Numa era em que os carros elétricos eram só montras tecnológicas para que ninguém queria olhar, já a norte-americana Tesla fazia as coisas de modo diferente. Apostava não só no poder de persuasão do conceito alternativo, como tinha também em atenção o fator emocional do automóvel: de que o belo apaixona e conquista... clientes.
O design bem-sucedido do Model S contribuiu para que, pela primeira vez, até os céticos da eletrificação tivessem passado a revelar interesse sobre este novo mundo. A berlina de cinco metros seduzia ao combinar dois estímulos fundamentais: o visual clássico, inspirador de luxo e estatuto, praticamente unânime entre pessoas que gostam de se exibir na vanguarda da tecnologia, e a propulsão elétrica, ambientalmente correta, mas que é ao mesmo tempo potenciadora de performances esmagadoras, sobretudo para um automóvel deste gabarito. Um e outro, hipervalorizados nesta novíssima versão Plaid, a mais rápida de produção em série, com a aceleração de 0 a 100 km/h em tão-só 2,1 segundos.

Selvagem inspirado na natureza
Há quatro modos de aceleração. O ‘Relaxado’ é o mais civilizado e está pensado para otimização dos consumos, a permitir percorrer cerca de 500 km entre carregamentos. O ‘Desportivo’ e o ‘Xadrez’ são os dois mais focados nas prestações e, além destes, há um programa especial para pistas de aceleração (’Drag Strip’). Ativa-se como um launch control, pisando a fundo o pedal do travão com o pé esquerdo e só depois o acelerador. Os 10 segundos seguintes são para acondicionar a bateria para que esta seja capaz de oferecer o máximo rendimento possível, até estar pronto para iniciar, já na posição chita. Além de possibilitar o aumento da potência disponível para o arranque e uma diferente gestão térmica do sistema elétrico, neste modo, o Tesla também copia a posição de ataque do felino mais rápido do mundo (a suspensão dianteira baixa para assim permitir superior motricidade naquele eixo), antes de se atirar para frente.
À pressão mais forte no pedal do lado direito, uma massa de mais de duas toneladas ganha impulso balístico, sem ruído ou alarido, simplesmente dispara, numa faísca. A potência esmagadora de 1020 cv é debitada pela conjugação de três motores elétricos (com rotores envoltos em carbono para mais de 20.000 rpm!), com a seguinte disposição: um dianteiro, que propulsiona o eixo da frente, e dois posteriores, cada um agregado a uma das rodas traseiras, o que faz deste Tesla um familiar desportivo de tração integral capaz de acelerar a mais de 300 km/h.

Poucos dos modelos concorrentes com motor de combustão superam aquela velocidade de ponta e nenhum é mais veloz de 0-100 km/h. Os que se aproximam são superdesportivos milionários, como o Bugatti Chiron (2,4 s), o Ferrari SF90 Stradalle (2,5 s) ou o Lamborghini Aventador (2,8 s). E, na categoria dos elétricos, que tem o Porsche Taycan Turbo S (761 cv), que acelera em 2,8 s, mas atinge apenas 260 km/h, melhor, só o Rimac Nevera de 2 milhões de euros (1914 cv e 1,8 s de 0 a 100 km/h).
Os preços do Model S Plaid começam nos 134.490 €, número que só não contempla meia dúzia de extras para personalização do interior e da carroçaria: a pintura (sólida, por 1850 €, e metalizada, por 2250 €), as jantes de 21” (4950 €) e mais as duas opções de cores para os revestimentos (2500 €).

Míssil apontado à referência
Confortável e muito silencioso, circulando a baixa velocidade, excitante e frenético sempre que esticamos o ritmo da condução, o Model S Plaid pode não ter a imagem desportiva do Porsche Taycan, mas tem as performances incríveis... e mais autonomia. Contudo, o carro norte-americano (produzido em Berlim, na Alemanha), conduz-se de forma muito menos dinâmica, o que não surpreenderá, considerando-se as histórias e os clientes-tipo das marcas. No Porsche Taycan Turbo S, direção ativa nas rodas posteriores, travões com discos carbocerâmicos, etc…
No Model S, os acumuladores de energia são elementos estruturais que otimizam a resistência à colisão (nos choques laterais) e beneficiam o comportamento, por garantirem repartição quase equitativa do peso e centro de gravidade muito baixo. A berlina digere bem as transferências de massa, o que permite velocidade em curva, com precisão e segurança. Mas a falta de agilidade é flagrante, pois o eixo traseiro fica a flutuar, uma reação potenciada pela suspensão pneumática (com quatro modos para o amortecimento: Conforto, Auto, Desportivo e Avançado), pois até em oscilações ligeiras se sente alguma ondulação. Claro que assim que, apontado para a saída da curva, o carro sai disparado como uma bala, mas isso não ameniza a falta de intensidade. Sensações fortes há rodos, mas não pela reatividade do chassis e muito menos pelo feedback da direção, independentemente do nível assistência: conforto, normal ou desportivo.

Terá entendido a Tesla que acelerações rápidas à imagem dos Fórmula 1 requeria volante com conceção semelhante ao destes monolugares de competição. E criou o Yoke, cortado em baixo e em cima da sua circunferência, a permitir vista desafogada para um painel de instrumentos totalmente digital de 12,3”, que complementa o ecrã central do sistema de infoentretenimento, também renovado, tendo agora 17” e todas as funcionalidades do carro, permitindo também atualizações over-the-air. Quem quiser poderá manter volante comum. Será mais prático e seguro, certamente.
Fora da urbe, a velocidades médias e altas o Yoke não representa nenhum problema, porque além da posição baixa das mãos, a resposta é natural. É nas rotundas e estacionamento e outras manobras urbanas que o volante tipo manche de avião complica. A Lexus também disponibiliza equipamento semelhante no RZ 450e, mas parte de sistema de direção, em vez de uma ligação mecânica entre o volante e o mecanismo de direção, tem uma ligação by wire, ou seja, por fios elétricos.

O benefício é o de a desmultiplicação da direção, que é normal junto ao ponto intermédio do curso giratório do volante, torna-se muitíssimo direta no restante do mesmo, proporcionando um ângulo de viragem de tão-só 150 graus, o que significa menos de um quarto de volta para cada lado. Não funciona assim no Model S.
A Tesla é uma marca especial e o Model S Plaid confirma-o a toda a linha: é único de série no mercado a oferecer mais de 1000 cv, por menos de 150.000 €; cumpre 0 a 100 km/h na casa dos 2 s como os Ferrari, os Bugatti e os Lamborghini; e soma-lhe o espaço, bagageira e o nível de conforto que só encontramos nas melhores berlinas de prestígio. Só não lhe chamem desportivo.
Preço (julho 2023)
Tesla Model S Plaid - 134.490 €