O primeiro SEAT com a plataforma elétrica MEB do Grupo VW transporta o logótipo da Cupra e fabrica-se na Alemanha, na mesma linha de montagem do ‘irmão’ ID.3, mas diferencia-se pela orientação mais desportiva expressa no desenho da carroçaria. Conduzimos a versão e-Boost (231 cv) com bateria de 58 kWh de capacidade.
A Cupra como marca não tem mais de quatro anos, mas o investimento numa gama própria de automóveis proporcionou-lhe a diferenciação de identidade na origem da reivindicação de posicionamento comercial específico, entre os fabricantes generalistas e os premium, cumprindo-se, assim, a condição para melhores níveis de rentabilidade. A história do sucesso do Formentor prova-o. Todavia, este lançamento é ainda mais importante: trata-se do primeiro EV da SEAT, se desconsiderarmos a reconversão do Mii.

Na berlina compacta Born, primeira aplicação na SEAT na plataforma elétrica estreada pelo Grupo VW no ID.3. Na MEB, bateria posicionada sob o habitáculo e o motor traseiro aciona apenas as rodas posteriores. Esta construção liberta espaço no interior, baixa o centro de gravidade e otimiza a repartição do peso pelos eixos. Os dois automóveis são produzidos em Zwickau (Alemanha), mas diferenciam-se suficientemente.
O Born, no frente a frente com o ID.3, tem imagem muito mais desportiva (vide difusor e spoiler posteriores à imagem dos compactos desportivos equipados com mecânicas a gasolina!) e interior de maior qualidade para satisfação das exigências do posicionamento comercial elitista da Cupra. Soma-se-lhe, ainda, o sistema de info-entretenimento com monitor tátil de maiores dimensões (12’’, contra 10’’ no VW) e menus e submenus melhor organizados...
No capítulo técnico, o compacto espanhol acelera mais próximo do solo (15 mm no eixo dianteiro, 10 mm no traseiro), tem direção com assistência progressiva em função da velocidade e até admite a reconfiguração do funcionamento do ESP, através da seleção do programa de condução Sport.

Para o Born com 204 cv e bateria com 58 kWh de capacidade, a Cupra anuncia mais de 400 km entre recargas. Neste primeiro contacto dinâmico, conduzimos a variante com tecnologia e-Boost, sistema que garante aumento de potência para 231 cv, mas de forma temporária. Esta intervenção no software melhora a aceleração, mas piora a autonomia – todavia, em qualquer dos casos, só muito ligeiramente!
O percurso de teste em Barcelona era (muito) menos extenso e, por isso, prova dos nove à autonomia apenas depois do lançamento em Portugal. Em contrapartida, o contacto proporcionou-nos leitura do consumo: média de 17,6 kWh/100 km, acima dos 15,5 a 16,7 homologados pela marca. A experiência de condução impressionou(-nos) positivamente. A máquina elétrica reage de forma instantânea ao acelerador, como é habitual nos EV. Se as performances não surpreendem, pela razão que explicámos, a capacidade do chassis tem de elogiar-se, por corresponder à expectativa de contribuir para sensações mais desportivas do que no ID.3.
Esta superioridade dinâmica do Born deve-se à firmeza da suspensão (a bateria pesada impõe-na) que assegura mais confiança em zonas sinuosas, lentas e rápidas, com o Cupra a reagir sempre de forma ágil e estável, com movimentos da carroçaria bem controlados. O amortecimento variável (DCC) é equipamento opcional. A direção, na precisão e no tato, também mais do que satisfaz, mas é sensível ao modo de ação (Range, Confort, Performance, Cupra e Individual). Infelizmente, não existe exceção à regra nos elétricos e o peso acima de 1700 kg (baterias representam 350 kg a 500 kg!) condiciona as qualidades desportivas de um compacto elétrico capaz de acelerar de 0 a 50 km/h em 2,9 segundos e de 0 a 100 km/h em 7,3 segundos!

As rodas de 20’’ do Born com e-Boost não beneficiam a filtragem do piso, nem a suavidade de rolamento, mas condutor e passageiro dianteiro sentam-se em bancos com desenho desportivo e apoios que beneficiam o bem-estar a bordo. Os 231 cv galopam apenas em condições de carga e temperatura pré-definidas, ativando o programa Cupra e pressionando o pedal do acelerador a fundo, independentemente do modo de condução selecionado. E o pico de potência encontra-se disponível apenas durante cerca de 30 segundos.
Finalmente, no Born (e no ID.3), existem dois modos de recuperação e regeneração de energia durante desacelerações e travagens. O que aumenta a capa- cidade de retenção ativa-se com seletor da caixa na posição B (o comando mantém-se no topo do painel da instrumentação, à direita, localização que não facilita a utilização…).
A Cupra, inteligentemente, eliminou pontos fracos do ID.3 para propor este Born capaz de rivalizar com o compacto da VW (qualidade do interior e sistema multimédia). Claro que o faz com algum impacto no preço, com a versão de 150 cv a vender-se a partir de 38.755 €, montante acima dos 36.785 € do rival com 145 cv. Nos dois automóveis, autonomias entre recargas de 424 km. No demais, promessa cumprida: este elétrico tem condução mais desportiva.