A Alfa Romeo tem 111 anos de história e… «sobrevivência» dependente da capacidade de tornar-se mais relevante no mapa da indústria automóvel, o que pressupõe corrida à eletrificação capaz de garantir-lhe crescimentos significativos na produção e nas vendas. Italianos tentam-no, outra vez, com o Tonale. Conduzimos a versão 1.5 Hybrid 160 TCT.
A fusão da italo-americana Fiat Chrysler Automobiles (FCA) com a francesa PSA, que também já era proprietária da alemã Opel, não originou só a criação da Stellantis, consórcio industrial liderado pelo português Carlos Tavares que detém 16 marcas (!) e o título de 6.º maior fabricante de automóveis do Mundo... No caso da Alfa Romeo, também proporciona uma oportunidade nova de renascimento, a condição para a sobrevivência de emblema que tem história importante, mas coleciona décadas de insucessos e prejuízos. E a possibilidade de reencontro com o êxito está dependente quer do lançamento de produtos mais bem-adaptados às exigências dos consumidores, quer da implementação de uma estratégia que acelere a transição do motor térmico para o elétrico.

Sob a liderança de Jean-Philippe Imparato, ex-diretor da Peugeot, a Alfa Romeo inicia a tentativa de reconquista do mercado automóvel com o Tonale, que desenvolveu com a BMW como alvo de referência e a obsessão pela qualidade como bandeira. Se a primeira expressa a ambição de reposicionamento comercial (e margens de lucro maiores), a segunda pressupõe investimento massivo para otimização de todas as áreas relevantes no setor, da produção à experiência do cliente. Sem surpresa, o arranque do programa faz-se com carro que tem o formato da moda em todos os mercados de referência, Sport Utility Vehicle (SUV), somando-se-lhe as dimensões compactas para competir no segmento C, categoria que vale 2,5 a 3 milhões de vendas por ano – apenas na Europa!
Mecânica Diesel e versões MHEV e PHEV a gasolina
A importância do Tonale que a Alfa Romeo produz três anos depois da exibição de protótipo com o mesmo nome em Genebra-2019, percebe-se, também, no facto de este SUV ser o primeiro r rautomóvel novo apresentado pela marca italiana desde o Giulia e o Stelvio, dois carros que partilham plataforma (Giorgio) que admite tração traseira e quatro rodas motrizes. Apresentado como concorrente direto de Audi Q3, BMW Série 1, Lexus UX, Mercedes GLA, Range Rover Evoque e Volvo X40 na faixa premium do segmento C, o Alfa Romeo é baseado em variante muito otimizada da arquitetura Small Wide dos Jeep Compass e Renegade, que não é nova.

Na Alfa Romeo, há um antes e um depois do Tonale, o primeiro automóvel eletrificado da marca transalpina. Na gama do SUV compacto com 4,53 m de comprimento (menos 16 cm do que o Stelvio), à mecânica 1.6 Diesel (130 cv), somam-se dois 1.5 a gasolina (130 cv e 160 cv), ambos com sistemas de sobrealimentação (na unidade mais potente, a turbina é de geometria variável) e tecnologia híbrida de 48V (a máquina elétrica com 15kW/20 cv e 135 Nm integrada na caixa automática de 7 velocidades, de embraiagem dupla, apoia ou substitui o motor térmico, dependendo da condução, para diminuir os consumos e os gases de escape). Independentemente da motorização, a tração é só às rodas dianteiras.
Até do final do ano, outra estreia na marca italiana: híbrido com recarregamento externo da bateria (iões de lítio) com 15,5 kWh de capacidade, o suficiente para 60 km de condução em modo elétrico (80 em cidade)! Na versão de topo do SUV, com 275 cv, mecânica 1.3 MultiAir a gasolina, máquina elétrica com 100 kW e caixa automática de 6 velocidades. A arquitetura do sistema PHEV assegura a disponibilidade permanente de quatro rodas motrizes. Para o Plug-In Hybrid Q4, promessa de 0 a 100 km/h em 6,2 s, registo (muito) abaixo dos 8,8 s reivindicados para o modelo com 160 cv que testámos durante o primeiro contacto dinâmico com o automóvel novo, na região do Lago Como.
A Alfa Romeo não tem plano para a produção de versão mais desportiva (Quadrifoglio) nem de qualquer Tonale sem motor de combustão interna (BEV) que rivalize com o BMW iX1 com estreia comercial planeada para o outono.

