Já não é vulgar a existência de automóveis deste tipo, mas a Hyundai preparou bem o i20 N para quem gosta de conduzir. Como se os tempos mudassem e certas vontades permanecessem.
O i20 N T-GDI faz lembrar alguns pequenos desportivos doutras épocas e isso é visível assim que se coloca as mãos no volante ou se escuta o som rouco e grave do escape. Ao pressionar o acelerador entende-se o espírito desportivo e as reações enérgicas do motor de 1.6 litros – de 4 cilindros, com injeção direta e turbo. A rapidez é ainda mais percetível quando se configura o modo N, algo que se traduz depois na possibilidade máxima de 230 km/h e na aceleração até 100 km/h cumprida em 6,6 segundos (6,2 s é o valor anunciado).

Há motivos para estas prestações: o peso não é muito elevado (1265 kg) e a potência atinge 204 cv entre as 5500 e as 6000 rpm, ao mesmo tempo que o binário máximo de 304 Nm está disponível a partir das 2000 e até às 4000 rpm. Se se ultrapassar o patamar das 5000 rpm, o painel do conta-rotações ilumina-se de forma intermitente, piscando a vermelho. É o coração a bater mais forte.
Mas se a alma é forte, o corpo não é nada fraco, o que se percebe ao nível da conceção e no ímpeto que o i20 N alcança na estrada, inclusive nos traçados sinuosos. Com dimensões compactas (4,07 metros de comprimento) e menos 10 mm na distância ao solo do que os outros i20, a estrutura conta com ajustes específicos, incluindo barra estabilizadora à frente mais grossa, redesenho das suspensões, outras molas e amortecedores, além de reforço nas ligações ao solo com pneus Pirelli PZero 215/40 R18, a que se junta sistema de travagem com discos ventilados à frente (320 mm).
É um ótimo exemplo do que pode ser um pequeno (e bom) desportivo, graças ao chassis, à elevada capacidade de tração e à precisão da direção, esta última com uma desmultiplicação diferente, mais direta e com menos voltas do volante de topo a topo. Tudo no ponto, sem exageros, sendo possível um inegável prazer de condução, mesmo se se abusar um pouco.
Nada de sustos
A potência é elevada mas não assusta e o mesmo se passa com a atitude dinâmica, até porque o equilíbrio verificado não contraria a agilidade de movimentos. Nas curvas em apoio pode verificar-se ligeira tendência de sobreviragem mas, de seguida, a frente encaixa-se na trajetória definida pelo condutor com a devida aceleração e sem sobressalto. A entrega da potência no eixo da frente é ajustada por autoblocante mecânico e daí também resulta uma maior precisão. À saída das curvas e ao acelerar a frente não alarga demasiado, a que se junta uma resposta direta e sem atraso por parte da direção para manter «a linha». Ou seja, não é necessário ter uma credencial de piloto para guiar o i20 N, apesar das velocidades proibitivas que facilmente se alcançam. A transmissão manual de 6 velocidades é outro trunfo, tendo engrenamento rápido e bem ajustado ao rendimento do bloco 1.6 da nova família Gamma II. O curso do seletor é curto, firme e exato, ao passo que o botão «REV matching» permite gerir o controlo das rotações, criando um efeito de «dupla» nas reduções e a subida da rotação.

Todas as emoções são ampliadas através da configuração N (tecla no volante), a qual ativa o modo Sport+ e radicaliza todas as componentes mecânicas, desde a direção, ao motor e à caixa de velocidades. No painel de instrumentos aparece de imediato um círculo flamejante a indicar essa transição, ao mesmo tempo que o controlo eletrónico de estabilidade (ESC) também passa para modo desportivo (ESC Sport) mais permissivo. Se a estrada falasse talvez pudesse relatar o iminente desassossego, mas o que se faz com o i20 N… fica no i20 N. Vale a pena acrescentar que a travagem merece elogios, como se vê nos 33,6 metros obtidos a partir de 100 km/h (8,7 metros a 50 km/h), revelando uma boa eficácia e reações neutras, sem evasivas ou tendência de fadiga. Outro aspeto a ter em conta diz respeito ao conforto, uma vez que não há reações demasiado duras por parte do conjunto da suspensão, o que às vezes acontece neste tipo de modelos. Não é assim, nem sequer nos pisos mais irregulares, apesar da firmeza dos Pirelli PZero com jantes de 18’’.
Contrastes
Os bancos desportivos em pele e Alcantara são confortáveis e têm apoios e contornos laterais pronunciados, mas sem apertar, combinando bem com o design do volante forrado a pele e os pedais revestidos a alumínio. No ecrã da consola (10,25’’) é possível consultar o Performance Driving Data System, que engloba vários gráficos (forças G, por exemplo) e dados acerca do motor, além de cronómetro para os tempos por volta em circuito. É ainda possível selecionar nesse mesmo ecrã diversos ambientes com sons de natureza (ondas do mar e floresta viva, por exemplo), de modo a criar uma atmosfera relaxante a bordo, o que não deixa de ser curioso num modelo que parece predestinado a outras experiências sensoriais.

De modo a que o consumo não acelere demasiado é melhor optar pelos modos ECO e Normal, a partir dos quais é possível prescrever médias de 6,9 a 7,2 litros por cada 100 km, valores consentâneos com o que é anunciado e a testemunhar que um pequeno desportivo não tem que ser necessariamente muito gastador. Cada modo de condução modifica o som do escape, a assistência da direção e a entrega de potência do motor.
O preço proposto pela Hyundai é 32.000 € (30.000 € em campanha de financiamento) e o nível de equipamento de série integra sistema de navegação, chave inteligente (botão start/stop), ecrã tátil de 10,25’’, sistema Hi-Fi da Bose, vidros escurecidos, sensores de parque atrás e câmara à retaguarda. O único opcional da unidade testada é a pintura metalizada por 430 €.
Por fora, a imagem tão especial (inspirada no i20 WRC, diz a própria marca) é rematada por ponteira de escape desportiva, grupos óticos LED e jantes prateadas em liga leve de 18’’. Nos assistentes de condução destacam-se o alerta de mudança de faixa, por vezes muito interventivo na correção, o reconhecimento dos sinais de trânsito e o cruise-control ativo.
Nota muito particular para a função que sugere a ativação do modo N sempre que há curvas… mais à frente, surgindo essa indicação no visor defronte do condutor, como se se tratasse de um convite à rebeldia. Lá está, como se a estrada falasse.