Na parisiense DS celebra-se a estreia do 3 Crossback E-Tense, automóvel que é o pioneiro entre os crossovers compactos equipados com propulsão 100% elétrica. Não é o primeiro do género entre automóveis de segmento B com o dito posicionamento premium, porque o i3 iniciou o processo de eletrificação da BMW em 2013, há sete anos.
No fabricante alemão há, desde então, programa em marcha que pressupõe 25 viaturas eletrificadas até 2025, incluindo 12 modelos movidos apenas por motores elétricos alimentados por bateria. Este processo acelerou muito recentemente, com a chamada a ação da Mini, mas arrancou com o i3, então o único assumidamente premium na categoria.
Beneficiando de constantes atualizações, o elétrico da BMW mantém tecnicamente o essencial do que conhecemos desde o original, com habitáculo de 2+2 lugares com favorecimento dos ocupantes dos lugares dianteiros em detrimento dos de trás, mala com capacidade apenas mediana, motor traseiro e tração às rodas posteriores. Mas a capacidade efetiva das suas baterias duplicou de iniciais 60 Ah para agora 120 Ah. Significa que, atualmente, mesmo na versão ‘s’, a mais potente e energeticamente mais gastadora, o BMW i3 pode com relativa facilidade ultrapassar a fasquia dos 250 km.
As baterias de alta voltagem passaram para 42,2 kWh, o que resulta também em mais tempo necessário para os carregamentos: para alcançar os 80% de carga serão necessárias mais de 15 horas de ligação a uma tomada doméstica (a 2,4 kWh) ou, então, 45 minutos se conectado a uma estação de carregamento rápido, a 50 kW.
Não difere muito da solução utilizada pela DS neste E-Tense. O DS 3 Crossback elétrico tem pack de baterias de iões de lítio de 50 kWh de capacidade que aguenta carregamentos rápidos a 100 kW, sendo precisos 30 minutos para reabastecer 80%. Por outro lado, conte-se com 7h30m para carregamento total na wallbox de 7,4 kW, ou 5h se ligado a 11 kW, tendo a marca apostado forte na eficiência do sistema de refrigeração das baterias para que seja retirada a máxima eficácia dos carregamentos.
No crossover, o pack de baterias faz movimentar motor de 136 cv que entrega a potência às rodas dianteiras, sendo utilizável através de três modos de condução – Eco, Normal e Sport –, sendo que o fabricante anuncia autonomia máxima na ordem dos 320 km em ciclo WLTP, em modo Eco, com potência limitada a 82 cv. Numa utilização mista, aproveitando as características do percurso para regenerar energia em andamento, em modo B (desaceleração de 1,2 m/s2; o modo normal desacelera 0,5 m/s2, estando a potência limitada a 109 cv), percorremos 300 quilómetros antes de ser necessário colocar a bateria a carregar. O i3s não vai tão longe, pode percorrer cerca de 270 km com uma só carga.
Mas o elétrico alemão tem 184 cv à disposição, mais 35 kW/48 cv que o compacto da francesa DS. Suplemento energético que, sem ser exagerado, explica pulo importante nas performances, com o i3s a destacar-se em todas as acelerações e retomas de velocidade no nosso protocolo de medições, e mais 10 km/h de velocidade máxima (limitada eletronicamente a 160 km/h). Para a celeridade de cada arranque contribuiu igualmente o binário máximo de 270 Nm (+20 Nm do que no carro francês) imediatamente disponível.
Há, contudo, um problema, que está diretamente relacionado com esta energia imensa, que se torna altamente viciante: resistir ao chamamento de automóvel que acelera disparado como uma bala aos comandos do pedal da direita, ainda para mais sem prejuízo do meio ambiente… Na verdade, são dois problemas. O i3s revela ainda algumas limitações em curva, sobretudo a velocidade mais elevada. Não que assuste, longe disso, mas não oferece aquele à-vontade que caracteriza habitualmente os BMW. Mesmo se, para melhor disfarçar centro de gravidade que é bastante elevado, nesta versão, suspensão rebaixada em 10 mm, com amortecedores e molas exclusivos, barras estabilizadoras mais rígidas e via traseira alargada em 40 mm, para mais estabilidade, segurança e boa agilidade, sobretudo em trajetos urbanos onde beneficia do ótimo diâmetro de viragem (9,8 metros).
O DS3 Crossback, não sendo elétrico de raiz, parece-nos claramente automóvel mais equilibrado entre aquilo que promete e o que efetivamente consegue oferecer. Excluindo a designação e-Tense na carroçaria, nada a distingue das demais propostas da gama. O que também significa mala maior e lotação para cinco ocupantes, quando o BMW tem habitáculo só para quatro. No DS até o comando da caixa de velocidades posicionado no prolongamento da consola central (onde há seletor para escolher os modos de condução) é igual às outras versões do 3 Crossback com caixa automática. E o mesmo no que toca à qualidade dos materiais utilizados, à qualidade de construção e ainda à ergonomia ou à facilidade de condução, sem truques. Exatamente como os primos com motor a combustão, o crossover elétrico da DS move-se com agilidade em percursos urbanos e mantém rolamento contido da carroçaria em curva, demonstrando ainda amortecimento competente, com mais conforto e uma capacidade para processar as irregularidades do piso que o elétrico da BMW não tem...
Mesmo se o conceito de veículo elétrico nem deveria estar focado em autonomia de larga escala, porque é no trânsito citadino e no uso quotidiano que a tecnologia faz mais sentido, ao percorrer 300 km com uma carga de bateria, o DS fica, obviamente, melhor na fotografia do que o BMW i3s (270 km), sobretudo num momento em que o abastecimento ainda é problemático. Depois, oferecendo maior lotação a bordo, bagageira bastante maior e compromisso mais equilibrado entre conforto de rolamento e eficácia do comportamento, o 3 Crossback E-Tense estreia-se a vencer em confrontos na AUTO FOCO. O preço inferior é empurrão decisivo para a vitória.