Impossível deixar de olhar quando passa. E nem precisava desta sedutora combinação de cores, entre a da carroçaria e a dupla tonalidade que combina o sumptuoso interior: este descapotável precisa apenas de si e do brasão inglês.
À terceira geração do Continental GT, a Bentley combinou como nunca os distintos valores da marca (como, por exemplo, assentes no fabrico manual dos seus produtos) com um avançado estádio de desenvolvimento tecnológico, quer nos serviços de infoentretenimento, quer na dinâmica, quer ainda na composição dos elementos de conforto.
A excelência parece não ter conhecido limites ao investimento – o que também se paga no preço final... – com a carroçaria descapotável (C) a redobrar a elegância do Coupé com a integração da nova capota têxtil (sete cores à disposição) a garantir elegante (e quase inaudível) movimentação durante os 19 segundos que demora a abrir e fechar, culminando numa insonorização e estanquecidade tais que, quando colocada, fazem esquecer a conceção cabrio.
O recurso a suspensão pneumática, barras estabilizadoras ativas e a uma estrutura totalmente nova e mais rígida, bem como a presença de diversos elementos em alumínio, ajuda a demarcar a agora excelência dinâmica, ajudando a fazer esquecer as quase 2,5 toneladas do conjunto. Porque, lá à frente, também reside uma anafada peça de arte chamada W12 biturbo, de 6 litros de capacidade, a trabalhar em sintonia com a caixa automática (dupla embraiagem) de 8 velocidades e sistema de tração integral, para domínio dos 635 cv e 900 Nm. No final, são os programas de condução que ajudam a definir os modos de ação, embora o Bentley não conheça outros que não sejam os refinados e confortáveis, mesmo na assinatura mais desportiva. Aí, o ligeiro endurecimento da suspensão acaba por ter superior cumplicidade na melhor contenção dos movimentos laterais em curva, permitindo a exploração da potência (quase) ao nível de um superdesportivo, rubricado com menos de 4 segundos de 0 a 100 km/h e quilómetro de arranque abaixo dos... 22 segundos! O que verdadeiramente impressiona é que tudo isto se passa sem brusquidão ou repentes, sempre em toada de souplesse, com direção, acelerador e caixa de velocidades em perfeita sintonia. Nem falta a nota de escape, indo do pianíssimo borbulhar do W12 em Comfort ao intenso troar a cada levantar de pé do acelerador, em Sport. A travagem foi outro dos fatores que impressionou, em particular pela potência no ataque ao pedal. Ou seja, (já) nada existe de barco na dinâmica deste luxuoso descapotável britânico.
Propositadamente, deixamos o interior para o fim. Porque cada vez que lá se entra descobre-se um pormenor, desvenda-se um apontamento de requinte e saboreia-se a arte de combinar o antigo com o moderno, agora com forte tónica na digitalização, caso do painel de instrumentos (que sabe manter o grafismo de outros tempos) que pode espelhar o sistema de navegação, head-up display, visão noturna ou monitor central tátil de 12,3’’ de controlo do infoentretenimento e de várias funções de bordo. Apenas os comandos da climatização mantêm a independência, na consola central, entre bancos, onde também surgem os botões de aquecimento e ventilação dos bancos, a que se junta o de fluxo de ar dirigido à zona da nuca. As autênticas poltronas dianteiras desta unidade (bancos Comfort) incluem todos os ajustes elétricos e ainda vários programas de massagem. Depois, o programa de personalização da Mulliner permite somar elementos como o acolchoado da pele que forra bancos e portas com o logótipo cosido nos encostos de cabeça, ou ainda a apontamentos exclusivos como as tampas do depósito de combustível e do reservatório do óleo.
Mais: agora, o Continental já pode acolher ajudas à condução como cruise control ativo e assistente de faixa, reconhecimento de sinais de trânsito e câmara de auxílio ao estacionamento. Abrindo portas, o símbolo da marca surge projetado no chão, a amarelo, iluminando caminho nas redondezas. Lá dentro, o ambiente de enorme descontração pode ser embalado pelo sistema de som de 16 colunas desenvolvido pelos especialistas da B&O, enquanto o Continental GT C desbrava quilómetros em autoestrada, palco onde a marca afirma ser possível ultrapassar os... 330 km/h! Até custa creditar que esta obra de arte sobre rodas possa estalar o verniz a velocidades tão elevadas, mas é apenas mais um reflexo da nobreza tecnológica agora encerrado num dos mais carismáticos automóveis de sempre.
E, depois deste, o que se pode desejar? Não é fácil encontrar algo que supere este Bentley, e não apenas pela exclusividade, intimamente ligada ao preço. Na verdade, este descapotável alia beleza à presença, cuidados ao conforto, requinte ao bom-gosto, bem-estar à tecnologia e até performance à dinâmica(!). É uma peça de arte e não apenas um automóvel, em que se consegue saborear cada quilómetro na estrada, seja em comunhão com a cuidada insonorização e um quase total alheamento ao mundo exterior, seja na forma estonteante com que o motor enche os turbos e descarrega toda a sua fúria (e banda sonora!) em ritmos avassaladores, dignos de um superdesportivo. Nesta terceira geração, o Continental GT C pode mesmo ser o melhor descapotável do Mundo...