja por intermédio da generosa amplitude de abertura de portas, seja pela altura ideal do piso em relação à estrada. Atrás ou à frente, a sensação de espaço e de bem-estar é uma constante, sendo possível ajustar o ângulo das costas dos bancos traseiros (60/40) e fazê-los deslizar longitudinalmente em igual proporção – embora o avanço dos mesmo crie fosso entre as costas e o piso da mala. A Hyundai anuncia 527 litros de capacidade para a bagageira (na prática, parece ter um pouco menos, talvez devido à reduzida altura) com útil abertura elétrica do portão traseiro e uma menos versátil chapeleira com enrolador. Volumetria complementada por compartimento de 57 litros na dianteira (sob o capot), ideal para acondicionar os cabos de carregamento.
Elétrico mais competente
Sem mexidas no design ou de outro género que identifique alterações, o certo é que o Ioniq 5 apresenta-se agora numa versão tecnicamente revista, focada na amplificação das suas qualidades enquanto automóvel elétrico. Na base da atualização está o aumento da capacidade da bateria dos anteriores 72,6 kWh para os 77,4 kWh, o que permite à Hyundai anunciar agora 507 km de autonomia (antigamente o anúncio era de 481 km). Além de chegar mais longe, poderá fazê-lo… um pouco mais depressa com o ganho de 10 cv no motor elétrico.
Paralelamente a estas novidades, a Hyundai refere a otimização da gestão da temperatura da bateria e o pré-condicionamento da mesma para a redução dos tempos de carga (através de melhor aproveitamento da potência dos postos rápidos e super-rápidos, onde aceita ser carregado até 350 kW, feito quase único neste segmento), o que também irá contribuir para uma superior longevidade da bateria. Ficou apenas por adotar a bomba de calor.
Evoluções estão bem à vista
As nossas medições comprovam uma evolução nas performances puras, em linha do que seria de esperar do acréscimo de apenas 10 cv. No volante fica o botão para selecionar os modos de condução com efeito prático evidente na forma como a potência chega até às rodas traseiras motrizes em resposta ao acelerador, e ficam também as patilhas que dão acesso aos (quatro) níveis de travagem regenerativa – o mais forte permite condução quase sem recurso ao pedal do travão.
Numa utilização em autoestrada aferimos médias aproximadas a 20 kWh/100 km, o que ainda assim permitiu esticar a autonomia até aos 360 km, valor muito aceitável para o segmento, com a versatilidade acrescida do veículo estar preparado para carregamentos até 350 kW. Depois de esgotada a primeira carga, procedemos ao carregamento num posto de 50 kW, onde apurámos a manutenção da corrente máxima até aos 90% da carga – neste ponto, baixou para 30 kW, indicando faltarem 18 minutos para a carga máxima. O Ioniq 5 permite, ainda, que se defina um limite máximo da carga (o ideal será não ultrapassar os 80%), o que contribui para a proteção da bateria.
Encarando ritmos e estradas do quotidiano, aferimos consumo médio a rondar os 15,5 kWh/100 km e uma autonomia real de 460 km, que poderá estender-se até perto dos 500 km se o uso for quase sempre no coração das cidades e aproveitando o modo mais forte da travagem regenerativa.
Condução descontraída e confortável
A natureza descontraída do Ioniq 5 e as atenções focadas no conforto e na extrema suavidade do amortecimento são complementadas pela excelente insonorização (vidros largos ajudam a deixar os ruídos do lado de fora), o que permite retirar o melhor proveito do silêncio inerente à motorização elétrica. A suspensão é de tal forma macia que o Hyundai parece pairar sobre nuvens em autoestrada – num certo estilo Citroën… – sempre bem controlado e apoiado pelas rodas de grandes dimensões. O certo é que deixa transportar essa macieza para quando é preciso curvar, sentindo-se o adornar da carroçaria e a entrada do controlo de tração quando se tenta acelerar mais cedo do que o previsto, como que a lembrar ao condutor que o Ioniq 5 foi feito para ser levado e saboreado com espírito de serenidade.
A apresentação do habitáculo é minimalista e a decoração é em tons suaves com profusão de materiais reciclados, com qualidade e robustez de construção acima de suspeita. O painel de instrumentos fica a cargo de monitor a cores de 12’’, acompanhado, à direita, de equipamento multimédia também em ecrã de 12”, que trabalha com CarPlay e Android Auto, embora necessitando de ligação por cabo. Quase despido de botões, até o comando da caixa de velocidades está instalado na coluna de direção. O head-up display de grandes dimensões com tecnologia de realidade aumentada é bem mais útil do que a projeção da imagem dos retrovisores laterais no painel de instrumentos assim que se aciona ‘os piscas’.
Garantia geral de 7 anos sem limite de quilómetros, incluindo igual período de assistência em viagem e de check-ups anuais gratuitos (a bateria está coberta por 8 anos ou 160.000 km) são argumentos que reforçam a vertente racional deste distinto crossover elétrico.