Digitalização soma-se à eletrificação
O Tonale tem mala com 500 litros de capacidade e interior que permite liberdade de movimentos até nos bancos traseiros, duas características que sublinham a orientação mais familiar do primeiro Alfa Romeo neutro em termos de género. Esta caracterização explica-se: historicamente, a marca privilegiou a dinâmica e a imagem desportivas, seduzindo muitos mais homens do que mulheres. Consequentemente, sucesso do SUV compacto dependente de mudança de perceção! A qualidade da montagem e dos materiais também mais do que satisfaz, mas os revestimentos não são todos soberbos, sobretudo nas zonas menos expostas ao olhar e, por isso, conclui-se que existem automóveis melhores na categoria.
Mais-valias são o potencial de personalização do SUV compacto – atualmente, 72% dos automóveis produzem-se à medida, depois da ordem de compra, contra somente 38% no início de 2021, decisão que exigiu mudanças nos processos de industrialização – e a digitalização: no painel com desenho desportivo, ecrãs para a instrumentação (12,3’’) e o sistema multimédia (10,25’’); o primeiro tem três apresentações gráficas (Evolved, Relax ou Heritage); o segundo, comando tátil, sistema operativo Android, conetividade 4G, atualizações remotas de software, assistente ativado por voz (Amazon Alexa), mais Android Auto e Apple CarPlay. Os níveis de equipamento Super e ti combinam-se com os pacotes Sprint (Super) e Veloce (ti) que beneficiam a apresentação (exterior e interior) e os recursos de um automóvel com tecnologias para Nível 2 de condução autónoma.

Chassis ‘apoia’ dinâmica desportiva
O Tonale não assenta numa arquitetura técnica de ponta do consórcio Stellantis, mas a equipa de engenheiros da Alfa Romeo pode orgulhar-se do trabalho que realizou neste SUV compacto, sobretudo no chassis. A suspensão é do tipo McPherson nos dois eixos, o amortecimento da Koni permite adaptação rápida da firmeza à condução e ao piso. E o desempenho da suspensão muda em função do modo ativado no comando DNA, que tem três programas (Normal, Advanced Efficiency e Dynamic) – resposta Comfort (mais suave com os dois primeiros) e Sport com o terceiro. No topo de gama Veloce, sistema adaptativo facilita o controlo dos movimentos da carroçaria e suaviza a filtragem das irregularidades do piso, na configuração mais desportiva. A Brembo assina os travões e a Pirelli os pneus (jantes de 17’’ a 20’’).
Dinamicamente, entre as qualidades do Tonale, agilidade em curva, com subviragem limitada, estabilidade do eixo traseiro e direção precisa e rápida a contribuírem para uma primeira impressão positiva. Já o sistema híbrido impressionou-nos menos. Integrado na caixa automática de 7 velocidades, de embraiagem dupla, o módulo MHEV (48V) mantém as funções elétricas ativas, o que não acontece na maioria dos sistemas semelhantes, mas o apoio ao condutor e os benefícios na condução são limitados, exceto no Veloce, com programa manual-sequencial de passagem das relações ativado em patilhas no volante que aumenta a velocidade de resposta da motorização aos movimentos no acelerador.
Provavelmente, o inimigo número 1 da implementação bem-sucedida do plano de relançamento da Alfa Romeo é a história (e o peso da…). O fabricante italiano polariza opiniões: muitos elogiam-no e recordam-no pela produção de carros com ADN e imagem desportivos, outros tantos criticam-no e lembram-no pelos registos de problemas de qualidade. O Tonale satisfaz as expetativas dos primeiros, se forem adeptos do formato SUV, e talvez silencie os segundos, pela combinação de qualidades que apresenta.