Muitas vezes, também no automóvel, os modelos mais populares não são os melhores. O Golf comanda as vendas na Europa, o Leon lidera ‘apenas’ na… Seat! Tratando-se de compactos que partilham arquitetura técnica, mecânicas e tecnologias, justificar-se-á a vantagem da berlina compacta da VW? Colocámo-los à prova e comparámo-los.

O segmento dos compactos, subtraindo os Sport Utility Vehicles (SUV) e contabilizando apenas as berlinas, perdeu muita popularidade no mercado europeu, independentemente de contar com o automóvel mais bem-sucedido comercialmente na região: o VW Golf. Na geração nova, a oitava na série iniciada em 1974, progressos em todos os capítulos relevantes, combinando-se uma evolução no desenho da carroçaria com uma revolução na apresentação do interior, onde a digitalização do painel de bordo eliminou muitos (demasiados?!) comandos físicos. A Seat também seguiu esta fórmula para o Leon 4, que concorre na mesma categoria e tem arquitetura técnica (plataforma MQB Evo), motores e tecnologias iguais. Aqui, frente a frente, versões com o 1.5 eTSI, mecânica apoiada por sistema elétrico de 48V. No modelo alemão, com o nível de equipamento Life, privilegiam-se o conforto e a imagem. No adversário, com o pacote FR, piscadela de olho aos adeptos de desportivos.
Recuperando muito do que escrevemos no primeiro teste à versão 2.0 TDI da geração nova do VW, que é válido para o 1.5 TSI com sistema MHEV, visualmente, o Golf 8 diferencia-se do antecessor, com a modernização exterior sublinhada pelo recurso a LED para todas as funções da iluminação. No habitáculo, com o Innovision Cockpit, apresentação inédita e muito vanguardista para o painel, que combina instrumentação configurável à medida das preferências do condutor e info-entretenimento com monitor de 10’’. O software admite comandos táteis e vocais e reúne todas as funções relevantes do automóvel. A VW empenhou-se na conceção de menus intuitivos, mas o sistema exige-nos período longo de adaptação – e carro parado para selecionarmos os diversos programas em segurança (por exemplo, para desativar o controlo de tração, entre menus e submenus, impõe-se-nos uma mão cheia de movimentos!).

O painel de instrumentos tem 10,25’’ e concentra toda a informação fundamental para a condução, que pode complementar- se, pela primeira vez no Golf, com o projetor de dados no para-brisas (Head-Up Display). No painel, abaixo do monitor tátil de sistema de info-entretenimento que admite integração de smartphones Android Auto e Apple CarPlay, quatro comandos garantem acessos diretos a funções importantes: programa de apoio ao parqueamento, assistências eletrónicas à condução, climatização ou Perfis de Condução. Entre as muitas funcionalidades, apresentação de indicações para promoção da eficiência – para aumento da economia, por exemplo, recomenda-nos o encerramento dos vidros, a troca de relação de caixa e a diminuição da pressão exercida no pedal do acelerador.
Também no Leon, devido à estratégia da digitalização, interior minimalista! No automóvel mais conectado na história da Seat, possibilidade de acesso remoto a muitas funções de bordo, através de aplicação para telemóvel (Seat Connect App). No habitáculo, o Digital Cockpit inclui dois monitores digitais, reconfiguráveis, para instrumentação e info-entretenimento. O primeiro tem 10,25’’, o segundo 10’’. Também neste caso, o recurso à fórmula háptica e a otimização do reconhecimento vocal eliminaram controlos físicos, tornando a experiência de utilização gratificante. Neste caso, adaptação mais rápida, devido à organização intuitiva dos conteúdos.

O investimento em tanta tecnologia obrigou a compromissos. Por exemplo, para garantia da competitividade comercial do Golf, a VW reduziu a qualidade de alguns revestimentos, encontrando- -se plásticos duros no habitáculo, maioritariamente em zonas fora do alcance da vista (painéis das portas e pilares centrais, por exemplo). A habitabilidade também piora, encontrando-se menos espaço para pernas nos bancos de trás. Porém, trata-se de pormenor. Na categoria, não há (muito...) melhor, considerando-se até os modelos com posicionamento premium. A capacidade da mala mantém- -se nos 380 litros, mas o rebatimento fácil dos encostos dos bancos traseiros cria um compartimento com 1237 litros. No Seat, o aumento das dimensões tem influência positiva tanto na habitabilidade como no volume da bagageira, mas a vantagem do segundo sobre o primeiro, no espaço a bordo, é marginal.
Dinamicamente, o Golf não surpreende. O compacto é muitíssimo equilibrado, combinando agilidade, estabilidade com conforto e suavidade. Nestes pontos, o Leon diferencia-se. O pacote FR garante-nos experiência mais desportiva, com melhor comportamento, devido a suspensão com amortecimento variável que reduz os movimentos da carroçaria em curva, nas transferências de massa. No entanto, comparado com o VW, automóvel mais sensível às irregularidades do piso, característica perturbadora do bem-estar a bordo.
Nos dois automóveis, sistemas de modos de condução: no VW, quatro programas à disposição (Eco, Comfort, Sport e Individual). No Seat, cinco (Eco, Comfort, Normal, Sport e Individual). Selecionando-os, os dois compactos tornam-se mais ou menos reativos. Estes sistemas regulam os funcionamentos de suspensões (contando- se com amortecimento variável), das direções, dos reguladores de velocidade ativos e equipamentos de climatização. E fazem-no de forma combinada ou individualmente, de acordo com as preferências de cada condutor.

Estes sistemas também afetam os desempenhos dos 1.5 turbo a gasolina, nomeadamente as respostas dos motores de 4 cilindros aos movimentos nos aceleradores. Estas mecânicas, modernas, têm tecnologias de desativação de dois cilindros (assim, menos consumos e gases de escape), que combinam com sistemas mild-hybrid (MHEV), com máquina elétrica apoiada por uma rede complementar de 48V, que assiste o motor térmico durante as acelerações e as retomas de velocidade (a intervenção nota-se mais no primeiro caso do que no segundo...), utilizando a energia recuperada nas desacelerações e travagens (bateria de iões de lítio arrumada sob o banco dianteiro do passageiro, nos dois casos). Estas mecânicas, muito bem apoiadas por caixas automáticas de 7 velocidades e embraiagem dupla (DSG) com modos manuais ativados de forma sequencial em patilhas no volante, programas que melhoram a experiência na condução, são muito refinadas e suaves. Somam- -lhes mais duas qualidades: consumos moderados e performances convincentes. Finalmente, Golf e Leon dispõem de muitas assistências à condução, mas lamenta- se a integração da maioria dos recursos eletrónicos nas listas de equipamentos opcionais.
O Golf é tão importante para a VW como o Leon para a Seat. Os compactos partilham a generalidade dos componentes e conteúdos técnicos e tecnológicos, mas têm imagens diferenciadas – e diferenciadoras. Sem surpresa, considerando os posicionamentos das marcas, o modelo alemão é mais conservador do que o espanhol, que tem a vantagem importante de propor mais (equipamento) por menos (preço). Em contrapartida, como tem orientação desportiva que convida a acelerar, o segundo consome mais gasolina e é menos suave.